Por fora, o mundo de Diddy reluzia. Era respeitado pelos seus pares na música, aclamado pela indústria enquanto artista e empreendedor e admirado por milhões de fãs em todo o mundo. Por dentro, apodrecia. Era um predador sexual, um agressor violento e promotor da degradação de muitas e muitas mulheres. Pelo menos, é isso que tentam agora provar em tribunal várias daquelas que afirmam ter sido vítimas dos aterradores crimes da estrela norte-americana.

Sean Combs, conhecido no mundo do hip-hop como Diddy, Puff Daddy e P. Diddy, enfrenta agora, na justiça norte-americana, acusações de tráfico sexual, extorsão, trabalhos forçados, subornos... Uma lista quase sem fim, traçada, ao longo dos tempos, pelo jornal The Guardian.

Foi em novembro do último ano, que a ex-namorada de Diddy, a cantora Cassandra Ventura, conhecida como ‘Cassie’, ganhou coragem para denunciar a violência de que foi alvo durante a relação de mais de uma década que mantiveram. A partir daí, o império da estrela norte-americana começou a ruir.

Década de 1990 – as primeiras condenações

Nitro/Getty Images

Quase desde o início da carreira que Diddy teve problemas com a Justiça - mas, na altura, em vez de prejudicarem a ascensão do artista, até ajudaram a cimentar a aura de “bad boy”(expressão que, aliás, dá nome à editora musical de que é proprietário).

Em 1998, foi acusado de agressão e condenado a uma formação para aprender a controlar a raiva. Logo no ano a seguir, em 1999, foi acusado por posse de arma, após um tiroteio numa discoteca, acabando ilibado.

No entanto, as denúncias de crimes de abuso e violência sexual só surgiriam muito mais tarde. Foi em 2019 que uma ex-namorada de Diddy, Gina Huynh, alegou ter sido vítima de abusos físicos e emocionais durante o relacionamento com o rapper. Nunca chegou a apresentar queixa.

16 de novembro de 2023 - Cassie quebra o silêncio

Violência física e violações. São os crimes que Cassie diz ter sofrido às mãos de Diddy, enquanto foi namorada do rapper, entre 2007 e 2018. Terminada a relação, a cantora decidiu levá-lo à Justiça, abrindo um processo contra o artista.

Na ação judicial, Cassie diz ter sido atraída para um estilo de vida de “ostentação” e “drogas”, que resultou num “ciclo de abuso, violência e tráfico sexual”. Afirma que foi obrigada a atos sexuais com outras pessoas contra a sua vontade. E que Diddy foi até violento com aqueles que se aproximavam dela – como foi o caso do rapper Kid Cudi, a quem a estrela terá destruído o carro, para mantê-lo afastado de Cassie.

17 de novembro de 2023Cassie e Diddy chegam a “acordo”

Amanda Edwards/Getty Images

Um dia depois de Cassie ter anunciado que ia levar o ex-namorado a enfrentar a Justiça, faz um novo anúncio público. Tinha, afinal, chegado a um acordo judicial com Diddy – cujos termos não foram revelados.

“Decidi resolver este assunto de uma maneira amigável em termos sob os quais tenho algum nível de controlo”, disse, na altura, a cantora.

24 de novembro de 2023 – Dois novos casos de ataques sexuais

Apesar do “acordo amigável” com Cassie, a caixa de Pandora estava aberta e Diddy não voltaria mais a ter descanso. Dias depois, começam a surgir novos processos judiciais contra o artista – com acusações que remontam à década de 1990.

O primeiro era uma denúncia anónima. Uma mulher afirmou ter sido coagida a ter relações sexuais por Diddy e por mais outro homem.

O segundo caso foi levado à Justiça por Joi Dickerson-Neal. Uma mulher que diz que Diddy a drogou e abusou sexualmente, tendo filmado o ato e divulgado as imagens do mesmo.

29 de novembro de 2023 – Carreira de Diddy começa a ser atingida

Samir Hussein/Getty Images

Perante a série de acusações que começavam a surgir, Diddy abandona o cargo de presidente da Revolt, a rede de televisão fundada pelo artista.

Ao mesmo tempo, a plataforma Hulu desiste de um reality show centrado no artista e na família dele, que estava em produção.

6 de dezembro – Tráfico sexual de menor (e Diddy nega tudo)

Uma nova denúncia: uma mulher diz ter sido violada em grupo e vítima de tráfico sexual às mãos de Diddy. E há uma agravante: era menor de idade, teria apenas 17 anos na altura.

O rapper vem publicamente negar todas as acusações.

“Não fiz nenhuma das coisas horríveis que andam a alegar. Vou lutar pelo meu bom nome, pela minha família e pela verdade”, declarou.

26 de fevereiro de 2024 – Um homem também foi vítima

Até aqui, todas as queixas que tinham vindo a público tinham partido de mulheres. Mas eis que há uma viragem e aparece um homem – e dentro do meio musical – a queixar-se da conduta sexual de Diddy.

Trata-se do produtor musical Rodney Jones. Acusa o rapper de o ter tentado aliciar para uma relação homossexual, enquanto trabalhavam no álbum lançado por Diddy em 2023.

