Vila Viçosa, Galveias, Lisboa, Baião ou Sabrosa são alguns dos locais profusamente descritos pelos autores que aqui viveram e os recriaram em poesia ou ficção. Entre no universo de grandes nomes da literatura portuguesa e deixe-se levar pelas paisagens imaginadas e pelas palavras nestes 10 roteiros literários que integram a coleção “Portugal Autêntico”, editada pelo Expresso.

Compre aqui a coleção “Portugal Autêntico” composta por três volumes (Norte; Centro; e Sul e Ilhas). Em cada um destes três volumes pode encontrar 100 locais, propostas e experiências para partir à descoberta do país genuíno

Estaço Ferroviária de Aregos, em Tormes
Estaço Ferroviária de Aregos, em Tormes Expresso

Viajar com Eça em Baião
“Os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos em flor, a frescura das águas cantantes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de paraíso, toda a majestade e toda a lindeza. Deixando resvalar o olhar, observe os vales poderosamente cavados.” É desta forma que Eça de Queiroz descreve a paisagem que se observa ao longo do percurso pedestre que une a estação ferroviária de Aregos (Tormes) à Fundação Eça de Queiroz, na obra “A Cidade e as Serras”, a última do escritor.O Caminho de Jacinto, integrado na Rota do Românico, termina na Casa de Tormes, lar da Fundação Eça de Queiroz (tel. 254882120), “o mais alto lugar queirosiano”. Este espaço acolhe um núcleo museológico referente à vida e espólio do escritor, “incluindo documentos e objetos pessoais”, refere Anabela Cardoso, diretora-executiva, e que pode ser visitado. Tem ainda uma aposta forte na vertente educativa, cultural e também turística.

Rota de Camilo em Vila Nova de Famalicão
Camilo Castelo Branco viveu e morreu em Vila Nova de Famalicão, mais concretamente em São Miguel de Seide. É aqui que está instalada a Casa de Camilo – Museu e Centro de Estudos, que reúne “um amplo espólio de grande significado histórico e fundamental para o conhecimento da vida e obra” do autor, dos livros ao mobiliário – entre as peças em exposição estão a secretária de Camilo e a cadeira de baloiço onde se suicidou, em 1890. Está inserida na Rota de Camilo, criada em 2017, em parceria com outras instituições do Porto, Braga e Ribeira de Pena, assim como o Trilho da Cangosta do Estêvão, um percurso pedestre que segue os passos do escritor entre a residência e a Igreja do Mosteiro de Landim. Em terras famalicenses a experiência deve terminar à mesa dos restaurantes Ferrugem ou Oprato, onde o legado do romancista é celebrado em menu camiliano. Em 2025 estão agendadas várias iniciativas no âmbito dos 200 anos do nascimento do escritor.

Passear com Fernando Pessoa em Lisboa
Passear com Fernando Pessoa em Lisboa Expresso

Passos de Torga em Sabrosa
“Estas paisagens já estão de tal modo explicitadas dentro de mim que parecem escritas no meu entendimento. Quando cuido que estou a interpretá-las, estou a ler-me”, escreveu Miguel Torga no "Diário". O Trilho nos Passos de Torga é um percurso circular, com início e fim em São Martinho, terra natal do escritor premiado, situada nas proximidades da estrada que liga Sabrosa a Vila Real. Encontra o painel informativo junto ao Espaço Miguel Torga (tel. 259938017), projeto arquitetónico de Souto Moura, e à casa do escritor, onde a rota se liga ao Trilho do Castro de Sabrosa. “A experiência do Trilho nos Passos de Torga é ótima em qualquer altura do ano, sozinho ou em grupo”, relata o guia João Salgueiro (tel. 926388566), apresentado nas redes sociais como Ogajodostrilhos. “Não é difícil e abrange Natureza e património, sendo altamente recomendável.” Ao percorrê-lo, imerge nos espaços literário e natural de Torga, onde flora, fauna, geologia e obra do escritor se harmonizam de forma singular.

