Vários atores portugueses têm utilizado as redes sociais para denunciar atrasos prolongados nos pagamentos por parte dos estúdios de dobragem LisbonWorks e 112 Studios. As dívidas acumuladas ultrapassam, em alguns casos, os 12 meses, afetando dezenas de profissionais.
“As dívidas passaram de 3 meses a 5, 6, 9 e, em alguns casos, ultrapassaram os 12 meses. Começámos finalmente a falar entre nós e percebemos este ano que muitos tinham dívida e ninguém estava a receber há vários meses destes dois estúdios. Simultaneamente, continuávamos a acumular dívida porque demos voz a projetos de continuidade e porque acreditávamos que iriam acabar por pagar”, pode ler-se num comunicado partilhado por Rita Cruz, a Lukemia de ‘A Fazenda’.
À MAGG, o ator e diretor de atores João Araújo explicou: “No caso da 112 [Studios], as dívidas atingem valores superiores a 30 mil euros, só um dos nossos colegas tem uma dívida de 10 mil. Isto também é um bocadinho culpa nossa de deixarmos protelar esta situação durante este tempo todo, porque as dívidas já têm dois anos, muitas das dívidas chegam a ultrapassar os 365 dias. O que acontece neste estúdio é que eles vão garantindo que a gente continue a trabalhar lá, porque nos vão continuando a dar trabalho”.
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“Nickelodeon continuou a atribuir-lhes trabalhos”
João Araújo revelou também que alguns canais continuaram a trabalhar com a 112 Studios, apesar das denúncias: “Clientes como o Panda e a RTP não querem saber, não sei, não sei como é que eles agem perante estas situações. Não sei se compactuam com isto ou se não querem saber simplesmente”.
“O caso da Nickelodeon é um bom exemplo também. A Nickelodeon Portugal, já depois de saber disto, continuou a atribuir-lhes trabalhos. O sindicato trocou vários e-mails com a responsável da Polónia, com o conhecimento do José Pedro, o responsável pela Nickelodeon Portugal, e o José Pedro simplesmente demarcou-se de qualquer situação que pudesse vir a acontecer. Os argumentos que utilizou foi que não tinha razões de queixa do comportamento do 112 [Studios] durante estes 10 anos de colaboração,continuou.
“E foi-lhe explicado que eles tinham dívidas para com os atores, dívidas essas enormes, e ele simplesmente não quis saber. Eu enviei um e-mail em nome do coletivo – e não do sindicato – para a responsável internacional que opera em Milão e ela disse que ia averiguar a situação. Passadas três semanas, o José Pedro foi despedido da Nickelodeon Portugal e, pelo menos, as séries da Nickelodeon estão a começar a ser retiradas desse estúdio”, fez saber ainda.
Segundo o mesmo site, José Luiz Alves, CEO da 112 Studios, terá substituído atores em boicote por novos profissionais, muitos sem conhecimento das razões das substituições. Paloma del Pillar, uma das atrizes afetadas, foi trocada por uma colega do Porto, a quem foi dito que ela “não queria fazer a série”. “Temos colegas que deviam estar mais unidos nesta situação connosco, porque é uma questão de empatia. Hoje está a acontecer connosco e amanhã vai acontecer com eles. Os colegas que nos foram substituir vão ficar a pedir o dinheiro deles durante muito tempo”, alertou o ator.
“Está tudo saldado”
À TV 7 Dias, o ator Nuno Pardal confirmou ser um dos profissionais afetados pela conduta do 112 Studios. “Trabalhei para eles, mas ficou um filme em dívida. Já desisti porque passou muito tempo, mas estou a apoiar a equipa que expôs o caso”, referindo que a dívida ronda os 600€.
José Luiz Alves garantiu à publicação que está a preparar uma solução para saldar a dívida: “Vou hipotecar o meu imóvel para me conseguir refinanciar e conseguir pagar a toda a gente. Vou pagar a todos, sem exceção, e isso deverá acontecer agora no próximo mês de janeiro. As coisas já estão mesmo adiantadas nesse sentido e estou muito contente por ter conseguido essa solução. Não garanto que seja no início de janeiro, deve ser mais na segunda quinzena do mês que deverá tudo estar resolvido”.
Por sua vez, Bruno Silva, um dos representantes da LisbonWorks, minimizou a polémica: “Toda a informação que lhe chegou diz respeito a apenas um trabalho em concreto e de um cliente que, aliás, foi o nosso primeiro trabalho com ele, e aproveito para informar que a LisbonWorks faz mais de 20 trabalhos por ano. Neste momento está tudo saldado relativo a este projeto”.