Os subsídios para baixar preços durante a crise inflacionista dos últimos dois anos foram a medida principal usada por 75% dos governos das economias desenvolvidas, refere um estudo divulgado esta quarta-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

A análise foi publicada no segundo capítulo do World Economic Outlook que aborda a política monetária durante a crise inflacionista de 2022 e 2023 e as medidas complementares tomadas pelos governos em virtude da lentidão do efeito desinflacionista da subida dos juros pelos bancos centrais.

O FMI refere-se a estes instrumentos orçamentais como politicas de “supressão de preços” tendentes a manter os preços abaixo do nível em que deveriam estar e sublinha que tiveram três consequências negativas: provocaram custos orçamentais elevados; contrariam os objetivos das políticas de transição climática (pois, em grande medida, se dirigiram aos combustíveis e eletricidade); e sobreaqueceram o consumo, o que gerou ainda mais inflação.

O World Economic Outlook, o principal documento de previsões macroeconómicas e recomendações de políticas, será divulgado na íntegra na próxima semana durante a assembleia anual do FMI que vai decorrer em Washington DC entre 21 a 26 de outubro, em conjunto com a reunião anual do Banco Mundial.

‘Supressão’ de preços liderou nas economias desenvolvidas

O estudo do FMI abrangeu 174 países, revelando que 75% das economias desenvolvidas usaram os subsídios como principal instrumento orçamental para combater o surto inflacionista. Nas economias emergentes o recurso à “supressão de preços” foi inferior, abrangendo 50% desses países e, nas economias pobres, ficou-se por 40%.

Os subsídios dirigiram-se sobretudo aos combustíveis e à eletricidade, mas também atuaram no consumo em geral através de reduções do IVA em outros sectores, refere o estudo.

O FMI destaca um caso em particular na distorção de preços ocorrida na zona euro, no caso da energia, em que um estudo de Mai Chi Dao, uma economista do Fundo, e Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do Fundo, revela que, em meados de 2022, no auge do surto inflacionista, a diferença no índice de preços no consumidor era de cerca de 60 pontos entre os preços subsidiados no mercado e os preços se não tivessem sido subsidiados. O índice de preços em causa era de base 100. No caso estudado, os preços se não fossem subsidiados teriam estado mais de 30% acima.

Inflação deve ser combatida sobretudo pelos bancos centrais

O estudo do FMI conclui que “o uso de instrumentos alternativos [à política monetária] exige uma avaliação cuidadosa da sua eficácia e compromissos para minimizar os efeitos adversos potenciais”.

No entender do Fundo, o instrumento fundamental para o combate a um “episódio de inflação” (a um surto inflacionista) é a política monetária e não o uso de “medidas não convencionais” no arsenal orçamental.

No capitulo divulgado esta quarta-feira, o FMI fala de um “Grande Aperto” monetário à escala global, ainda que, em alguns casos, a reação tenho sido tardia, como no caso do Banco Central Europeu que só começou a subir as taxas em julho de 2022, quando a inflação já estava em quase 9%.

No levantamento feito pelo Expresso, os bancos centrais tomaram 367 decisões de subidas de juros em 2022 e 165 em 2023. A taxa diretora média subiu de 5,51% em 2021 para 11,3% em 2023. A inflação mundial subiu de 4,7% em 2021 para um pico de 8,7% em 2022 e baixou para 6,8% em 2023. Para 2024, o FMI previa, em abril, que fique abaixo, mas próximo de 6%.

O processo de desinflação (descida da inflação) foi mais rápido nos sectores com maior flexibilidade de preços (nomeadamente energia) do que nos serviços e em sectores com preços mais rígidos, o que leva a que a descida global da inflação para 3 a 4% - o intervalo de variação média desde 2000, excluindo os surtos inflacionistas de 2008 e de 2022-2023 - seja mais lenta.