A baliza do Sporting tem sido assunto escaldante. Em cima das brasas cozinhou-se a transferência de Rui Silva, o segundo guarda-redes contratado pelo Sporting esta época depois de Kovačević. Questão arrumada e Rui Borges apressou-se estrear o novo sobretudo dos postes.
Fossem todos os jogos como o que o Sporting fez em Vila do Conde e talvez os leões nunca tivessem descoberto qualquer anomalia na posição. É que o antigo jogador do Bétis esteve quieto no seu posto de controlo sem nenhum requerimento ao uso das suas qualidades, dando a impressão que estar lá Rui Silva ou outro qualquer terráqueo seria a mesma coisa. Não se culpe o internacional português que não tendo tarefas também não se pôs em trabalhos.
Tão longe de se aproximar da baliza, o Rio Ave contaminou o Sporting com a ideia de que os leões tinham esbanjado dinheiro num bem supérfluo, fazendo parecer que a equipa verde e branca não carecia realmente de um upgrade a Franco Israel e Vladan Kovačević. Não será propriamente verdade e um jogo para a Liga dos Campeões, como o que se avizinha, contra o RB Leipzig, talvez seja melhor amostra do que este, frente ao Rio Ave (0-3), da 18.ª jornada do campeonato.
A equipa de Petit, que perdeu pela primeira vez em casa esta época, foi ofensivamente estéril e defensivamente incapaz face a um Sporting que deixou Gyökeres, a recuperar de um problema muscular, no banco e só o lançou aos 80’ para lhe acalmar os bichos carpinteiros. A fazer de duplo do sueco apareceu Conrad Harder, outro loiro e espadaúdo avançado. Entre as novidades no onze, Gonçalo Inácio foi pela primeira vez titular desde 5 de dezembro e Zeno Debast desempenhou um papel invulgar.
Na era em que os médios recuam para centrais, Debast é o central que avança para defender como médio. A construir, lá descaía o belga para a linha recuada, concedendo a Trincão e Quenda a zona dos virtuosos, entre linhas, e impulsionando Maxi Araújo pela esquerda. Oportunidades surgiram de todos os lados e mais alguns, mas aquelas que foram concretizadas ainda na primeira parte foram provenientes da esquerda.
Aderllan Santos havia feito de todos cúmplices da oferenda que recebeu da direção do Rio Ave. Não bastou esse momento em que foi presenteado com uma camisola comemorativa dos 200 jogos pelo clube de Vila do Conde para satisfazer o desejo de atenção. Na sequência de um momento que aconteceu antes do apito inicial, o central assegurou que ninguém usufruía de mais protagonismo do que ele ao tentar desarmar Fresneda e marcando na própria baliza com um carrinho em contramão logo aos três minutos.
Cezary Miszta, o guarda-redes polaco do Rio Ave, estava a ter mãos para os golpes do Sporting. Assim demonstrou perante as tentativas de Harder, Hjulmand e Trincão. E era bom que fosse ele a tê-las e não Pancho Petrasso que intercetou a bola dentro da grande área com o seu membro superior num atentado às leis do jogo. Os leões tinham de novo um remate a 11 metros da baliza, distância a que ficaram de conquistar a Taça da Liga. Desta vez, Hjulmand converteu e fez o 0-2, vingando o lapso de Trincão que levara à perda do troféu para o Benfica.
Sem exagero, foram qualquer coisa como sete oportunidades, umas mais flagrantes do que as outras, mas quase todas com mais hipóteses de o avançado marcar do que de Miszta defender. Sendo, ainda assim, a exibição do dinamarquês aproveitável, há um certo desejo de intuir que, em tantas chances, Gyökeres teria sido mais rentável, algo que se viria a confirmar. Refira-se que Harder não foi o único vacilar. Quenda também reclamou com a barra por esta ter intercedido no bombástico pontapé que deferiu.
Rui Borges foi usufruindo da exibição consistente para recorrer a Daniel Bragança pela primeira vez desde que assumiu o Sporting. Com João Simões já a fazer parelha com Hjulmand, sobrou para o médio que regressou de lesão o posto nas costas do avançado, que vinha sendo de Trincão. Daí, assistiu Gyökeres, sueco que deixou Harder a roer-se de inveja ao marcar o golo que o concorrente tanto procurava e enviando também uma outra bola ao poste.
Após ter começado com um dérbi, uma deslocação difícil a Guimarães (até por se tratar de um regresso à casa que abandonara dias antes) e uma Final Four da Taça da Liga, Rui Borges assistiu em Vila do Conde a um desempenho que pode ter relevância para a estabilidade emocional da equipa. O Sporting ganhou, convenceu e mostrou variabilidade. Por acréscimo, voltou a isolar-se no topo do campeonato.