Quais as inovações mais recentes na área de Retina Médica e Cirúrgica?

Penso que o mais importante a retirar desta reunião é a maneira de tratar as pessoas, quer do ponto de vista cirúrgico, quer do ponto de vista médico, a maneira efetiva de resolver os problemas. Não é tanto relativamente à novidade da última molécula que surgiu ou a última técnica descoberta, não é esse o espírito orientador.

O espírito orientador deste congresso é baseado no seguinte paradigma: ‘o que é que vou aprender na reunião que seja útil para a minha prática clínica e para os meus doentes?’ É mais esta avaliação de novidade programática, digamos assim, do que propriamente uma novidade científica.

“Se não nos reunirmos para discutir os casos que temos, não conseguimos tirar uma elação de grupo relativamente a qual é a melhor prática clínica que existe para os diferentes problemas atuais”.

Um dos temas em discussão serão os “achados na retina em pacientes com cancro”. Porquê a escolha por esta temática?

Hoje em dia, com as capacidades diagnósticas que temos, conseguimos fazer a observação da retina através de técnicas muito diferenciadas, e são essas mesmas técnicas que nos permitem ter marcadores de imagem que se correlacionem com as neoplasias ou mesmo com o tratamento.

Temos aqui uma oportunidade excelente de monitorizar e de ter biomarcadores para uma situação que é muito prevalente na população, que são as neoplasias. É importante olhar para esses conceitos de modo a esclarecer as pessoas para que as mesmas estejam atentas, porque este tipo de exames passam-nos pelos olhos todos os dias e há aqui casos que devemos reter e sinalizar.

Também a inteligência artificial será enquadrada dentro das discussões. De que modo é que este fator tem sido enquadrado nos tratamentos e investigações atuais?

Pensar uma reunião sem falar em inteligência artificial é a mesma coisa que estar numa sala com um elefante e não falar dele. De facto, dentro da Oftalmologia, a análise por algoritmos novos de imagem, por redes neuronais de análise, permitem-nos aceder a informações que estão lá para as conseguir estrear.

Nós, médicos, temos de alimentar de maneira correta esta “caixa negra” que é a inteligência artificial, de forma a que nos possa dar respostas muitas vezes melhores do que as nossas. A inteligência artificial é capaz de multiplicar e ter uma análise mais complexa. Isso é uma realidade e vai ajudar-nos. Vejo isto como uma oportunidade fantástica de termos ajuda, tanto nos rastreios, como nos diagnósticos e, até, nos tratamentos.

“A ciência disponibiliza-nos ferramentas novas, que por vezes são revolucionárias, uma vez que alteram o paradigma do raciocínio. A inteligência artificial veio alterar o paradigma do raciocínio médico.”

O que acha mais importante destacar relativamente à DMI (Degenerescência Macular da Idade) Intermédia?

A grande maioria dos nossos doentes estão na DMI Intermédia, e portanto precisamos de saber ler os nossos doentes de modo a perceber como vão evoluir a nível da sua patologia. São estes em que, seguramente, vamos ter mecanismos para evitar repercussões ou para tratar mais precocemente.

Gostaria de destacar mais algum ponto importante relativamente à reunião?

Gostava de realçar que, tal como já é costume, vamos ter uma sessão conjunta com o Grupo de Estudos de Retina (GER-Portugal), e isso só se deve a duas caraterísticas muito importantes do Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRT) e do GER em si, que se traduz no nosso empenho em trabalhar em conjunto e na disponibilidade de ambos os grupos que se reúnem e conseguem fazer atividades construtivas, conjuntas, para bem da Oftalmologia nacional, quer seja dos profissionais, quer seja dos doentes.

CG

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