No ano em que se assinalam 51 anos da Revolução dos Cravos, recuamos no tempo e destacamos 10 factos perfeitamente habituais nos dias de hoje, mas que durante o Estado Novo eram impensáveis. Umas mais conhecidas que outras, quase todas inacreditáveis, no tempo em que uma mulher, entre muitas coisas, não podia ser juíza.

1. Beber Coca-Cola

A justificação era que podia causar habituação, mas também seria de contar com a proteção dos produtos nacionais, como no caso da proibição de vinhos estrangeiros. A Coca-Cola apenas viria a ser legalizada em 1977.

2. Usar isqueiro na rua sem licença

Para proteger a indústria dos fósforos, quem quisesse usar um isqueiro na rua tinha de ter uma licença das Finanças, exclusiva para o portador. Reza a lenda que, como a lei dizia que o isqueiro podia ser usado livremente “debaixo de telha”, alguns andavam com um pedaço de telha no bolso.

3. Dobragens

Em 1948, uma lei proibiu a dobragem de filmes e séries, alegando a defesa da produção nacional. Desta forma, além de afastar grande parte dos analfabetos das ideias que chegavam do estrangeiro, podia adulterar o conteúdo de forma mais económica, através das legendas.

(REPORTERS ASSOCIES/Gamma-Rapho via Getty Images)
(REPORTERS ASSOCIES/Gamma-Rapho via Getty Images) Fama Show

4. Mostrar o corpo feminino

Na praia, era proibido andar de umbigo à mostra e mesmo o fato de banho não podia ser muito cavado ou ter um decote muito grande. Já no liceu, tinham de andar de calças e só nas aulas de laboratório de Química é que as jovens podiam arregaçar as mangas, só até ao cotovelo.

5. Beijos na rua

Habitualmente ao postigo ou com um acompanhante, se fosse namoro na rua podia resultar em multa e uma rapadela de cabelo. As multas eram: Mão na mão 2$50; Mão naquilo 15$00; Aquilo na mão 30$00; Aquilo naquilo 50$00; Aquilo atrás daquilo 100$00; Com a língua naquilo 150$00 de multa, preso e fotografado.

6. Casar com uma professora livremente

Só era possível trocar alianças como uma professora caso o noivo apresentasse um atestado de bom comportamento moral e cívico, comprovasse que ganhava o suficiente para a sustentar e, mesmo assim, o matrimónio tinha de ser aprovado pelo Governo, com despacho publicado no Diário do Governo (antecessor do Diário da República). Já as enfermeiras não podiam mesmo ser casadas.

Dans le port de pêche de Lisbonne, Portugal, en 1967. (Photo by KEYSTONE-FRANCE/Gamma-Rapho via Getty Images)
Dans le port de pêche de Lisbonne, Portugal, en 1967. (Photo by KEYSTONE-FRANCE/Gamma-Rapho via Getty Images) Fama Show

7. Jogar às cartas num comboio

Os jogos de azar não eram bem-vistos. Também não era admissível falar sobre política, estar embriagado ou abrir as janelas se os outros passageiros não quisessem.

8. Andar descalço na rua

Embelezado como questão de saúde, o que faz obviamente sentido, pelo perigo de infeções, o principal problema era ser um sinal de pobreza, que deveria ser ocultado. Oficialmente, não existia pobreza extrema em Portugal.

9. Reunir

As reuniões estavam proibidas, limitando-se os ajuntamentos de população aos estádios de futebol e locais de culto da Igreja, não fossem dois dos três pilares do Estado Novo.

(Sefton Samuels/Popperfoto via Getty Images)
(Sefton Samuels/Popperfoto via Getty Images) Fama Show

10. Uma mulher andar sozinha na rua à noite

Só as trabalhadoras do sexo o podiam fazer. Qualquer outra podia ser levada para a esquadra até que um familiar a fosse buscar e justificar o motivo para estar sozinha à noite.