Max Verstappen e Lando Norris foram, como se esperava, os principais protagonistas do Grande Prémio dos Estados Unidos, apesar de nenhum deles ter vencido a corrida. Mas, com a luta pelo título ainda em aberto, houve dois momentos cruciais entre eles na corrida e o primeiro aconteceu logo no arranque.

Norris saía da pole position, mas, apesar de arrancar bem e de se deslocar logo para a linha interior, não protegeu por completo aquele espaço e deixou a porta aberta para Verstappen atacar. A primeira curva no COTA é muito larga, e, ocupando completamente o espaço interior, depois é deixado muito espaço por fora, mas Norris devia ter protegido aquele espaço.

É verdade que, na maior parte das circunstâncias, outros pilotos não mergulhavam como Verstappen fez, mas, com o título em jogo e com Max a saber que esta era talvez a sua melhor oportunidade para passar para a frente de Lando, atacou com tudo e ficou com a posição, com Norris a arrepender-se disso para o resto da prova.

Contudo, a manobra de Verstappen é questionável. O neerlandês saiu de pista com as quatro rodas de modo a completar a manobra, não conseguindo travar o carro de modo a mantê-lo em pista. Em teoria, ultrapassou fora do circuito. Aliás, o piloto da Red Bull foi penalizado no ano passado em Las Vegas por uma manobra ainda mais evidente, e teve sorte em não ser investigado aqui. Esta manobra foi crucial para a vitória de Charles Leclerc no Texas, mas, na perspetiva de Verstappen, deu-lhe vantagem sobre o homem que ele queria mesmo derrotar.

Aliás, foi possível ver ao longo da corrida que o foco da Red Bull e de Verstappen estava apenas em bater Lando Norris, tendo até permitido que Carlos Sainz fizesse um undercut para passar para o segundo posto. Em circunstâncias normais, a Red Bull tentaria ficar à frente do Ferrari, mas, nestas circunstâncias, não quiseram parar demasiado cedo e ficar ainda mais vulneráveis a um Norris que iria prolongar o stint. Assim, Sainz passou para segundo e Verstappen parou quando tinha de o fazer, com a McLaren também a fazer aquilo que devia e a prolongar o stint, para ter vantagem nos pneus.

Quando Lando apanhou Max, começou o espetáculo. Nos primeiros instantes, é preciso elogiar Verstappen e dizer que se estava a defender extremamente bem. O campeão do mundo tinha sempre a preocupação de defender a linha interior nas curvas mais perigosas do circuito, não dando qualquer hipótese a Norris de tentar ataques por dentro, com o britânico a ser sempre forçado para a linha exterior, onde é muito mais difícil passar.

Até que chegou a volta 52 e o segundo momento polémico da prova entre estes dois. Com Verstappen a ter mais dificuldades, Norris colocou-se ao lado dele e estava à frente a caminho da curva, mas Max entrou com mais velocidade na curva para chegar primeiro ao vértice, ambos os carros saíram largo e Lando completou a manobra fora da pista.

Norris perguntou à equipa se estava à frente no vértice da curva, a McLaren respondeu que sim e disse-lhe para ele manter a posição. Isto foi um erro por parte da McLaren. Aos olhos dos comissários, quem chega primeiro ao vértice da curva tem prioridade. Neste caso, foi Verstappen que chegou primeiro, e, por isso, não tinha de dar espaço por fora ao adversário, de acordo com o que está escrito nas regras. Ao não devolver a posição e ao ultrapassar fora de pista, Lando Norris foi penalizado em cinco segundos.

A questão é que, embora a penalização a Norris se possa aceitar por aquilo que já escrevi, mais uma vez Verstappen não conseguiu manter o carro dentro da pista. O neerlandês soltou o travão para garantir que chegava primeiro ao vértice da curva, mas isso fez com que ele próprio não conseguisse manter o seu Red Bull dentro dos limites de pista, com Norris, que estava por fora, a ser também empurrado para lá da linha branca. E é aqui que eu acho que a regra podia e devia ser ajustada.

A única forma de Max chegar primeiro ao vértice foi travar tão tarde que nem ele conseguiu fazer a curva. Na minha opinião, nestes casos, quem chega primeiro ao vértice devia perder o ‘direito’ de empurrar o adversário para fora da pista. Afinal, é fácil chegar primeiro ao vértice se não precisares de manter o carro dentro dos limites. Da mesma forma que se pode dizer que a ultrapassagem de Norris foi injusta (e daí penalizada), também se pode argumentar que a defesa de Verstappen também foi (e também devia ter sido penalizada).

Verstappen está na frente do campeonato e sabe que é Norris que tem de arriscar. Max também tem perfeita noção da forma como as regras estão escritas e usa isso muitas vezes a seu favor em duelos roda com roda. Mas já era altura de a FIA ajustar as regras, de modo a verificar se os carros que se defendem se conseguem manter em pista, para evitar que esta situação se repita. E também seria bom haver mais relva ou gravilha no próximo ano, já que esta não foi a única decisão controversa de limites de pista no Grande Prémio em Austin.