Tiago Pires vai voltar a vestir a licra de competição para ser homenageado e fazer uma despedida simbólica das provas de surf. A homenagem vai acontecer durante o Capítulo Perfeito 2025, com o primeiro surfista português a qualificar-se para o circuito mundial de surf a ter honras de abertura da final deste evento especial de tubos, que irá decorrer na praia de Carcavelos, naquele que se espera ser o melhor dia de ondas da temporada invernal.

Aos 44 anos e depois de ter deixado a competição a tempo inteiro em 2016, "Saca", como é conhecido, está, assim, a postos para abrilhantar a 11.ª edição do Capítulo Perfeito, ainda que somente em jeito de homenagem. Além de ter sido pioneiro entre os portugueses que chegaram ao World Tour, para o qual se qualificou em 2008, Tiago Pires foi também o grande vencedor da primeira edição do Capítulo Perfeito, em 2012, sendo reconhecido pela sua mestria nos tubos tanto em competição como no free surf. "Trata-se de uma retirada simbólica e que ainda mexe um pouco comigo. Vai ser emotivo, com certeza", afirmou Tiago a Record.

"Na verdade, a minha retirada do surf de competição foi feita em 2016, como todos sabemos, somente me mantive ativo para fazer alguns eventos especiais de que gostava, sendo o Capítulo Perfeito um deles. Mas há sempre um momento onde temos de assumir que já não temos a forma necessária e já não estamos devidamente prontos para nos apresentarmos. Nesse sentido, esta retirada é uma retirada do Capítulo Perfeito, num evento que eu estimo muito e que sempre me motivou e me trouxe aquele brilho de competir em ondas perfeitas, mesmo depois de acabar a minha carreira", frisou.

Apesar de ter sido considerado um especialista em tubos, Tiago Pires lembra que o circuito mundial nem sempre se fez de perfeição. "Penso que o Capítulo Perfeito não vai bem ao encontro daquilo que foi a minha carreira. Quem me dera ter tido 15 anos de circuito mundial só a procurar tubos. Infelizmente, isso não se passou. Mas o Capítulo Perfeito representa a essência do sonho do surfista: andar por dentro dos tubos, fazer tubos cada vez mais profundos e maiores. Acaba por ser sempre a prata da casa e aquilo que torna o surf especial enquanto desporto. Não tirando o mérito nem o valor a todas as outras manobras, que dão muito prazer fazer, o tubo é a grande atração deste desporto e modo de vida. Tive alguns campeonatos assim, claro, mas, infelizmente, também tive de ralar peito, como se costuma dizer, e tive de disputar campeonatos com ondas menos boas e que decorrem em sítios onde nem há tubos. Faz parte do processo; para sermos dos melhores do mundo temos de estar prontos para surfar tudo, ondas boas, ondas más, tudo o que aparecer à frente", explicou.

Apesar de ter tido uma carreira ímpar, em que foi pioneiro no surf nacional, "Saca" admite que existiram alguns objetivos que gostaria de ter alcançado. "Depois de as coisas acontecerem é sempre fácil falar delas. Não existem mágoas, existem isso, sim, desejos de ter obtido melhores resultados em provas específicas, como os casos de Peniche e Pipeline, que são provas que eu estimo muito. O facto de nunca ter conseguido tirar bons resultados lá foi algo que me deixou um dissabor na boca, não diria uma mágoa, mas gostaria de ter feito boas performances. Aliás, acabei por fazer algumas boas performances, mas, infelizmente, não se traduziram em resultados. Andar no circuito mundial é isto mesmo, é duro para todos, todos são muito bons e, de resto, o que guardo são 15 anos de viagens maravilhosas, de momentos mágicos passados com amigos e com pessoas que acabei por escolher para me acompanharem, andei sempre muito bem acompanhado", recordou.

"Só guardo boas memórias e foi uma carreira que me trouxe muito mais do que resultados; trouxe-me a oportunidade de viver um sonho e de, ao fim ao cabo, abrir as portas do surf profissional num país onde neste momento o surf está consolidado e super na moda. Mas há 15 ou 20 anos as coisas não eram assim, eram muito mais difíceis. O surf era um desporto com menos reconhecimento e menos hype. Sim, posso orgulhar-me de ser um dos grandes catalisadores deste hype todo à volta do surf hoje em dia. Posso dizer que tive uma carreira de sonho e que voltava a repetir tudo outra vez, se possível", sintetizou Tiago Pires ao nosso jornal.

Para Rui Costa, organizador do Capítulo Perfeito, "homenagear o Saca nesta edição é reconhecer o impacto que ele teve no surf nacional e internacional, e na própria essência do Capítulo Perfeito". "Ele é um exemplo de dedicação, talento e coragem, qualidades que queremos sempre enaltecer no nosso evento", frisa.