Marco Paulo chamou-o, durante anos, carinhosamente, por Marquinho ou, pelo nome verdadeiro, Marco António. Da sua boca saíram sempre as palavras mais amáveis quando se referia, publicamente, à pessoa que durante as últimas três décadas o acompanhou nas etapas mais felizes, mas também o ajudou e apoiou nas fases mais dolorosas da sua vida: o afilhado.

É filho de Toni Coelho e Lurdes Violante, casal especialíssimo e que se manteve, durante anos, sempre próximo de Marco Paulo. Apesar de não serem sangue do seu sangue, o cantor definia-os, incondicionalmente, como família. Quando o casal recebeu o filho nos braços foi como se o artista se tornasse igualmente pai, passando desde logo a tratar o menino, agora um homem de 33 anos, como o filho que nunca teve.

Esta família, que o icónico cantor português escolheu como sua, viveu bem de perto as maiores e mais expressivas vivências, boas e menos boas, ao lado de Marco Paulo. E, na altura, o pequeno Marquinho também. Em 1996, quando o artista foi diagnosticado pela primeira vez com uma doença oncológica, um cancro no abdómen, o menino tornou-se num dos protagonistas de um dos mais emotivos relatos públicos de Marco Paulo.

No início do ano de 2023, no programa das manhãs da SIC, Casa Feliz, ao lado de João Baião e Diana Chaves, o cantor, motivado pela minissérie Marco Paulo: A História da Minha Vida, disponível na OPTO, fez questão de dar a conhecer, com exemplos práticos, a força da ligação que criou com o afilhado e com os compadres, justamente na sua primeira grande batalha contra o cancro.

"Nos momentos em que eu precisava mais de alguém que me desse apoio, eu tive lá os pais e tive-o a ele. Ele é que me deu muita força", começou por dizer em entrevista. "O Marco António, na minha vida, quando eu estive doente foi fundamental para mim", acrescentou logo de seguida, dando a saber que, na altura, o afilhado tinha apenas cinco anos de idade.

"Ele não sabia o que é que o padrinho tinha. O padrinho tinha um cancro, ele via-me careca e ele não sabia o que é que isso era, mas ele estava todas as noites no hospital para me visitar, ele levava-me uma flor e dizia-me 'padrinho, porque é que tu estás aqui? Porque é que não vais para casa?'. E eu tinha que lhe tentar explicar", recordou, com emoção, Marco Paulo.

Além desta memória, na altura, o artista português recuou no tempo e recordou o dia em que chegou a casa, sem cabelo, isto é, "careca", como se descreveu, resultado dos tratamentos contra o cancro. "Ele disse 'ó padrinho, porque é que tu estás carecas?'. E eu disse-lhe 'o padrinho está doente'. E ele disse assim 'ó padrinho, mas não chores. Não chores, porque tu ainda vais cantar muito, padrinho. Estás doente, mas ainda vais ficar bom'", lembrou Marco Paulo as palavras do afilhado.

O sentimento que, desde cedo, os uniu ultrapassou, na verdade, as barreiras do tempo e Marco António, embora discreto, fez-se sempre presente na vida do padrinho. Recentemente, por exemplo, os dois foram vistos no espetáculo Para Sempre, Marco, que homenageou a carreira e os grandes sucessos musicais de Marco Paulo.

E assim, unidos, se mantiveram até aos últimos suspiros do cantor. Note que Marco Paulo perdeu a vida nesta quinta-feira, 24 de outubro, vítima do quarto cancro, desta vez no fígado. Em 1996, enfrentou um cancro no abdómen, em 2020 um cancro de mama e, mais tarde, um cancro no pulmão.