
Tudo aponta para que a origem do “Frango na Púcara” remonte ao século XIX e início do século XX. No Mosteiro de Alcobaça brilhava a perdiz no lugar do jovem galináceo. Em 1960, no restaurante Corações Unidos, renasce sob a orientação do chef António de Sousa, conhecido pelo nome de “Bonzíssimo”, que cria a receita do “Frango na púcara”, adicionando-lhe os ingredientes necessários para que o sabor se aproximasse do gosto da “Perdiz na púcara”. Até essa data, o Corações Unidos localizava-se na principal via que ligava Norte a Sul, sendo paragem de muitos caçadores, que traziam perdizes para aí serem confecionadas.
Com a escassez da ave, surge o “Frango na púcara”, e o sucesso levou a receita a outros restaurantes de Alcobaça. Na década de 60 do século passado, Alcobaça era conhecida como a “Bairrada do Sul”, com muitos portugueses a iniciarem o que hoje se define como turismo gastronómico. A receita ganhou estatuto de emblema gastronómico da região Oeste.
Luís Guerra Rosa é Grão-Mestre da Confraria do Frango na Púcara, fundada em 2022, com objetivo de “sensibilizar as empresas de restauração a não retirarem a receita das ementas”, recorda a que a influência desta especialidade foi sentida em vários sectores da sociedade, chegando “a inspirar peças de teatro”, como “A Última Refeição”, com texto de António Cabrita, que fala sobre a vida de Bertolt Brecht e da mulher, Helen Weigel, em que esta tenta ressuscitá-lo com um prato de “Frango na púcara”. A fama da receita galgou fronteiras, sendo particularmente apreciada no Brasil.
O trabalho da Confraria do Frango na Púcara também passa pela divulgação da púcara: “Entendemos que é tão importante quanto o frango”, refere o Grão-Mestre, garantindo que, “sempre que solicitado”, fornece ou empresta ao restaurante a tradicional púcara em barro vermelho, vidrado, com tampa, e que na mesa deve permanecer fechada para preservar o calor.
A receita dita que se coloque na púcara “vinho branco, alho, louro, salsa, azeite, margarina, sal e pimenta. Depois entra o frango, sem pele, e um pouco de água, até a carne ficar tenra”, assinala Ana Branco, do restaurante António Padeiro, em Alcobaça. Só depois se colocam “as cebolinhas e dá-se um ‘golpe’ de aguardente e Vinho do Porto. Em casa, a minha mãe terminava com a caçoila no forno, porque o tempo lento de confeção é o segredo da receita”. Ainda que sem grandes segredos, o “Frango na Púcara” é, “provavelmente a receita com mais bebidas alcoólicas do receituário português, já que leva vinho branco, aguardente e Vinho do Porto”, refere Ana Branco.
Onde comer “Frango na Púcara”:
António Padeiro
“Fazemos, alegadamente, a receita original, com os ingredientes descritos nos primeiros registos, com um segredo, que é o tempo demorado de confeção”, explica Ana Branco, cozinheira e proprietária. “Mal se chega ao restaurante, por volta das 8h30, começa-se a preparar o “Frango na púcara”, (€15,50) para estar perfeito à hora do almoço”. O prato chega à mesa sempre com puré de batata, mas se o cliente preferir a cozinha do restaurante prepara umas excelentes batatas fritas. Na época de caça ainda se prepara “Perdiz na púcara”
Rua Dom Maur Cocheril, 27, Alcobaça. Tel. 262582295
O Reencontro Restaurante
Abriu a 1 de maio de 2024, fazendo renascer o antigo restaurante Corações Unidos, onde a receita do “Frango na púcara” (€14,50) foi criada. O espaço original inaugurou em 1919 e há 44 anos que está sob o comando da família Laureano, agora com Carlos Laureano à frente do projeto. “É o prato que mais vendemos”, revela, e distingue-se pela “forma dedicada como fazemos o molho”, relembrando que para cumprir a tradição é servido com “batatas laminadas redondas, arroz branco e uma salada mista”.
Rua Frei António Brandão, 47, Alcobaça. Tel. 262582142
Café Restaurante Trindade
Junto ao Mosteiro de Alcobaça, celebrou 100 anos em 2024 e está na mesma família há cerca de 40. Tem no “Frango na púcara” (€14,50) a principal especialidade, e todos os dias é confecionado a preceito, segundo a receita tradicional.
Praça D. Afonso Henriques, 22, Alcobaça. Tel. 262582397
Garrafeira A Casa
O espaço anuncia-se como uma garrafeira com um restaurante dentro, que funciona num alargado horário das 9h00 às 19h00. Duas vezes por mês as portas fecham mais tarde e servem-se jantares vínicos ou de apresentação de novos vinhos. Tem no “Frango na púcara” (€13,95) a principal atração da ementa, que complementa com um doce conventual de Alcobaça para terminar a refeição. Nessa altura, sugerem um Vinho do Porto, já que se orgulham de ter a melhor seleção deste vinho a nível nacional.
Rua Dom Maur Cocheril, 25, Alcobaça. Tel. 262590125
Restaurante Frango Na Púcara
Quase a completar 86 anos, é Marcelina Pereira quem todos os dias prepara o prato que dá nome ao restaurante. “Já cozinhei largos milhares de frangos ao longo da vida”, revela, contando que aprendeu quando era menina e moça, com apenas 17 anos, na Casa Nazareno, em Alcobaça. Desde então, mudou-se para casa própria. “Acho que faço o ‘Frango na púcara’ muito bem.” Reconhece agradar a todo o país, já que “chegam clientes de todo o lado, em especial do Norte, mas também alguns do Algarve”. A especialidade já não se faz todos os dias, mas, mediante encomenda, o “Frango na púcara” (€25) lá chega à mesa, na companhia de batatas fritas, arroz e salada.
Rua do Açougue, 60, Fátima. Tel. 249531479