Lisboa poética com Fernando Pessoa
Imagine-se a passear por Lisboa, guiado por Fernando Pessoa, que se transforma num “acelerado” Álvaro de Campos, num Ricardo Reis esotérico ou num “Guardador de Rebanhos” que sonha com a vida no campo. “À Procura de Fernando Pessoa" é mais do que um passeio: é uma viagem teatral pela Lisboa do poeta, conduzida por um ator que veste os heterónimos. “Conseguimos fazer rotas alternativas e sair do circuito mais turistico. Vamos às raízes do que era a Lisboa nos tempos do Fernando Pessoa, pela linguagem, momentos da história apontados ou pessoas de quem vai falando”, explica Felisa Pérez, fundadora do projeto Cooltoure Tours (tel. 963329321), que desde 2017 interpreta personagens da História e Literatura Portuguesas na primeira pessoa, em visitas temáticas.
O passeio tem início no Largo de São Carlos, frente ao edifício onde Fernando Pessoa nasceu, e continua pelo Chiado e Baixa, terminando no Terreiro do Paço, na esquina do Martinho da Arcada. Pelo caminho, revelam-se histórias como a castanha no bolso para enganar a fome ou o amor do pai pela ópera, e são ainda declamados versos, desde o primeiro poema que escreveu aos 7 anos, dedicado à mãe, ao “Sino da minha Aldeia”, às “Canções para acordar crianças”, contos que fazia para a sobrinha Lili. Com hora e meia de duração e um máximo de 25 participantes, o passeio termina com um desafio de escrita criativa, onde cada visitante é ainda convidado a partilhar o texto com o grupo, envergando o chapéu do poeta.

Roteiro dos Escritores em Coimbra
Roteiro dos Escritores em Coimbra Expresso

Caminhos Inspiradores em Santa Cruz, Torres Vedras
O percurso revela a ligação de três poetas a Santa Cruz. Antero de Quental, João de Barros e Kazuo Dan encantaram-se com este local e eternizaram-no na poesia. Em retribuição, a vila ergueu--lhes monumentos que podem ser apreciados num passeio quase sempre a ver o mar. “Antero de Quental esteve aqui alguns verões, com Jaime Batalha Reis, diplomata, que viveu a Revolução russa de 1917. João de Barros descobriu Santa Cruz nos anos 40, encantou--se e passou a vir todos os anos para a pensão Mar Lindo, hoje abandonada.” “Nos anos 70, Kazuo Dan fixou-se aqui e frequentava a cervejaria Imperial”, diz Joaquim Moedas Duarte, da Associação do Património de Torres Vedras. O poeta japonês foi o que aqui passou mais tempo e deixou histórias curiosas. “Imagine-se naquela época vê-lo a pegar num robalo e a fazer sashimi”, conta Miguel Contreras (tel. 261937524), guia de passeios de Natureza na região.

Passear na Literatura em Coimbra
Começou em 1992, com o projeto Passear na Literatura, em que o município de Coimbra delineou vários trajetos individuais dedicados a um autor. O primeiro foi António Nobre, e seguiram--se outros, como Eça de Queiroz, Miguel Torga, José Régio, José Saramago e Eduardo Lourenço. O Roteiro dos Escritores surgiu para oferecer um itinerário que permitisse ao visitante encontrar o maior número de referências aos vários escritores portugueses, quer em homenagens em jardins e praças, em placas comemorativas nos locais onde viveram enquanto estudantes ou mesmo nas casas particulares, transformadas em casas-museus ou espaços de cultura. O percurso, com 14 paragens em locais emblemáticos da cidade, como o Largo da Portagem ou o Penedo da Saudade, pode ser descarregado no site da Câmara Municipal de Coimbra. Pode ainda ser usada a versão digital online dos Roteiros de Coimbra, onde se encontram os percursos dedicados individualmente a cada escritor.

Aldeia de Melo, e Gouveia, com vista para a serra
Aldeia de Melo, e Gouveia, com vista para a serra Expresso

Em Nome da Terra em Melo, Gouveia

Transformar a aldeia de Melo e a paisagem envolvente num “lugar literário” de excelência é intenção do festival literário Em Nome da Terra, que decorreu pela primeira vez em 2024. Ao longo do ano, na aldeia de montanha que viu nascer Vergílio Ferreira, pode visitar a antiga Vila Josephine, agora Casa para Sempre – Vergílio Ferreira (tel. 238745068). Reserve antecipadamente visita a este “espaço dinâmico, dedicado à vida e à arte literária do autor de 'Manhã Submersa'”. O local inspira-se na Casa Amarela do romance “Para Sempre” e “Cartas a Sandra”.Siga o Roteiro Literário Vergiliano pela área rural, passando pela ribeira dos Namorados, Minas do Camarão, Quinta do Ximenes ou a ponte secular. Começa no Chão do Paço, passa pela loja do Nunes, a escola dos rapazes, o Correio e a Taberna do Coxo. Continua pela Rua das Casas Queimadas, até terminar novamente na emblemática Casa Amarela.

