O Sporting escapou a uma ida ao Algarve em plena época alta de turistas, mas não fugiu a uma brutal confusão na 3.ª eliminatória da Taça de Portugal. Os leões estão a ficar cada vez mais peritos a desmontar autocarros, tal o afinco defensivo dos adversários nos últimos desafios. Acontece que a este veículo pesado de passageiros do Portimonense, a equipa de Rúben Amorim não soube tirar as rodas e foi assim que ele andou em frente.

No famoso relvado de Portimão, que até à época passada expunha na Primeira Liga os seus detalhes diferenciadores, a arte veio depois. Depois dos 90 minutos. Só aí Conrad Harder fez o 1-2 e evitou, com o seu segundo golo, que a partida seguisse para prolongamento. O drama demorou a ser resolvido, porque o Sporting se fiou numa vantagem pouco segura que foi desfeita aos 87’ por Elijah. Foi preciso ligar as sirenes, assinalar a urgência e abrir caminho para socorrer os efeitos do choque que o Portimonense, antepenúltimo classificado da Segunda Liga, causou.

Na típica rotação em jogos da Taça de Portugal, Ricardo Esgaio foi titular pela primeira vez esta época no Sporting. Os leões desabituaram-se tanto à presença do nazareno que precisaram de o enquadrar de maneira a que o ataque não encalhasse quando inclinado para o lado direito. Rúben Amorim arrumou então Esgaio no espaço interior, ou seja, passou o microfone a alguém que nunca cantou na vida. Em Geovany Quenda, à largura, estavam depositadas as esperanças para que este, mais do que nunca, fosse protagonista no corredor. E o jovem de 17 anos correspondeu. Embrulhou a bola nas pedaladas com que a sobrevoou, arrancou para a esquerda, arrancou para a direita, acabando por se incompatibilizar com o companheirismo de Esgaio.

Envolvendo melhor a massa de gente de verde e branco que por lá se achava, o Sporting foi mais sólido no trópico oposto. Ali não houve solilóquio. Nuno Santos entendeu-se bem com Francisco Trincão e também naquela mesa surgiu Conrad Harder, que teve mais uma janela para se testar no centro do ataque dado o pousio de que Viktor Gyökeres gozou em Portimão. O dinamarquês, em determinados gestos, pareceu até um eufemismo de Haaland: esquerdino, a procurar o remate mesmo quando tem a bola demasiado perto do pé de apoio e perspicaz a sentir o encosto do defesa para rodar sobre o corpo do opositor.

LUIS BRANCA

Depositado na região onde desaguava todo o fluxo ofensivo do Sporting, Harder fez esta parecer uma noite de Black Friday tal a forma como foi voraz a atacar as melhores oportunidades. Marcou num curto movimento de rutura que encaixou na perfeição com o passe de Nuno Santos. No entanto, já antes tinha sido laureado com cruzamentos de Francisco Trincão e Geovany Quenda aos quais não deu o melhor seguimento. Quanto a chances para marcar até ao intervalo, Morten Hjulmand conseguiu um desvio ao primeiro poste que manteve Vinicius, o guarda-redes do Portimonense, ativo.

Vladan Kovačević, regressado à titularidade na baliza do Sporting, estava ansioso por mostrar serviço, intuito que destoava com a rapidez com que a gente mais avançada apagava os ataques do Portimonense. A equipa de Ricardo Pessoa tentou usar Tamble Monteiro como pulmão, mas era-lhe tapada a boca com firmeza. Ainda assim, foi mérito dos algarvios desenrolarem-se o suficiente para se perceber que, em organização, o Sporting queria defender apenas com uma linha de quatro elementos, entre os quais a novidade foi o estreante Bruno Ramos, central de 19 anos que chegou a Portugal na temporada passada para representar o Académico Viseu e que se mudou para o Sporting.

Eventualmente, Conrad Harder lá teve que se contentar com uma mudança para a ala assim que Viktor Gyökeres entrou. O pesadelo mais temido de qualquer adversário do Sporting pisou o relavado para ajudar no desbaste aos três centrais do Portimonense – Alemão, Filipe Relvas e Jefferson Maciel –, muito auxiliados por Mohamed Diaby. Nem sempre o conjunto de Alvalade estava a ser capaz de capitalizar os desequilíbrios que conseguia provocar no jogo exterior e, apesar de tudo, a vantagem era curta mesmo que Trincão tenha estado perto de a alargar. Faltou-lhe pragmatismo dentro da pequena área.

LUIS BRANCA

Tratou-se de um lance representativo daquilo que foi a condescendência do Sporting na segunda parte. Até bem perto do fim, as hipóteses de Kovačević sair do encontro com algumas defesas esmoreciam, nada conseguiu o guarda-redes fazer quando a confusão – alimentada por Relvas –, na sequência de um canto, deixou Elijah isolado para fazer o empate. Instalou-se o pânico. O Sporting acelerou processos, repôs a bola o mais rápido que e lá conseguiu maquilhar o percalço. Com um toque de primeira, Gyökeres isolou Harder, que picou por cima de Vinicius. No meio do aparato, quase sem se dar conta, Lucas Taibo também fez a estreia com a camisola verde e branca.

O universo leonino teve vários temas entalados na garganta durante a pausa para as seleções. As consequências dos bafos de shisha em Gyökeres e a mudança de Hugo Viana para o Manchester City foram os principais. Rúben Amorim terá agora que passar pelo empecilho de refletir sobre a exibição trapalhona que aconteceu aqui.