A reunião da Reserva Federal norte-americana (Fed) terminada a 18 de setembro acabou por aprovar, com apenas um voto contra, um primeiro corte de meio ponto percentual (50 pontos-base), mas as atas divulgadas esta quarta-feira revelam que, na discussão, se manifestou um grupo de vários banqueiros centrais que defendia uma descida mais pequena, de apenas 25 pontos-base.

Nessa reunião, a defesa de um primeiro corte mais modesto era muito mais ampla do que o único voto final contrário de Michelle W. Bowman, membro do conselho de sete governadores da Fed, presidido por Jerome Powell. Foi a primeira vez desde dezembro de 2005 que uma decisão foi tomada com um voto contra.

As atas referem que “alguns [participantes na reunião] preferiam um corte de 25 pontos-base” e que “alguns outros indicavam que poderiam apoiar tal decisão”. Esse grupo defendia que era preferível um processo de normalização da política monetária mais “gradual” que permitiria dar mais tempo aos banqueiros centrais para uma melhor avaliação do grau de restritividade em função da evolução da economia norte-americana.

No entanto, uma “maioria substancial” de participantes na reunião acabou por apoiar um primeiro corte mais robusto e, na votação final, apenas se contou com um voto contra nos 12 membros do Comité de Política Monetária (Federal Open Market Committee, FOMC) presidido por Powell.

Na decisão tomada, os banqueiros centrais exprimem a perspetiva de avançarem no sentido de uma política monetária “neutral” (nem restritiva, nem expansionista) se os dados económicos futuros evoluírem no sentido esperado da trajetória da inflação em direção a 2%.

As atas revelam, ainda, que “alguns participantes” tinham defendido na reunião anterior em julho que seria plausível então ter antecipado um primeiro corte de juros de 25 pontos-base.

As atas não antecipam qualquer orientação para as decisões das próximas reuniões.

Economia norte-americana vai bem

A decisão tomada em setembro baseou-se em algum pessimismo sobre a evolução do mercado laboral, o que, depois, não se viria a verificar.

Apesar do catastrofismo difundido pela candidatura de Donald Trump sobre a situação da economia dos Estados Unidos, o Bureau of Economic Analysys confirmou que o PIB cresceu 3% no segundo trimestre deste ano em termos reais e o Bureau of Labor Statistics avançou, a 4 de outubro, que o emprego em setembro tinha aumentado no sector não-agrícola 254 mil postos de trabalho, uma subida significativa em relação aos 159 mil criados em agosto e quase o triplo dos 89 mil criados em julho.

O modelo GDPNow do Federal Reserve Bank of Atlanta aponta para um crescimento de 3,2% no terceiro trimestre, segundo a previsão avançada a 8 de outubro. O número oficial só será publicado no final de outubro. A confirmar-se a trajetória em 2024, a maior economia do mundo acelerou de 1,6% nos primeiros três meses do ano para mais de 3% nos seis meses seguintes.

A inflação desceu em agosto para 2,2%, segundo o indicador monitorizado pela Fed. A estimativa para setembro só será divulgada a 30 de outubro. Este indicador de inflação é tecnicamente designado por Personal Consumption Expenditure Price Index (PCE, no acrónimo), Índice de Preços para Gastos com Consumo Pessoal, e é considerado mais representativo do comportamento real dos consumidores, pelo que é o preferido pela banco central. O outro indicador, o Índice de Preços no Consumidor (CPI, no acrónimo em inglês) mede as variações de preços num cabaz de bens e serviços consumidos nos meios urbanos. Este último desceu para 2,5% em agosto e a variação de setembro só é publicada a 10 de outubro.

Investidores ajustam expetativas para cortes menos robustos

Os bons números do crescimento, do emprego e da desinflação (descida da inflação) indiciam que a Fed poderá abrandar o ritmo do corte de juros iniciado em 18 de setembro com uma descida de meio ponto percentual na taxa diretora.

Os investidores já ajustaram as expetativas para a descida dos juros até final do ano e a ferramenta FedWatch da CME, com base nos futuros das taxas diretoras da Fed, aponta para uma probabilidade de mais de 80% para um corte de 25 pontos-base a 7 de novembro, na próxima reunião. Para a última reunião do ano, há uma probabilidade de 76% para um novo corte de 25 pontos-base. A expetativa de um segundo corte robusto de meio ponto percentual perdeu gás e a probabilidade da Fed manter a taxa na próxima reunião em novembro subiu de 0% a 2 de outubro para 21% esta quarta-feira. Segundo as probabilidades do FedWatch, o intervalo da taxa diretora da Fed descerá dos atuais 4,75% a 5% para 4,25% a 4,5% no final do ano.

Em virtude deste ajustamento para cortes mais reduzidos, as bolsas de Nova Iorque têm negociado aos ziguezagues com sessões de ganhos e de perdas desde 1 de outubro. Até ao fecho de 8 de outubro, o índice MSCI para os Estados Unidos (abrangendo as duas bolsas, o New York Stock Exchange e o Nasdaq) ainda está em terreno negativo, com uma perda de 0,14% desde final de setembro. Esta quarta-feira está a negociar em terreno positivo pela segunda vez consecutiva.