Em declarações aos jornalistas, durante a conferência de imprensa realizada poucas horas antes do início das cerimónias da peregrinação aniversária ao Santuário de Fátima, José Ornelas disse que "o país ganharia muito em ter um orçamento" e que acredita que "alguns passos têm sido dados" para que tal aconteça.

"Mesmo num país pequeno como nós somos há lugar para ideias diferentes. O que tenho dificuldade de aceitar é quando se manipulam as coisas, quando se dão notícias falsas para chegar a...", frisou o também bispo de Leiria-Fátima.

Na sua opinião, "em política não pode valer tudo" e as mentiras fazem "perder credibilidade" quer na política, quer na Igreja.

José Ornelas defendeu que há que ter "a fidelidade e a honestidade perante as coisas de dizer: 'eu posso errar, posso cometer erros, mas tenho que estar sempre aberto a aceitar criticamente tudo isso e a aceitar também que outros possam ter pontos de vista diferentes dos meus'".

"Que o digam as famílias e cada um de nós se o orçamento não tem de ser objeto de um compromisso, de projetos que têm de ser redimensionados por causa da realidade que nós temos e dos recursos que temos à disposição. E sobretudo quais são os valores e as prioridades que damos a tudo isso", frisou.

Neste âmbito, referiu ser normal haver "um jogo político", em que haja "capacidade de discutir e de divergir".

"Agora, nós depois temos de chegar a um compromisso de dizer que, se não puder ser tudo este ano, para o ano vamos encontrar mais. Eu não considero este país adiado, têm sido dados alguns passos", tal como aconteceu no passado, defendeu.

Questionado sobre as compensações financeiras para as vítimas de abuso sexual da Igreja, José Ornelas garantiu que "tudo se está a fazer para evitar a revitimização".

Segundo o bispo de Leiria-Fátima, "a maior parte destas pessoas que já tem a sua história contada não irá contá-la de novo".

"Todos sabemos que [a revitimização] é penosa e não queremos. Queremos que isto seja um momento de reconhecer o mal que foi feito a estas pessoas, de sentirem que afinal foram vítimas e não são inimigos de ninguém", frisou.

No seu entender, este deve ser "um momento de pacificação e de contributo para a superação das dificuldades, como já está a ser, com a facilitação de ajuda psicológica, psiquiátrica, etc".

A CEP aprovou em abril a criação de um fundo, "com contributo solidário de todas as dioceses", para compensar financeiramente as vítimas de abuso sexual no seio da Igreja Católica em Portugal.

"Para dar seguimento a este processo, a Assembleia definiu que os pedidos de compensação financeira deverão ser apresentados ao Grupo VITA ou às Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis entre junho e dezembro de 2024", anunciou a CEP no final da sua Assembleia Plenária realizada em Fátima entre 08 e 11 de abril.

Segundo o episcopado, "posteriormente, uma comissão de avaliação determinará os montantes das compensações a atribuir".

O Grupo VITA foi criado pela CEP em 2023, na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica - que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.

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