Gravados com uma câmara Super 8, os filmes não permitem refilmagens, edição ou pós-produção. Ao realizador, cabe a árdua tarefa de criar um filme em apenas um take e depois, sem conseguir ver o projeto final, pensar o som separadamente.

É este o mote Straight 8 e Vieira Vasco conhece-o de perto. Aos 34 anos, vive em Londres desde 2012 e há três anos que é presença assídua no concurso. Tem-se mantido sempre entre os melhores e este ano foi um dos oito realizadores que tiveram a oportunidade de estrear a curta-metragem no Festival Internacional de Cinema de Cannes.

“Chama-se KILLJOY. É um poema audiovisual sobre a minha auto sabotagem a quem eu dei o nome de KILLJOY. Veio tudo de um curso que eu fiz com um livro que se chamava o caminho do artista, muito famoso por desbloquear a criatividade e, ao fazer os exercícios do livro, percebi que poderia dar o nome a esta minha auto sabotagem e que isso facilitaria a separação na minha cabeça. O filme fala de como eu consegui identificar e matar essa minha auto sabotagem e, por isso, ultrapassá-la e criar sem obstáculos”, explicou Vasco à SIC Notícias.

O Straight 8 começou em Londres em 1999 e ao longo destes 25 anos tem juntado entusiastas de todo o mundo. Este é oterceiro ano consecutivo em que as curtas-metragens viajam até às salas de cinema nacionais.

“Foi bastante interessante ver que há uma procura porque no primeiro ano enchemos a sala. Não esgotou, mas tivemos uma sala bem composta tanto no cinema Trindade como na Cinemateca. No segundo se calhar houve menos publicidade e então os números baixaram um pouco, mas geralmente há interesse nestas estreias. Portanto, espero agora, à terceira, encher e esgotar”, explicou Vasco que impulsionou a estreia dos filmes em Portugal.

Realizador e público veem o filme pela primeira vez ao mesmo tempo

O concurso é aberto a todos e os participantes têm de realizar um filme utilizando apenas um rolo de super-8. Os 25 melhores são exibidos no ecrã IMAX do British Film Institute, em Londres. O Top 8 tem a oportunidade de estrear em Cannes. Para Vasco é essa pressão de fazer o filme em apenas um take que torna este projeto diferenciador.

“É uma sensação de adrenalina que não se compara. Já está. Não se pode voltar atrás, não se pode refazer, a não ser que se comece tudo de novo e, portanto, é essa tal liberdade que eu falo que não existe em mais lado nenhum. Uma vez que está gravado na película acabou. Ou se muda a história se correr alguma coisa mal, ou se anda para a frente e ignora-se o que tiver acontecido”.

SIC Notícias

Para que tudo corra da melhor forma é necessário planear o filme ao pormenor e ensaiar tudo para que ao clicar no botão de gravação todos saibam como agir. “Nós filmamos durante dois dias e o primeiro foi para filmar uma parte digital que ia ser filmada em super 8 e o segundo dia foi tudo de rajada”.

“Foi uma ótima experiência e depois como não sabemos se vamos ver o filme ou sequer se não vai sair tudo preto, há uma liberdade extra que se ganha ao fazer o filme (...). Eu tenho dito que não sabia fazer filmes antes de fazer este Super 8. Aí percebi que o trabalho não é o mesmo de quando se pode filmar com vários takes, mas é um exercício de organização e de preparação fulcral para qualquer realizador”.

Os filmes vão poder ser vistos dia 19, quinta-feira, às 19:30 no cinema Trindade, no Porto, de forma gratuita, e no dia seguinte, 20, na Cinemateca Portuguesa, às 21:30, mediante compra de bilhete.