Prontos ou não, estamos prestes a dizer 'adeus' ao horário de verão. É já nesta madrugada de domingo, 27 de outubro, que os relógios, quando marcarem as duas horas da manhã, irão atrasar uma hora. Mas, afinal, porque o fazemos e quais as consequências dessa alteração para o nosso corpo?

No programa das manhãs da SIC, Casa Feliz, Cátia Reis, uma cronobióloga, isto é, uma especialista na biologia dos ritmos, esclareceu todas as dúvidas sobre a questão em torno da mudança do horário e, sobretudo, como esta alteração pode impactar o sono e consequentemente o nosso bem-estar.

Em primeiro lugar, a convidada do programa da estação de Paço de Arcos deixou a garantia que, na sua visão, deveria ser o horário de inverno, a anoitecer e a amanhecer mais cedo, a estar sempre patente em Portugal. A razão? "Os dias são maiores", explicou, detalhando que, neste horário se otimiza o aproveitamento da luz solar.

"É aquela [hora] que está mais alinhada com o horário solar. Menos tempo de luz ao fim do dia, mas temos mais tempo de luz de manhã. E de manhã nós temos que levantarmo-nos", elucidou a especialista, destacando, logo depois, um estudo com diretrizes em relação a vários países, inclusive com dados para Portugal.

"Demonstramos que a exposição à luz solar está associada a um maior bem-estar. Uma melhor qualidade de sono, um maior bem-estar geral. Por isso, aquilo que nós devemos é aproveitar o sol que nós temos. Muitas vezes não o fazemos, acabamos por ficar sempre dentro de casa, a recorrer a luz artificial, mas se nós estivermos lá fora, mesmo com o tempo nublado, é preferível do que ficar em casa debaixo de uma luz artificial", especificou.

De notar que, para Cátia Reis, em Portugal existe frequentemente a tendência para desvalorizar a luz do sol e tal, segundo a própria, não deveria acontecer. "O sol é um alimento para tudo, nomeadamente para os nossos ritmos biológicos, porque é através do sol que nós conseguimos sincronizar. (...) O problema aqui é quando nós desalinhamos os nossos três relógios, aí é que começamos a sofrer algumas consequências".

Mas, afinal, temos três tipos de relógios? Quais são?

Biológico, solar e o social: estes são os chamados 'três relógios' com que o ser humano lida, muitas vezes sem se aperceber, diariamente. O primeiro, biológico, refere-se ao relógio interno, que é, na prática, o nosso ritmo biológico. "Há pessoas que são mais matutinas, outras mais notívagas e consoante isso nós adaptamo-nos mais facilmente ou menos a madrugadas ou a noitadas", partilhou a cronobióloga.

Em relação ao relógio solar, trata-se, como o próprio nome indica, do sol como relógio. É exatamente este tipo de relógio que permite com que possamos, diariamente, sincronizar todos os nossos ritmos biológicos. Por último, o relógio social, isto é, o relógio de pulso. "É aquele que nós temos que utilizar para o nosso dia a dia para ir trabalhar, ir para a escola e coisas do género", explicou Cátia Reis.

Última questão: o que iria acontecer se mantivéssemos o horário de verão no inverno?

Em conversa com João Baião e Diana Chaves, a especialista foi muito clara em relação ao que aconteceria se não existisse a alteração do horário de verão para inverno. "Mais um ou dois meses, às 9 horas da manhã, ainda ia ser de noite, o que não é assim agradável", afirmou, mais uma vez destacando a importância da luz solar, sobretudo durante a manhã, para o ser humano lidar com o seu dia a dia.