De visita a Angola, onde esteve na casa do FC Porto de Luanda, André Villas-Boas abordou o «caso Cardoso Varela», jovem que - após o Europeu sub-17 - não compareceu às reuniões agendadas pelo FC Porto (direção portista, recorde-se, desconhecia o paradeiro do jovem) com vista à renovação do contrato que unia as duas partes e esteve próximo de rumar ao Din. Odranski Obrez.

Sobre a saída do jovem de 16 anos do clube, o presidente sublinhou que não encaixará «a sua perda em silêncio», afirmando ainda ter o apoio da FIFA, assim como o do General Alves Simões e do General Capingana na aproximação à mãe do jovem atleta.

«É público que nos últimos meses, às mãos de um grupo de empresários, o FC Porto viu-se privado de um atleta menor de idade, de nome Cardoso Varela, natural de Angola, a quem demos formação desportiva e académica e apoio familiar», começou por elucidar.

«Por um valor abaixo do seu real valor, em que a maioria do recebido nem lhe chegará às mãos, nem à sua família, pretenderam esses ditos empresários, trasferi-lo para um clube amador na Croácia ao abrigo de uma exceção à lei de proteção de menores, apenas existente naquele país. Para o conseguirem pegaram no jovem obrigando-o a viver escondido e sem nenhum poder de escolha ou tomada de decisão relativamente ao seu futuro. Por um punhado de dólares, não se importam de pôr em causa a formação e o são desenvolvimento desse jovem», destacou.

«O tráfico humano é um dos reversos dessa medalha»

«Normalmente, os clubes vítimas destes esquemas encaixam a sua perda em silêncio. Nós não o faremos. Iremos fazer todos os esforços para recuperar o jovem jogador, e expor à lei civil e das instâncias desportivas, os responsáveis por este comportamento criminoso. Estamos orgulhosos de ter a FIFA ao nosso lado bem como as instituições Portuguesas e Angolanas, e também o papel fundamental que jogou em todo este processo o General Alves Simões e o General Capingana na aproximação à mãe do jovem atleta em solo angolano. Duas personalidades, que, pelo envolvimento altruísta e apoio que disponibilizaram, revelaram serem homens comprometidos com a defesa dos mais altos valores humanos», apontou.

Por fim, o presidente azul e branco apontou para o sentimento de «ilusão» que algumas pessoas criam nos atletas e para o «perigoso tráfico humano».

«Fala-se muito nos milhões que se ganham, dando a ilusão que os atletas atingem o estrelato quase que por toque divino. Mas fala-se pouco que, por trás, mais vezes do que aparece nas primeiras páginas, também há milhões que se perdem à custa de sonhos de jovens que são explorados por pessoas sem valores. O tráfico humano é um dos reversos dessa medalha. Clubes como o FC Porto e instituições e clubes angolanos, são vítimas desse flagelo que acrescem os danos irreversíveis causados aos jovens atletas e às suas famílias», concluiu.

Cardoso Varela, refira-se, está sem competir desde o Euro sub-17 (junho de 2024) e realizou, em 23-24, três golos e duas assistências pelos sub-19 do FC Porto.