As duas maiores seguradoras a operar em Portugal afirmam ao Expresso que após os tumultos de outubro, quando foram registados eventos de desordem e incêndio em equipamentos urbanos (mobiliário, maioritariamente caixotes do lixo) e viaturas privadas e públicas, se verificou um aumento de pedidos para as coberturas relativas a atos de vandalismo. Qual o crescimento preciso? Não é possível ainda apurar, e se se deveu aos incidentes verificados em outubro que tiveram início no Bairro do Zambujal, em Lisboa? Também não se sabe. Mas certo é que houve um aumento destas coberturas.
O seguro para atos de vandalismo no automóvel é adicional à cobertura obrigatória, responsabilidade civil contra terceiros, esta tem apenas incluída a cobertura contra incêndio.
Questionado pelo Expresso, o grupo Fidelidade refere: "parece ter existido um ligeiro aumento da venda dessas coberturas na última semana de outubro e primeira de novembro, mas que parece ter estabilizado", embora, "seja difícil ter uma visão clara sobre as causas".
Já o grupo Generali/Tranquilidade afirma: "verificou-se um aumento da subscrição desta cobertura no final de outubro, altura em que registámos o valor mais elevado do ano". Contudo, em relação a novembro, "ainda não temos dados".
O grupo Ageas não respondeu ao Expresso.
Recorde-se que a onda de vandalismo começou dia 21 de outubro na sequência da morte de Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos que vivia no Bairro do Zambujal, na Amadora.
Entre dia 21 e fia 30 foram registadas mais de 140 ocorrências de desordem e incêndio na Área Metropolitana de Lisboa, tais como Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, LOures, Odivelas, Oeiras, Seixal, Sintra e Vila Franca de Xira.
Questionadas as duas seguradoras que em conjunto detém 41,1% de quota de mercado, - a Fidelidade 26,9% e a General/Tranquilidade 11,5% -, apenas o grupo Generali diz ter tido, "até ao momento, três participações" no decurso destes sinistros, e todas elas tinham cobertura adicional.
Já a Fidelidade, diz não conseguir "identificar uma alteração significativa nos sinistros reclamados de atos de vandalismo, nas datas específicas".
Como já referiu o Expresso, para este tipo de atos, não chega ter o seguro contra terceiros que inclui a cobertura incêndio, é preciso ter, segundo as seguradoras, a cobertura de atos de vandalismo, já que é disso que se trata, nestes casos. Ao Expresso a Fidelidade, no início de novembro, fez uma simulação relativamente ao que pode custar esta cobertura adicional. "Pode custar €15 por ano para um veículo com valor médio entre €15.800 e €17.100 e cujo prémio custe €255", assim como afirmou ter recebido "duas participações da Carris, mas como a “frota de autocarros” tem só o seguro obrigatório de responsabilidade civil, não há lugar a indemnização.
No início de novembro, quando o Expresso fez um balanço, as duas seguradoras, Fidelidade e a Generali/Tranquilidade referiram que os atos de vandalismo são mais comuns do que se pode imaginar.
O grupo Generali disse que até outubro foram registados 1583 sinistros relativos a atos de vandalismo, quase tantos quanto foram contabilizados em 2023, os quais ascenderam a 1637.
Já a Fidelidade diz receber "cerca de 200 participações relacionadas com atos de vandalismo por mês, no ramo automóvel”. A Fidelidade acrescentou ainda que o grupo tem “cerca de 2,4 milhões de veículos seguros, dos quais, apenas 28% tem cobertura de atos de vandalismo”, o que representa um “gap de proteção que poderia ser corrigido”.
O Expresso também contactou a Ageas, mas mais uma vez não obteve resposta.