As perturbações obsessivo-compulsivas (POC) são desafiantes para a vida de quem convive, diariamente, com a doença. Que o confirme Guilherme Geirinhas que, neste sábado, 9 de novembro, falou abertamente sobre o assunto ao lado de Daniel Oliveira, no programa da SIC, Alta Definição.
Um dos seus maiores medos já que, como explicou, a POC centra-se, sobretudo, no medo de perder o controlo, acontece quando entra no carro e se faz à estrada. Aí, com as suas mãos no volante, desenvolve várias obsessões, que dizem respeito, na verdade, à parte mais consciente da perturbação obsessivo-compulsiva.
"Quando estou a conduzir tenho algum medo de fazer mal a alguém. Na estrada, quando alguém, por exemplo, me buzina, o meu medo de perder o controlo, ou seja, o meu medo de 'porque é que ele me buzinou? Será que eu lhe fiz mal? Será que atropelei alguém? Será que bati em alguém? Será que... O que é que eu fiz?'. O pensamento obsessivo é esse: o que é que eu fiz? Atropelei? E agora o que é que vai acontecer? Será que alguém viu? Será que vão filmar? Vão meter nas redes sociais? Será que o homem teve um ataque cardíaco por causa disto?'. A compulsão é 'ok, como é que eu resolvo isto?', voltando atrás. E, portanto, volto atrás para verificar [mais do que uma vez...]", partilhou em entrevista.
Um dos episódios marcantes que recordou ao lado do diretor de programas da SIC aconteceu no dia do nascimento do filho. Porém, tem sido também pelo pequeno Vicente, de dois anos, que o humorista tem tentado controlar os seus pensamentos e as suas obsessões.
"Houve uma altura no carro em que eu voltava muito atrás e a partir do momento em que eu estou a voltar a trás e o tenho a ele no carro houve uma altura em que eu fazia mesmo um esforço enorme e era só por ele. Estar a voltar atrás só está a aumentar o perigo. Quer dizer, quanto menos tempo eu estiver na estrada melhor e, aí sim, nunca voltei atrás com ele. Isso é uma prova de amor, não voltar atrás no carro com ele lá dentro. Só por causa dele", disse.
Mas, afinal, o que é isto de 'voltar atrás'?
Na estrada, Guilherme Geirinhas luta contra vários pensamentos que se impõem dentro de si. Alguns deles foram mencionados acima e o mecanismo de defesa do comediante, para resolver o que lhe surgia na mente, era o de voltar atrás para ter a certeza de que tal não era verdade.
"Lembro-me com a Margarida [Santos], uma vez fomos para Espanha e estávamos na fronteira e eu estava a obrigá-la a voltarmos para trás porque a atravessar a ponte tinha sido buzinado", recordou Guilherme Geirinhas um dos episódios vividos em consequência da POC.
"Tens que ser [mais forte do que esse pensamento], só que tem que ser gradual, ou seja, as ferramentas que eu usei foi: comecei a filmar o caminho , portanto, filmava todos os meus trajetos, o rolo da câmara do meu telemóvel era muito divertido, era só estradas. Já cheguei a fazer trajetos de 10 minutos em uma hora", contou.
Além das gravações, o humorista admitiu que tinha o hábito de ligar para o trânsito. Chegou, inclusive, a telefonar três vezes durante o mesmo trajeto. "Olhe, desculpe, eu sou obsessivo-compulsivo eu acabei de passar por uma lomba, tenho de verificar consigo se isto era uma lomba, verifique-me que não há uma criança no meio da IC19", relembrou, dando como exemplo o que lhe veio ao pensamento no dia do nascimento do filho.
Ao invés disto, porque não queria explicar o facto de ter uma POC, Guilherme Geirinhas optou por começar a criar personagens. "O humor também tem que servir para alguma coisa", brincou, exemplificando as chamadas que chegou a fazer.
"Olá, sou o Fernando Martins, taxista, estou a levar um cliente para o aeroporto, consegue-me dizer se houve algum acidente ali no quilómetro 'x' da IC19? Que era um sítio por onde eu já tinha passado. Depois para a frente 'olá, eu sou o Amílcar Pinto', para não perceberem que eu estava a ligar três vezes no mesmo percurso".
O facto de tomar estas 'medidas de precaução' acabava por aliviar o comediante. Porém, a verdade é que isso lhe tirava muito do seu tempo. O facto de ter tido o seu primeiro filho foi também importante no apoio à sua saúde mental.
"Quando tens putos ajuda bastante, porque começas a concentrar-te nos problemas deles e não nos teus. Recomendo, quem puder faça amor e tenha filhos, porque eles ajudam na saúde mental. Pelo menos na minha ajudou...", deixou a certeza.