Os bilhetes para os concertos dos Oasis estão à venda por milhares de euros nos sites de revenda. Depois de o grupo britânico ter anunciado o muito antecipado regresso, numa série de espetáculos no Reino Unido e na Irlanda, no verão do próximo ano, os fãs procuraram, em massa, conseguir um lugar nos concertos. Mas foram milhares e milhares aqueles que viram as expectativas frustradas – e que têm agora de decidir se querem (e podem) conseguir esses lugares à custa de um enorme esforço financeiro.

O problema começa logo no momento inicial da venda. Depois de horas de espera nas filas dos sites oficiais para a compra de bilhetes - neste caso, a Ticketmaster - muitos já não conseguem bilhetes disponíveis ou só os conseguem por centenas de euros (valor muito superior ao inicialmente esperado).

Isto acontece porque, atualmente, as plataformas como a Ticketmaster, responsáveis pela venda de bilhetes para espetáculos de grande dimensão, utilizam o chamado sistema de “preços dinâmicos”. Significa que não existem preços fixos, eles vão variando e aumentando conforme a dimensão da procura nas plataformas de venda, sem nenhum critério específico definido. Com os fãs a arriscarem pagarem valores muito diferentes entre si e entre as expectativas iniciais estabelecidas.

Drew Angerer

Mas a situação torna-se ainda pior quando, mesmo a estes preços, os bilhetescomprados intencionalmente pelos chamados “scalpers”, com a únicaintenção de os revenderem por um valor ainda mais altoesgotam. Os fãs que querem mesmo assistir aos espetáculos veem-se, assim, empurrados para os sites de revendas, onde são obrigados a pagar valores ainda mais astronómicos pelas entradas. No caos dos concertos dos Oasis, os preços por um lugar na plateia ou nas bancadas ascendem aos milhares de euros.

Depois de os bilhetes terem esgotado, os Oasis vieram avisar que só podiam ser revendidos nas plataformas oficiais da Ticketmaster e da Twickets.

Mas nem isso está a ajudar a limpar a imagem dos irmãos Liam e Noel Gallagher, que os fãs estão a acusar de falta de transparência. Entre o público, há também quem os critique por praticarem agora preços que “não se alinham” com “os valores e o espírito” da banda.

Um sistema “avariado”

Os pedidos por mudanças no atual sistema de venda de bilhetes para grandes espetáculos não são de agora. Recorde-se, por exemplo, os polémicos casos da venda de bilhetes para os concertos de artistas como Taylor Swift (em que uma série de fãs avançou mesmo com processos na Justiça contra a Ticketmaster, merecendo também a plataforma duras críticas por parte da cantora).

The Washington Post

A Ticketmaster alega que não define os preços, que isso cabe aos organizadores dos eventos, que os estabelecem conforme o valor de mercado – mas os organizadores dos eventos são, frequentemente, as grandes promotoras (e não diretamente os artistas). Tecnicamente, os artistas podem escolher o sistema de preços que querem ver aplicado, mas há relatos de casos em que houve preços dinâmicos de bilhetes sem que os artistas tenham sequer tido uma palavra a dizer).

Mas agora, mesmo dentro do próprio setor, há quem admita as falhas do sistema e defenda a necessidade de uma forma de venda que proteja os consumidores.

Numa recente entrevista a um podcast da Sky News, um dos responsáveis do Viagogo, uma popular plataforma de revenda de bilhetes, afirma que o anúncio do regresso dos Oasis “quebrou” o sistema e gerou o “caos”.

“É um sistema que não se adequa ao objetivo” , reconheceu Matt Drew. “Está claramente avariado e as bandas e os consumidores são quem está a perder .

"Pedir aos fãs que comprem bilhetes com tanta antecedência, pô-los em filas gigantes, que são pré-filas de outras filhas, e depois expulsá-los destes serviços, tendo de pagar o triplo do preço inicial no final da compra - são cenários que ilustram a confusão que isto é”, descreveu, admitindo a necessidade de mudanças.

Cabe aos governos fazer alguma coisa?

A venda de bilhetes para espetáculos respeita as regras do mercado livre, mas, no caso recente dos concertos dos Oasis, a escalada de preços foi tão flagrante que o próprio governo britânico decidiu pronunciar-se e prometeu agir.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, já veio afirmar que o governo do Reino Unido vai analisar de perto a situação e “agarrar-se” ao problema.

O executivo britânico diz querer “incluir questões relacionadas com a transparência e a utilização de preços dinâmicos, a tecnologia dos sistemas de filas de espera que os incentivam, na consulta sobre a proteção dos consumidores em matéria de revenda de bilhetes”.

Os Oasis anunciaram, na última semana, o regresso aos palcos, 15 anos após a separação da banda, depois de um conflito entre os irmãos Liam e Noel. A banda vai levar a cabo a digressão OASIS LIVE '25, que vai passar, no verão de 2025, pelas cidades de Cardiff, Manchester, Londres, Edimburgo e Dublin.