No domingo mais importante da vida desportiva norte-americana, em plena Super Bowl, Donald Trump voltou a anunciar mais taxas alfandegárias, vulgo tarifas, e desta vez sobre as importações de alumínio e aço. Serão, garantiu, de 25%; e isto a somar às taxas já existentes. Em Portugal, a indústria espera para ver os detalhes da medida, já que só será afetada se as taxas abrangerem produto acabado, isto é, transformado industrialmente.

A indústria metalúrgica "está atenta e expectante sobre o que significa exatamente o anúncio de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio dos EUA", diz ao Expresso Rafael Campos Pereira, vice-presidente da associação sectorial AIMMAP. A verdade, afirma, "é que neste momento ainda não há qualquer informação oficial e não se sabe o que está em causa nem o irá acontecer exatamente. Mesmo a Comissão Europeia já disse que não tem qualquer informação sobre as referidas taxas", sublinha.

Se avançarem, "temos de perceber se está em causa apenas matéria-prima ou também o produto acabado. Se Donald Trump estiver a falar apenas de matéria-prima, não nos afeta. Mas se a medida abranger produto acabado tudo se torna mais complicado", nota.

Em 2024, as exportações da indústria portuguesa de metalurgia para os EUA rondaram mil milhões de euros, 3,5% das exportações do setor, e quase 19% do valor total de exportações para os EUA em 2024, de €5,3 mil milhões. Mas "boa parte do que vendemos para lá, tem aço ou alumínio", diz o dirigente associativo.

Nestes mil milhões de euros estarão os €309 milhões exportados em 2024 em metais comuns, grupo que inclui mais metais além de alumínio e aço, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

De qualquer forma, se as taxas forem globais, "todos será afetados de igual forma", comenta admitindo não haver perda de competitividade direta em causa face a outras origens.

Segunda vaga de taxas

Taxas sobre aço e alumínio não são uma novidade: no primeiro mandato de Trump, nos idos de 2018, a sua administração imporia taxas de 25% sobre as importações de ferro e de 10% nas de alumínio que acabariam por abranger também parceiros comerciais relevantes como os países da União Europeia, segundo o Financial Times.

De acordo com o jornal, esta acabaria por ripostar com taxas sobre uma gama de bens que incluía, além de metais, produtos agrícolas e bens de consumo produzidos nos EUA, e populares na Europa, como calças de ganga ou motas. Depois do impacto inicial que resultaria numa queda das importações de metais, a indústria norte-americana conseguiu “furar” a medida com várias exceções.

Ainda assim, a indústria norte-americana teve, então, de lidar com uma subida dos preços dos metais, impulsionados tanto pelas tarifas como pelos produtores domésticos, que aproveitaram para inflacionar o custo de venda. Os preços só viriam a aliviar com a entrada de Joe Biden na Casa Branca e com a remoção, em alguns casos parcial, das taxas de importação.

Perante a possibilidade de uma nova vaga de taxas alfandegárias sobre as importações norte-americanas de metais, a Comissão Europeia emitiu, esta segunda-feira, 10 de fevereiro, um curto comunicado no qual dizia ainda não ter recebido "qualquer notificação oficial no que toca à imposição de taxas alfandegárias adicionais em bens da União Europeia”.

“Não iremos responder a anúncios genéricos sem detalhes ou clarificações por escrito”, frisou, garantindo que, no caso dos EUA avançar mesmo com taxas, irá “reagir para proteger os interesses das empresas, trabalhadores, e consumidores europeus face a medidas injustificadas”.

A Comissão reservou ainda um segundo parágrafo para reforçar a ideia de que as tarifas “seriam ilegais e economicamente contraproducentes, em particular dada a profunda integração das cadeias de produção que a UE e os EUA estabeleceram através do comércio e investimento transatlântico”.

“Taxas alfandegárias são essencialmente impostos. Ao impor taxas alfandegárias, os EUA irão taxar os seus próprios cidadãos, aumentando os custos para as empresas, e impulsionando a inflação. Além disso, as taxas alfandegárias aumentam a incerteza económica e perturbam a eficiência e integração dos mercados globais”, conclui.