A décima oitava edição da Taça da Liga tem o seu pontapé inicial na terça-feira, com a estreia de um formato novo, envolvendo somente oito equipas, numa prova com cada vez menos relevância no panorama nacional. As constantes mudanças de estilo provam a pouca adesão que o troféu provoca, mas a Liga Portugal insiste na existência do mesmo.

Sejamos claros, a Taça da Liga não ‘salva’ a época de Sporting, Benfica ou FC Porto, mas é melhor acabar uma temporada com algo no palmarés do que com uma estante vazia. Para os restantes participantes, Braga, Vitória SC, Nacional da Madeira, Santa Clara e Moreirense, temos de olhar para a situação de um prisma diferente, nomeadamente no caso dos três últimos. Para estes, a conquista da Taça da Liga seria o ponto mais alto de 2024/25, especialmente numa prova de ‘mata-mata’, em que o mérito próprio é fundamental.

No ano em que atinge o troféu atinge a maioridade, a Liga Portugal não deu a hipótese de equipas de Segunda Liga e a várias de Primeira Liga de disputarem a Taça da Liga, baseando-se na meritocracia de 2023/24. Será curioso de ver qual o interesse dos aficionados numa prova que colhe frutos em Inglaterra, mas já fracassou em outros territórios.

O Braga é o atual detentor da Taça da Liga. Afastado da disputa da Primeira Liga, os bracarenses procuram a dobradinha, algo que nunca conseguiram fazer na história. Daniel Sousa começou a época, mas rapidamente António Salvador apostou em Carlos Carvalhal, que pode ver na competição algo mais, numa fase em que o plantel tem sido criticado. Uma Taça da Liga poderia funcionar como uma alavanca para o que falta da época e convencer o presidente que não terá que ir à academia dar mais ‘sermões’ aos jogadores.

Contudo, os minhotos não têm tarefa simples, já que nos quartos de final enfrentam o Vitória SC, o seu grande rival de sempre. Se na Pedreira o ambiente não é positivo, no D. Afonso Henriques a situação está bem melhor, com Rui Borges a liderar um projeto que brilha na Europa. Ainda assim, vale a pena recordar que o conjunto de Guimarães não ganha para o campeonato desde o dia 15 de setembro, precisamente quando venceu o… Braga. Não será escandaloso se o Vitória SC não consiga conquistar a Taça da Liga, mas trata-se de um histórico, e este troféu não faz parte do seu palmarés.

Há algo que liga o Braga e o Vitória SC, com os protagonistas dos parágrafos seguintes (Sporting, Benfica e FC Porto), que é a calendarização. A Taça da Liga vem trazer um maior desgaste a estas equipas, que já contam com semanas atarefadas e desafios a cada três dias, devido às competições europeias. Porém, no Minho não se luta pelo primeiro lugar e não deverá existir soberba em relação à Taça da Liga. Com os restantes, a conversa será outra.

Como é óbvio, Rúben Amorim, Bruno Lage e Rúben Amorim vão afirmar que estão concentrados em ganhar a competição e que esse é um dos objetivos da temporada. Porém, até que ponto isto é verdade? Para Sporting, Benfica e FC Porto, a Taça da Liga é o troféu menos relevante, que menos se importam de perder. É um bónus que está bem longe de ter a importância da Taça de Portugal, por exemplo.

O Sporting também quer uma dobradinha, mas é na Primeira Liga, e os jogadores com menos utilização podem beneficiar desta competição. Elementos como Iván Fresneda, Jeremiah St. Juste ou Conrad Harder poderão ter a chance de somar minutos e crescer dentro de campo, além de haver uma abertura para a chamada de jovens da equipa B como João Simões, Lucas Taibo ou Bruno Ramos. Para os leões, esta seria a verdadeira valência do troféu, tratando o mesmo com respeito, mas com um objetivo claro.