Os advogados de Diddy classificaram as declarações como “pura ficção”.

25 de março de 2024 – Buscas em casa de Diddy

GIORGIO VIERA/Reuters

As casas de Diddy em Los Angeles, na Califórnia, e em Miami, na Flórida, são alvo de buscas por parte da justiça norte-americana.

Em causa estava uma investigação a crimes de tráfico sexual.

As buscas não culminaram, contudo, com nenhuma detenção ou acusação contra o artista, na altura.

17 de maio de 2024 – Vídeo de agressão a Cassie choca o mundo

Se a primeira denúncia de Cassie tinha sido o princípio da queda de Diddy, este seria o momento do verdadeiro precipício. O canal de televisão CNN internacional divulgou imagens de videovigilância que mostravam, de forma nua e crua, o popular rapper a agredir a cantora.

Diddy é visto a arrastar Cassie pelos cabelos e a pontapeá-la no corredor de um hotel em Los Angeles. Agressões que tinham ocorrido no ano de 2016.

Sem poder negar que é o próprio a protagonizar as imagens, Diddy emite um pedido de desculpas. “Tomo total responsabilidade pelas minhas ações naquele vídeo”, afirmou.

22 de maio de 2024 – Mais dois processos na Justiça

O vídeo da agressão a Cassie motivou outras alegadas vítimas de Diddy a quebrarem o silêncio.

Passado menos de uma semana desde a publicação das imagens que chocaram o mundo, foi a vez da modelo Crystal McKinney avançar com um processo judicial contra o artista. O caso remontava a 2003. A modelo afirma que Diddy a drogou e forçou a fazer sexo oral.

Dias depois, vem a público mais uma alegada vítima, April Lampros. Acusa Diddy de quatro agressões sexuais, que terão ocorrido entre 1995 e 2000 e diz, num relato que já vinha a tornar-se habitual, que o artista filmou esses mesmos atos e que os divulgou.

7 de junho de 2024 – Diddy perde grau académico e chave de Nova Iorque

Cindy Ord/Getty Images

A Howard University, em Washington DC, anuncia que vai retirar a Diddy o grau académico honorário que lhe tinha sido concedido e acaba com o programa escolar em nome do artista que existia na instituição de ensino.

Também a autarquia de Nova Iorque exige ao rapper que devolva a chave da cidade de Nova Iorque, que lhe tinha sido atribuída de forma simbólica - por ali ter nascido e erguido o seu império musical. O autarca Eric Adams diz-se “muito chocado” com as imagens das agressões de Diddy a Cassie.

4 de julho de 2024 – Novas queixas de tráfico sexual

Desta vez é Adria English a mulher que afirma ter sido vítima de tráfico sexual, às mãos de Diddy, entre 2004 e 2009, durante as famosas “festas brancas” do artista.

O rapper e os advogados deste continuam a negar todas as alegações, apesar do número crescente de processos na Justiça.

10 de setembro de 2024 – Mais um caso masculino (e Diddy falta a audiência judicial)

Derrick Lee Cardello-Smith acusa Diddy de o ter drogado e abusado sexualmente dele numa festa em 1997. O rapper deveria marcar presença numa audiência virtual relativa ao caso, mas não aparece. A ausência valeu-lhe o pagamento de 100 milhões de dólares ao queixoso. A defesa do rapper alega que Diddy nem sequer sabe quem é Cardello-Smith.

11 de setembro de 2024 – Uma denunciante de relevo

Gareth Cattermole/Getty Images

Depois de Cassie, surge mais uma artista musical conhecida a assumir-se como vítima de Diddy. Trata-se de Dawn Richard, integrante da girl band Danity Kane (um grupo formado por Diddy). Afirma que o artista a atacou sexualmente por várias vezes, além de exercer sobre ela abuso verbal e assédio laboral.

Dawn Richard vem ainda dar eco às próprias denúncias de Cassie, garantindo ter sido testemunha de agressões de Diddy à cantora em mais do que uma ocasião.

16 de setembro de 2024 – A detenção

É chegado o momento. Diddy é detido em Nova Iorque, por suspeitas de tráfico sexual e extorsão.

A acusação federal fala numa “rede criminosa” que levou a cabo “entre outros crimes, tráfico sexual, trabalho forçado, rapto, fogo posto, suborno e obstrução à justiça”.

17 de setembro de 2024 – Pagamento de fiança negado

Jane Rosenberg/Reuters

Diddy não é autorizado a sair em liberdade sob o pagamento de uma fiança e é enviado para a cadeia.

Os procuradores judiciais afirmam que há um “sério risco de fuga” do artista e consideram que ele tem “o dinheiro, os meios e o poder” para conseguir escapar sem ser detetado.

Quando é presente a tribunal, o rapper declara-se inocente.

24 de setembro de 2024 – E os casos não acabam

Já depois da detenção de Diddy, continuam a surgir denúncias contra o artista. A mais recente parte de Thalia Graves, que, num novo processo judicial, acusa o rapper e o guarda-costas deste de a terem agredido sexualmente, filmado a agressão e partilhado a gravação da mesma. O caso terá acontecido há duas décadas.