Em setembro, os mercados de ações registaram o quinto mês consecutivo de ganhos, apesar de duas crises bolsistas pontuais no início de agosto e de setembro. O índice mundial MSCI (MSCI All-Word Equity Index) registou, em setembro, uma subida de 2,2%, apesar de uma perda de mais de 4 biliões de euros nas primeiras cinco sessões do mês.
A recuperação ao longo do mês acelerou-se depois de Pequim ter anunciado a 24 de setembro uma injeção direta na economia equivalente a 310 mil milhões de euros, cerca de 2% do Produto Interno Bruto, complementada pela redução de três taxas de juro do Banco Popular da China.
A ‘bazuca’ de Pequim fez disparar os ganhos nas bolsas de Xangai, Shenzhen e Hong Kong (onde estão cotadas as ‘estrelas’ da tecnologia chinesa) que contrabalançaram a quebra mensal de quase 2% na Bolsa de Tóquio (a terceira do mundo em capitalização no final de agosto) e os ganhos modestos na Europa e perdas ligeiras na América Latina em setembro.
Em Lisboa, o índice PSI 20 (na realidade com 16 cotadas) escapou em setembro ao vermelho com uma subida mensal de 0,48%, em desaceleração em relação aos ganhos de 3,5% em julho e 0,77% em agosto. A subida de 0,48% foi superior à média de ganhos no índice MSCI para a Europa (0,3%), mas ficou distante do aumento de 4,2% do índice Ibex 35 em Madrid.
Os fatores determinantes no comportamento das bolsas em setembro andaram em redor das expetativas sobre o ciclo de cortes dos juros pelo banco central norte-americano até final do ano e, na ponta final do mês, contaram com o megapacote chinês de apoio à economia.
A escalada da guerra no Médio Oriente e as perspetivas da guerra na Ucrânia contra a invasão russa no contexto da incerteza sobre os resultados das eleições presidenciais nos Estados Unidos a 5 de novembro ainda não se tornaram, em setembro, um fator relevante no comportamento dos investidores.
O sinal de alarme parece estar a ser dado nesta primeira sessão de outubro, com o índice mundial MSCI a cair 0,7%, Nova Iorque no vermelho, perto de uma perda de 1% e a Europa a fechar com perdas acima de 1%. Na Ásia, as bolsas chinesas estarão fechadas esta semana devido aos feriados relativos à fundação da República Popular da China a 1 de outubro de 1949. O radar vai estar virado para o comportamento de Hong Kong e Tóquio.
Nos mercados cambiais, o euro valorizou-se 0,7% em setembro face ao dólar, mas depreciou-se ligeiramente 0,1% face ao conjunto de divisas dos 41 principais parceiros comerciais da zona euro, segundo o índice fornecido pelo Banco Central Europeu para a variação da taxa de câmbio real efetiva do euro. No final de agosto, o euro valia 1,10 dólares e fechou setembro a trocar-se por 1,11 dólares.
As criptomoedas registaram uma subida da capitalização de mercado, em dólares, de 8,6%. Tendo fechado agosto pouco acima de 2 biliões de dólares (1,9 biliões de euros, ao câmbio da altura), encerrou setembro com uma capitalização global de 2,24 biliões de dólares (2,02 biliões de euros), segundo dados do site coinmarketcap.com. O ano de 2024 abriu abaixo de 1,7 biliões de dólares. A valorização deste mercado já soma 32% desde início do ano.
O empurrão chinês
O grande impulso para os ganhos bolsistas globais em setembro veio da Ásia, cujo índice MSCI respetivo subiu 4,6%, face a 2% para Nova Iorque (onde se localizam as duas maiores bolsas do mundo), uma subida muito modesta de 0,3% no índice que abrange os 15 mercados desenvolvidos europeus e uma quebra ligeira de 0,06% na América Latina.
A liderança asiática nos ganhos em setembro teve um ‘motor’, as bolsas chinesas. O índice MSCI China disparou 24% e o índice Zhong Hua (que abarca as duas bolsas chinesas e Hong Kong) registou um ganho de 22,5%.
A bolsa de Xangai, que era a quarta do mundo em capitalização no final de agosto, subiu 17,3% em setembro. Entre 24 e 30 de setembro, o índice desta bolsa chinesa acumulou um ganho de 20%.
O anúncio da ‘bazuca’ chinesa surpreendeu os mercados a 24 de setembro. Um trio de altos responsáveis, formado pelo governador do Banco Popular da China (PBOC), do ministro responsável pela regulação financeira e do presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, avançou com um pacote de apoios de 2,4 biliões de yuan (cerca de 310 mil milhões de euros) repartido por quatro grandes medidas.
