
A guerra entre John Textor, dono do Lyon, e Nasser Al-Khelaifi, presidente do PSG, conheceu novo capítulo. Depois de ter sido acusado de ser «um cowboy vindo não sei de onde», o norte-americano contra-atacou numa entrevista ao As, na qual sublinhou a influência do Qatar em França, que fornece ao emblema parisiense recursos ilimitados.
A disparidade de tratamento foi sublinhada desde logo quando o empresário admitiu que se sentiu prejudicado com a decisão da Direção Nacional do Controlo de Gestão (DNCG) de punir o Lyon com a despromoção por dívidas: «A decisão foi tomada antes de o organismo financeiro ter analisado as nossas contas. Fomos sancionados mesmo antes de podermos apresentar alegações e novos documentos financeiros. Vamos apresentar recurso e de certeza que nos vão dar razão.»
Questionado sobre se seria uma vingança contra si, dado ter admitido que a comunicação social tomou conhecimento da sanção antes dos próprios responsáveis do Lyon, Textor começou a apontar o dedo: «Penso que foi uma decisão pessoal. Acho que se deve à estreita coordenação entre o clube mais importante da nossa liga, o presidente da liga e, potencialmente, pessoas do DNCG... Não sei, mas é inadequado.»
O empresário mantém, por isso, a convicção de que o organismo é mais brando com outros clubes. «Há uma equipa em particular com a qual são benevolentes. O organismo está ciente de que é uma violação da legislação europeia permitir que um Estado estrangeiro subsidie uma empresa, o que pressupõe uma distorção da concorrência. E, ano após ano, têm permitido que o PSG viole o direito europeu, construindo o seu clube com 70 milhões de perdas e mais de 800 milhões em receitas, recorrendo a subsídios estrangeiros ilegais. Não querem saber de onde vem o dinheiro, porque permitem que o clube tenha prejuízos de 70 milhões todos os anos», sublinhou.
«O mais incrível de tudo isto é que as fontes de rendimento do Lyon são postas em causa porque vêm do Brasil ou dos Estados Unidos. O modelo de financiamento do PSG é ilegal, o nosso é perfeitamente legal e nós somos o modelo sancionado. Eles podem continuar a violar a legislação europeia. Há mais de uma dúzia de clubes que não conseguem pagar contas de forma responsável devido ao descalabro das receitas televisivas e nenhum deles recebeu sanções. E nós estamos a protestar contra o PSG, contra o acordo televisivo, não estamos dispostos a colocar o emblema do turismo do Qatar nas nossas camisolas...»
«Imagina que estás em Espanha e que o Real Madrid, uma das maiores marcas do mundo, pode gastar quantidades ilimitadas de dinheiro sem que ninguém questione quanto perde por ano. Aí nunca, nunca, nunca poderias ter outro campeão em Espanha a não ser o Real Madrid. (...) França é a liga mais desequilibrada do mundo, temos o mesmo vencedor todos os anos e ninguém faz nada em relação a isso», reforçou.
«É muito claro que não é legal que um ator estrangeiro, um Estado estrangeiro, subsidie qualquer empresa na União Europeia se isso distorcer a concorrência (...) Um investimento pode ser bem-vindo, uma subvenção não. Imaginemos que os EUA compravam uma empresa automóvel francesa e decidiam competir com capital ilimitado. Perderiam dinheiro todos os anos, comprariam quotas de mercado e esmagariam a concorrência. Não seria permitido pela legislação europeia nem no futebol. Por isso, quando o PSG surgiu em 2011, as receitas eram inferiores a 100 milhões de dólares. E a Qatar Sports Investments, um Estado estrangeiro, financia todos os anos 100, 200, 300 M, o que leva a que não haja concorrência», frisou.
«Estão por cima da Liga, dominam a Liga. Não fui eu quem trouxe estas leis para a Europa, se me dizem que tenho de respeitar os processos franceses ou europeus, peço-lhe que respeite essas mesmas leis e processos europeus e que não permita que um clube infrinja a lei quando todos os outros clubes têm de cumpri-la», afirmou, juntando: «Confirmo que vamos apresentar um pedido à Liga para que o PSG cumpra a lei da Comissão Europeia e vamos pedir ao comité jurídico da LFP que analise esta questão, tal como os outros clubes fizeram connosco e com Thiago Almada, e, se não obtivermos uma resposta satisfatória, levaremos o caso à Comissão Europeia.»
«O organismo financeiro confia no dinheiro do Qatar porque sabe que é ilimitado. Não confiam no dinheiro da Eagle (proprietária do Lyon), que cumpre e segue a lei (...) Ninguém vai pagar o que precisamos de pagar em receitas televisivas quando o vencedor da liga é conhecido antes de a época começar. Quem é que quer ver alguma coisa quando já se sabe o vencedor? É como saber o final de um filme antes de ir ao cinema», insistiu.
«O Qatar é muito importante para França. A relação entre o Qatar e França existe a níveis que vão muito além do futebol. O Qatar contribui significativamente para o negócio em França. O John Textor não contribui, pois não? Por isso, quando questiona o Qatar e questiona o PSG, basta olhar para a Imprensa. Tu és jornalista. Podes olhar para o caso de Al Khelaifi que está a ser questionado por influência imprópria e cumplicidade numa empresa em França (Affaire Lagardère). Não vou comentar porque não conheço os factos. Mas, ao que parece, a resposta imediata do Qatar é que, se Nasser for ameaçado em França, eles vão retirar os seus investimentos de França. Têm um nível de poder e influência em França que eu nunca terei. Somos apenas um pequeno clube contra um país muito grande e poderoso», acrescentou.