Já o Benfica quiçá não possa olhar para a Taça da Liga com tanto desdém. Os encarnados contam com sete conquistas e são os máximos vencedores da competição. Contudo, o último foi erguido em 2016. Bruno Lage sucedeu a Roger Schmidt e tem aqui uma oportunidade de conquistar um título que não possui, além de dar algum alento a um plantel, que ele se encontra focado em recuperar. O português, depois de ter lançado João Félix para o estrelato, pode ter aqui a chance (tal como Amorim e Vítor Bruno) de promover algum diamante que queria delapidar ao longo de 2024/25. A pressão e o contexto são favoráveis a tal. Para Rui Costa, uma Taça da Liga também ‘vinha mesmo a calhar’. Os adeptos não estão satisfeitos e a conquista de algo acalmaria toda a situação, nem que fosse por alguns dias. Além disto, Roger Schmidt deixaria de ser o último treinador a ter conquistado algo pelo Benfica, colocando o alemão cada vez mais no passado.

O FC Porto está em um começo de era, em termos institucionais. Pinto da Costa virou escritor e André Villas-Boas passou a dirigir. O antigo treinador conta com uma Taça de Portugal no palmarés, mas ter dois troféus em pouco mais de meio ano de mandato (e tendo em consciência que nada poderia fazer em relação à Primeira Liga 2023/24), seria perfeito e o melhor começo possível, silenciando os poucos críticos que tem. Na ótica do presidente, a Taça da Liga é interessante, com vários pontos positivos e poucos negativos. Para Vítor Bruno a situação é semelhante. Depois de tantos anos a acompanhar Sérgio Conceição, uma vitória na prova traria o seu primeiro título enquanto técnico principal, o que é um feito. Seria a prova de que o FC Porto também sabe vencer sem o antigo extremo. Tal como Rúben Amorim ou Bruno Lage, o filho de Vítor Manuel poderá optar por dar minutos aos menos utilizados, como Vasco Sousa, Rodrigo Mora ou Otávio Ataíde.

Ora se para os últimos três emblemas consideramos que a Taça da Liga é algo quase descartável, para Nacional da Madeira, Santa Clara e Moreirense, a situação muda de figura. Para estes três emblemas, naturalmente o objetivo primordial é a manutenção na Primeira Liga, mas subir a um palanque em 2024/25, levaria a época a entrar nos anais da história destas três instituições (embora os cónegos já tenham uma Taça da Liga no seu museu). Nestes casos, não haverá certamente rotação e os jogadores mais bem preparados irão a campo.

O Nacional da Madeira está em zona de despromoção na Primeira Liga, com apenas uma vitória em oito jogos. O clube insular abre a edição 2024/25 da Taça da Liga, visitando Alvalade. As expetativas poderão não estar em alta, mas um triunfo na terça-feira daria um outro alento ao balneário, mesmo que terminassem eliminados nas meias finais da competição. Já o Santa Clara é uma das surpresas da época, ocupando o quarto posto da tabela, à frente inclusivamente no Braga. A temporada tem sido em grande nos Açores e uma boa prestação na Taça da Liga poderia ser uma consequência natural do trabalho que está a ser desenvolvido por Vasco Matos, Por fim, o Moreirense pode-se orgulhar de já ter uma Taça da Liga na sua história, mas apenas três equipas têm duas ou mais. Não fará os cónegos ombrearem com os rivais do Minho (leia-se Braga e Vitória SC), mas o seu estatuto transformar-se-ia. César Peixoto está a ter um recomeço positivo pelo Minho e pode aproveitar o momento de forma para chegar às meias finais da competição, como mínimo.

A Taça da Liga gera discórdia e é o ‘filho menos desejado’ do futebol português, não está bem integrado na família (leia-se Primeira Liga, Taça de Portugal e Supertaça de Portugal). Os adeptos não irão celebrar efusivamente a sua conquista, porque isso nunca aconteceu no passado (nem as claques estarão presentes nos estádios, devido a um protesto). Todavia, é a chance para várias equipas (treinadores) fazerem algo: lançar jogadores, mudar o modelo tático, reconquistar um balneário, estabilizar no posto… Jamais se poderá dizer que a Taça da Liga ‘não serve para nada’, mesmo que não encha as ruas de aficionados ou provoque apenas meias casas nos recintos. A Liga Portugal arriscou e mudou o seu formato. Se não funcionar, uma décima nona edição pode estar em risco. Disfrutemos da décima oitava.