"As autoridades políticas, executivas e legislativas não só não estão a contribuir para que se determine a responsabilidade, como estão mesmo a obstruir o processo", disse à televisão regional N1 o presidente da comissão de especialistas independentes sérvios, Tanasije Marinkovic, professor da Faculdade de Direito de Belgrado.
O jurista disse que, por agora, não há ninguém em particular a ser acusado, mas a comissão vai analisar tudo e que "todos poderão avaliar a validade" das suas conclusões.
Outro dos especialistas do grupo, Danijel Dasic, sustentou que a documentação divulgada -- ainda incompleta -- aponta claramente para que "a causa [do desabamento] é a corrupção".
"É simplesmente ensurdecedor como tudo isto soa a corrupção, para onde quer que se olhe", observou o engenheiro civil.
O desabamento do telhado ocorreu quatro meses após a inauguração da estação, reconstruída por uma empresa chinesa.
O acidente, que fez 15 mortos, desencadeou manifestações em massa, lideradas pelos estudantes universitários, que exigem a verdade sobre as causas e a punição dos responsáveis.
O grupo de peritos, composto por antigos juízes do Supremo Tribunal e professores universitários de Economia e Engenharia Civil, nega que toda a documentação relativa às obras tenha sido até agora divulgada, como afirma o Presidente sérvio, o nacionalista populista Aleksandar Vucic.
Outro indício de corrupção será o facto de o orçamento inicial para a renovação ser de 3,5 milhões de euros, ao passo que, no final, o custo da obra acabou por ser de 16 milhões de euros, "sem que se saiba para onde foi todo esse dinheiro", afirmou Dasic.
A peritagem revelou que, durante a reconstrução, a cobertura da estação ferroviária foi carregada com cerca de 23 toneladas de materiais, sem que se tenha verificado se a estrutura da antiga construção, de 1964, fora projetada para tal peso e se podia suportá-lo.
"Não há dúvida de que a cobertura desabou devido ao peso adicional de construção que lhe foi colocado em cima", concluiu o especialista.
Marinkovic, por seu lado, negou hoje que os estudantes tenham bloqueado o país com os seus protestos, como criticou Vucic.
"O Presidente da Sérvia bloqueou o país, os estudantes não bloquearam o país. Ele precisa de o desbloquear, porque está bloqueado há 13 anos", defendeu o jurista, referindo-se à chegada ao poder do partido SNS de Vucic, em 2012.
Entretanto, os meios de comunicação social pró-regime continuam a desacreditar a comissão de especialistas independentes, que acusam de ser composta por "quase-peritos" que propõem "enforcar" o Presidente sérvio numa praça central de Belgrado.
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