O silêncio é sepulcral e invade-nos até às entranhas. Todos sussurram como quando se sussurra no interior de uma biblioteca. Ninguém quer incomodar os 31 nomes que ali descansam.
Bacigalupo, Ballarin, Ballarin, Bongiorni, Castigliano, Fadini, Gabetto, Grava, Grezar, Loik, Maroso, Martelli, Mazzola, Menti, Operto, Ossola, Ricamonti, Subert, Civalleri, Egri Erbstein, Lievesley, Agnisetta, Cortina, Casalbore, Cavallero, Tosatti, Meroni, D’Inca, Bianciardi, Pangrazzi, Bonaiuti. Todos eles imortalizados.
Turim não esquece. Como pode esquecer? Aqueles 18 jogadores foram, em tempos, os grandes heróis da cidade. Ainda o serão, agora no coração de cada alma que nesta cidade nasce, que nesta cidade nasce Torino.
Superga é imponente. O desgastante sol apodera-se das fachadas da edificação neoclássica. Afinal, a basílica está situada no topo de um morro. Talvez tenha existido algo de poético na tragédia. A imponente Superga coloca estes 31 nomes mais perto de tocar o céu.
O monumento não é propriamente gigante em tamanho, mas a grandeza espiritual é imensurável. Rapidamente percebemos que é local de culto, paragem obrigatória para todo o visitante da cidade. Ali multiplicam-se as línguas, mas ao mesmo tempo não há barreira. Todos sabem o porquê de ali estarem, para prestar homenagem ao Grande Torino.
Há muito tempo que este espaço deixou de ser apenas do Torino e do futebol italiano. Será sempre um espaço de homenagem àquele equipazo, mas já é também um espaço do Mundo. Porque se Turim não esquece, o Mundo também faz questão de ser lembrado quando pisa este território sagrado.
O toro ali colocado serve de carimbo, com marcas que atravessam o globo. Racing Club, River Plate, Paris Saint-Germain, Manchester City. Estão lá todos. Núcleos de adeptos que começam na Polónia e acabam na Argentina. Seja autocolante ou cachecol, todos deixam marca.
A nossa chegada a Superga coincide com cerca de uma dezena de adeptos benfiquistas de saída. Lá pelo meio, acompanhado de mais dois parceiros, parece-nos ver João Noronha Lopes, antigo candidato à presidência encarnada. Tivesse a nossa viagem sido um tudo ou nada mais rápida e certamente os teríamos apanhado a prestar homenagem. Os benfiquistas sabem que não podem deixar Turim sem por ali passar.
Vamos embora. Ainda há muito para fazer antes do jogo desta noite. Como a nossa chegada coincidiu com a saída de benfiquistas, também a nossa saída coincide com a chegada de mais uma, duas, três camisolas vermelhas. Assim será o dia todo, porque Turim não esquece, mas o Benfica também não.