
Na nota, os membros eleitos do CR anunciaram a sua "demissão dos cargos para os quais foram eleitos no presente mandato", explicando que o fazem por "ser inevitável perante a postura da Direção Editorial (DE) ao ignorar os apelos partilhados com o diretor sobre diversos temas, quer por iniciativa própria" quer "a pedido de jornalistas da redação".
"Face a um processo continuado de desvalorização do CR enquanto órgão de debate ao longo de várias direções, entendemos a demissão como inadiável quando se têm multiplicado atropelos aos mais elementares e essenciais valores do Público", destacaram, constatando que "as promessas da DE em dar atenção a algumas das preocupações partilhadas nas reuniões dão lugar a recidivas" que consideram "danosas para o Público e a sua reputação, bem como para a qualidade do seu jornalismo".
Contactada pela Lusa, a direção do Público garantiu que "escuta com muita atenção as recomendações do Conselho de Redação e considera que tem um papel essencial na vida do Público".
Por isso, espera que "no mais curto espaço de tempo seja possível realizar eleições e ter um órgão em plenitude de funções. Quaisquer problemas e críticas levantadas por este órgão são para ser discutidos no seio da redação", rematou.
Os membros eleitos do CR destacaram que entre os problemas para os quais tentaram "sensibilizar mais do que um membro da Direção está a pulverização dos princípios jornalísticos do Público", salientando que "está em curso um desvio preocupante na linha editorial".
"Enquanto se exige um padrão ético e deontológico para o jornal produzido pelas secções, pela Redação representada neste órgão, aplica-se outro, antagónico, para projetos de que o jornal é parceiro", referiram, salientando que tudo o que saia no jornal "tem de estar comprometido com o seu Livro de Estilo e, a montante, de respeitar o Código Deontológico do Jornalista, o que nem sempre tem sucedido com o Público Brasil".
Os subscritores apontam "princípios inalienáveis como o combate ao sensacionalismo, o respeito pela privacidade dos cidadãos em assuntos manifestamente desprovidos de interesse público, a rejeição do tratamento discriminatório de pessoas, incluindo em função da ascendência ou território de origem, ou a retificação de informações inexatas".
No comunicado, os membros eleitos do CR deram conta de que "algumas notícias recentes sobre desaparecimentos e custódias de crianças constituem sintomas exacerbados desta inflexão, com precipitações e enviesamentos ideológicos ou sensacionalistas que não passariam no crivo Público", apontando várias "interpelações e mensagens" ao diretor ou a outros membros da direção sobre estes temas.
No entanto, lamentaram, "os problemas não foram tratados com a atenção e a coragem devidas", indicando que muitas das recomendações "foram total ou parcialmente ignoradas".
Os membros do CR indicaram ainda uma "frustração e indiferença" na redação, tendo instado "por mais do que uma vez a DE a promover uma maior mobilização e um mais ativo e participativo debate sobre as orientações e os objetivos estratégicos do jornal".
Por fim, "concluído um processo de rescisões que levou à saída de jornalistas matriciais para o Público, faltam igualmente sinais de uma ideia para o futuro", indicaram os membros eleitos do CR, garantindo que não ficam "indiferentes às métricas do tráfego e das assinaturas", mas salientando que esse não deve ser "o único desígnio" do jornal.
"O enfraquecimento aparentemente inexorável de algumas secções, bem como a insistência numa reorganização apenas funcional da Redação, sem orientações ou apostas editoriais claras, e sobretudo sem uma auscultação verdadeiramente empenhada e transversal do coletivo de jornalistas que a compõe, são, para nós, manifestações inquietantes", destacaram.
Ainda assim, acreditam que "das próximas eleições pode sair um Conselho de Redação ativo e combativo, capaz de influenciar de forma mais produtiva a reflexão editorial", que, na sua opinião, é hoje "tão urgente quanto imprescindível, e de robustecer um projeto editorial fundamental para a qualidade da nossa vida em democracia".
O comunicado é assinado pelos membros eleitos do CR Ana Dias Cordeiro, Camilo Soldado, Inês Nadais, Joana Amaral Cardoso, João Pedro Pincha, Pedro Crisóstomo, Samuel Alemão e Sofia Neves.
No final do ano passado, o Público abriu um programa de rescisões voluntárias, segundo anunciou a administração do jornal, apontando uma "revisão na estratégica" do periódico.
O programa resultou na saída de 20 trabalhadores, a maioria jornalistas, o que deixou a Direção do Sindicato dos Jornalistas preocupada com a "degradação das condições de trabalho no jornal".
ALN (AJR)// JNM/CSJ
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