A fatia de leão da injeção de liquidez virá da redução do rácio de reservas obrigatórias dos bancos em meio ponto percentual libertando 1 bilião de yuan (cerca de 129 mil milhões de euros), seguida de dois novos instrumentos financeiros para permitir swaps de títulos e fundos e recompra de ações pelas empresas cotadas e acionistas, e finalmente um programa de financiamento para a compra de casas não vendidas. O financiamento para swaps e apoio à recompra de ações poderá triplicar.
Ainda que não tenha mexido na taxa diretora, que se mantém em 3,35%, o PBOC reduziu a taxa a 7 dias de 1,7% para 1,5%, a relativa a 14 dias de 1,85% para 1,65% e a de médio prazo de 2,3% para 2%.
Choque Ishiba
O otimismo dos investidores nas bolsas chinesas compensou a quebra de 1,8% em setembro na bolsa de Tóquio, a terceira maior do mundo. Só no dia 30 de setembro, o principal índice de referência nipónico, o Nikkei 225, quebrou 4,8%, a terceira maior quebra do ano.
Os investidores nipónicos assustaram-se com a nomeação do novo primeiro-ministro Shigeru Ishiba, que passou a liderar o Partido Liberal Democrata, que domina a politica japonesa. Os analistas já batizaram a repercussão negativa na bolsa de Tóquio de “choque Ishiba”, pois o novo chefe do executivo é a favor da subida continuada de juros pelo Banco do Japão (BoJ). Esta é uma questão muito sensível para os mercados, que recorde-se, levou ao afundamento em 12% da bolsa de Tóquio a 5 de agosto, durante a vaga vermelha provocada pela decisão do BoJ a 31 de julho em aumentar a taxa diretora de 0% para 0,25%.
Entretanto, o novo ministro da Economia, Ryosei Akazawa, veio dizer que o pensamento do primeiro-ministro foi mal interpretado e que a política monetária do BoJ tem de ser “cautelosa”, evitando subidas de juros “prematiras”.
O Japão realizará eleições antrecipadas para a Câmara Baixa a 27 de outubro e o BoJ volta a reunir-se a 31 de outubro.
Início de cortes pela Fed não foi suficiente
Apesar de a Reserva Federal norte-americana (Fed), o banco central dos Estados Unidos, ter iniciado a 18 de setembro um ciclo de descida dos juros, com um primeiro corte robusto de meio ponto percentual (50 pontos-base, na linguagem técnica), o impacto mundial foi limitado. Nas três sessões de 18 a 20 de setembro, o índice MSCI mundial registou um ganho acumulado de 1,1%. Em termos de comparação, o anúncio da ‘bazuca’ chinesa provocou um ganho de 1,5% no índice mundial entre 24 e 27 de setembro.
Já depois das declarações de Jerome Powell, o presidente da Fed, a 30 de setembro na National Association of Business Economics em Nashville, o impacto global nas duas bolsas de Nova Iorque foi de apenas 0,4%. Powell acentuou que a Fed “não está com pressa” de carregar no acelerador dos cortes de juros. Os futuros da taxa diretora da Fed apontam, agora, para uma probabilidade de 62% para um corte de 25 pontos-base na próxima reunião de 7 novembro, dois dias depois das eleições presidenciais, e para uma probabilidade de 48% para uma descida mais robusta de 50 pontos-base na última reunião do ano a 18 de dezembro.
O impacto acumulado do primeiro corte de juros pela Fed a 18 de setembro e das expetativas atuais de mais duas descidas até final do ano foi de 2% na subida do índice bolsista para Nova Iorque em setembro. Nova Iorque conta com duas bolsas, o New York Stock Exchange em Wall Street e o Nasdaq.
O próprio Nasdaq, onde estão cotadas as mais importantes tecnológicas, subiu 2,6% em setembro, comparando com um disparo de 26% do Hang Seng Tech, o índice tecnológico na bolsa de Hong Kong, onde estão cotadas as ‘estrelas’ de alta tecnologia chinesas.
‘Magníficas’ chinesas lideram nos ganhos
Num grupo de 28 tecnológicas, que podem ser consideradas ‘magníficas’ à escala mundial repartidas pelos Estados Unidos, Europa, China e resto da Ásia (Coreia do Sul, Índia, Japão e Taiwan), dez destacaram-se nos ganhos em setembro com subidas acima de 7%. Nesse grupo, sete são chinesas, duas são norte-americanas (Tesla e Meta/Facebook) e uma é sueca (Spotify).
O disparo de valorização mais acentuado registou-se na JD.com chinesa, com uma subida de valorização de quase 56%.
Na Europa. a ASML, a NXP e a STMicroeletronics holandesas, e a Infineon alemã registaram perdas em setembro. Na Ásia, os pesos pesados Infosys indiano, Nintendo, Sony e Keyence japoneses e Samsung sul coreano viram as ações cair em setembro.