Viagem do Elefante pela Beira Interior

A Rota Turística Literária A Viagem do Elefante materializa um percurso entre silêncios e lendas, panorâmicas tranquilas que abraçam aldeias históricas, castelos e fortalezas em Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Almeida, Guarda, Sabugal, Belmonte, Fundão e Mêda.A partir do romance “A Viagem do Elefante”, de José Saramago, o périplo passa por Castelo Novo, que tem na água elemento central: a ribeira de Alpreade alimenta a praia fluvial e diversas fontes. Refresque-se e suba ao castelo, às muralhas, torre do relógio e torre de menagem. Já em Marialva, descobrem-se as ruas empedradas onde habitam as Casas do Côro (tel. 917552020). Agende uma visita guiada no Posto de Turismo (tel. 279859288), que promete detalhes sobre histórias e lendas, como a da Porta da Traição ou a da Dama de Pé de Cabra.

Mural dedicado a Florbela Espanca no Mercado Municipal de Vila Viçosa
Mural dedicado a Florbela Espanca no Mercado Municipal de Vila Viçosa Expresso

Ecos da aldeia em Galveias, Ponte de Sor

A aldeia intensamente contada no romance “Galveias”, de 2024, dá corpo ao lugar, localizado em Ponte de Sor, no Alentejo, que viu nascer José Luís Peixoto em 1974. Mas os episódios fantásticos e quotidianos retratados neste romance condensam todo o país rural. Localizada no interior alentejano, é “a grande história que tenho para contar”. Antes ou depois de ler o livro, pode desbravá-la no Centro de Interpretação José Luís Peixoto (tel. 242980040) inaugurado em 2024, entre manuscritos, fotografias e outros objetos que dão o mote para uma Rota Literária. A partir da aplicação "CIJLP-Galveias", lá fora, o percurso inicia-se no Monte da Torre de Sepúlveda e o conteúdo áudio é reproduzido automaticamente dependendo da posição geográfica. Seguem-se 22 pontos de interesse, alguns deles com experiências de realidade aumentada. Diogo Serra, coordenador do Centro, destaca a Capela de São Saturnino, “onde os agricultores pediam chuva oferecendo papas à população”. Com vista panorâmica, “daqui se avistam as capelas adjacentes, desenhando uma cruz”, esclarece. “Todos temos um lugar onde a vida se acerta. Cada mundo tem um centro, pode ler-se em “Galveias”.

Espólio poético em Vila Viçosa

Marcada pela “fome e sede de infinito”, a existência breve mas intensa de Florbela Espanca ecoa pela bucólica Vila Viçosa onde nasceu em 1894. Logo na escola primária começa a assinar escritos como Florbela d’Alma da Conceição Espanca, antes de se tornar uma das raras mulheres à época a frequentar o Liceu de Évora, usar calças e ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Precoce na vida e na morte, amor, sofrimento, solidão e erotismo são recorrentes nos sonetos emotivos, retrato de uma existência pouco convencional: três casamentos, dois divórcios, romances falhados, a perda do irmão, Apeles, e os filhos que não conseguiu ter imprimem inquietação constante à vida e à escrita. Quis “dizê-lo, cantando, a toda a gente”, desde o primeiro “Livro de Mágoas”, publicado aos 25 anos, até pôr termo à própria vida no dia em que completava 36. Na Casa Florbela Espanca (tel. 968458507) pode descobrir algum espólio da poetisa e agendar uma visita guiada pela vila alentejana onde “o sol é quente, beijando a urze triste dos outeiros”. O tradicional mármore branco da região é matéria-prima do busto na Praça Central e da campa, onde “um dia hei de ser pó, cinza e nada”. Em 2025 inaugura um circuito municipal que passará por 14 locais, como a casa da família Espanca, o estúdio fotográfico e a loja de antiguidades do pai, o Restaurante Florbela Espanca, onde se provam os pratos favoritos da escritora, a antiga Farmácia Monte, outrora palco de tertúlias culturais, o Cine-Teatro Florbela Espanca e a escola primária. Do futuro roteiro farão ainda parte um jardim dedicado a Florbela e um espaço digital no Mercado Municipal.

Rota dedicada a Camilo Castelo Branco em Famalicão
Rota dedicada a Camilo Castelo Branco em Famalicão Expresso

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