Vai ser preciso esperar mais uns meses até ver a oferta da romena Digi no mercado português. Preços e serviços low cost (baixo custo) são a sua marca. Em Espanha, onde agitou o mercado, há ofertas de Internet em torno de 10 euros. Em Portugal vai ser preciso esperar para ver. A operadora romena anunciou esta sexta-feira que compra a Nowo. O negócio aguarda luz verde das autoridades. Cinco perguntas e respostas sobre o novo operador.

1) A Digi comprou a Nowo?


O anúncio do acordo de compra da Nowo e das suas licenças pela romena Digi, por um montante de 150 milhões de euros, foi anunciado esta sexta-feira, num comunicado enviado à Bolsa de Valores de Bucareste. O negócio é anunciado um dia depois de ter sido noticiado que as negociações com a Media Capital com o acionista da Nowo - o espanhol Lorca JVco Limited, proprietária da Nowo e de 50% da MásOrange em Espanha - tinham rompido. É a confirmação de uma notícia avançada pelo Expresso, que já tinha noticiado a 22 de julho que a Digi também estava na corrida à compra da Nowo, depois da tentativa de compra por parte da Vodafone Portugal ter sido chumbada pela Autoridade da Concorrência, a 04 de julho, por considerar que esta concentração apresentava "entraves significativos à concorrência".


A operação está avaliada em 150 milhões de euros - tanto quanto ofereceu a Vodafone - e está sujeita ainda aos trâmites legais e regulatórios. Mas, fontes do setor ouvidas pelo Expresso, admitem que o negócio não deverá levantar problemas na Concorrência uma vez que a Digi ainda não tem clientes em Portugal, e a Nowo tem uma quota de mercado de cerca de 2,5%.

2) A Digi já está a operar no mercado português?

A Digi entrou recentemente no mercado português com a compra, em 2021, de espectro de quinta geração móvel, mas ainda não tem uma oferta comercial no mercado. Espera-se que venha a ter até ao final do ano - a Anacom já disse que espera que a operadora tenha uma oferta em cima da mesa em novembro. A operador romena - cuja a operação em Portugal ainda não é visível junto do consumidor - tem estado a investir no mercado português em infraestruturas próprias. Terá investido já, com a compra da licença incluída, cerca de 400 milhões de euros - valor que a operadora não confirma nem desmente. A escassez de informação é grande por parte da Digi, mas o Expresso sabe que já tem equipamento instalado em mais de três mil sites (torres) móveis. E tem acesso a mais de um milhão de casas com fibra.

Conhecedores do setor asseguram que a Digi, cuja operação em Portugal é conduzida pelo romeno Emile Grecu, é um operador com know how no setor e músculo financeiro. A Digi, segundo o Eco, conta já com 400 trabalhadores em Portugal, sendo a maioria da área técnica, nomeadamente instaladores de fibra. A operadora romena investiu cerca de €67 milhões na compra das licenças 5G. E assinou no final do ano passado um acordo para o uso da rede de fibra ótica da Vodafone Portugal.

Queixa-se de barreiras à entrada no mercado português. Uma delas é o acesso aos conteúdos, essenciais para fazer ofertas em pacote, e outra é o acesso à rede dos concorrentes — o roaming nacional —, ligação determinante para que fique pronta para fornecer serviços aos clientes. Em fevereiro bateu à porta da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e da Autoridade da Concorrência (AdC) para reclamar das condições exigidas pela Media Capital (MC) na venda do acesso aos seus canais (TVI/CNN/TVI Ficção), noticiou o jornal online ECO. A Digi, que está a negociar a compra dos canais da MC desde novembro de 2022, considera o valor exigido pela empresa de Mário Ferreira “um preço não equitativo” e com “condições comerciais discriminatórias” face aos restantes concorrentes, a MEO, a NOS, a Vodafone e a Nowo. E apela a um tratamento igual.

Como a compra da Nowo, a Digi poderá ver este problema dos conteúdos resolvido, pelo menos no curto prazo. Mais tarde logo se verá, é que os contratos com os fornecedores de conteúdos têm prazos, e mais à frente o problema poderá voltar a fazer-se sentir.

3) E o que é que a Digi tem para oferecer aos consumidores portugueses?

É pelo preço que a Digi deverá agitar concorrência em Portugal, tem sido assim nos mercado onde está presente, nomeadamente em Espanha e Itália. Em Espanha onde a presença é forte - é a número quatro - a Digi apareceu dirigindo-se apenas ao mercado residencial, apostando sobretudo em serviços low cost, ou seja, com ofertas mais limitadas, nomeadamente na oferta de canais, mas com preços agressivos. Espera-se também que ofereça serviços isolados - como por exemplo, um pacote apenas com Internet - a preços bem mais baixos do que as ofertas que hoje existem no mercado. O alvo será à partida as camadas mais jovens, mais interessadas nas ofertas de baixo custo, e os emigrantes. Em Espanha, mercado que serve de referência, a Digi tem ofertas de serviços de Internet, com minutos ilimitados, em torno dos 10 euros. Preços atrativos para as camadas mais jovens da população, menos interessados nas ofertas de pacotes (Net, TV, movél e fixo).

"Pelo que se soube na altura do concurso 5G, a Digi terá uma estratégia mais virada para potenciais clientes que só queiram o móvel, ou fibra sem televisão. Por isso, a sua entrada em Portugal poderá criar alguma pressão concorrêncial especialmente no mercado dos mais jovens, que estão na Netflix e não querem a TV tradicional", admitiu em declarações ao Expresso, em fevereiro, Steffen Hoernig, professor da Nova School of Business & Economics, especialista na área das telecomunicações. Hoernig prevê que a "Digi traga alguma pressão sobre os preços, mas principalmente (se se mantiver a estratégia veiculada) nos segmentos mais baixos. Isto é, nas ofertas sem pacote ou com pacotes mais pequenos".


4) A Nowo é o operador mais pequeno do país?

Sim, é o número quatro. Antiga Cabovisão, a Nowo conta atualmente com 270.000 clientes móveis e 130.000 clientes fixos. E detém licenças de espetro nas bandas de frequência de 1.800 MHz, 2.600 MHz e 3.600 MHz. Apesar de ser um pequeno operador e estar fora dos principais centros urbanos do país, a Nowo tem rede e espectro, um bem escasso e cobiçado. Atua sobretudo em cidades mais pequenas, como Setúbal, Caldas da Rainha Aveiro ou Coimbra. E onde está há mais concorrência.

5) Quem é a Digi?

Lançada há 30 anos na Roménia, e com presença no país de origem, em Espanha e Itália, e Bélgica, a Digi apresenta-se com um operador de baixo custo, mas com ambição. Foi criada e é liderada pelo romeno Zoltan Teszari, que gera a empresa de forma muito centralista. Em Espanha, onde investiu mil milhões de euros desde 2008, é o quarto operador, com 1,1 milhões de clientes na rede fixa e 3,8 milhões na rede móvel. Vai ficar com os remédios da fusão entre a Orange e a MásMóvil.