“Suar do Bigode” esgotou, de acordo com a própria, “para lá do razoável”. Agora, Mariana Cabral, também conhecida como Bumba na Fofinha, volta a estrear um espetáculo de stand-up comedy. Em "Sombra" propõe mostrar uma espécie de confessionário de ruindades. Com o numeroso público que conquistou a fazer comédia nas redes sociais, foi pressionada constantemente para subir a palco, mas seguiu o seu próprio tempo. Foi estudar para Nova Iorque três meses, fez stand-up comedy em inglês e a pouco e pouco foi tomando o gosto de atuar para ao vivo. Dois anos e meio depois do primeiro solo, embarca em nova aventura, ficando claro que gostou da experiência. No Humor À Primeira Vista, com Gustavo Carvalho, Mariana Cabral revela os detalhes da estadia em Nova Iorque, explica porque não deseja atuar um dia na Altice Arena e promete que terá uma participação no Taskmaster Portugal.
No espaço de pouco mais de dois anos e meio vais meter cá fora dois filhos e dois solos de stand-up comedy. Acredito que parir um filho seja muito mais difícil do que parir um solo, mas há alguma razão para fazeres tarefas árduas simultaneamente e consecutivamente?
Não, mas é uma boa pergunta porque há pessoas que acham que fiz de propósito. Que foi planeado, que esperei estar grávida para fazer stand-up. Ora, eu já fiz stand-up sem estar grávida e gosto muito mais, tenho muito mais mobilidade, não tenho enjoos, nem estou mal disposta. Para mim é melhor enquanto experiência e acho que para o público também. Foi uma coincidência, a escolha foi entre fazer o solo depois disto tudo - teria de esperar nove meses pela gravidez e seis meses ou sete por causa da criança - mas achei mais fixe fazer já. Tinha vontade de voltar aos palcos.
Deve ser giro ter um espetáculo associado a cada filho.
Tem piada, não foi é propositado. No "Suar do Bigode" percebi que já andava a empurrar com a barriga o stand-up há imenso tempo. Era algo pela qual tinha e tenho bastante respeito, achava que tinha de treinar muito mais e aprender muito mais, antes de tentar. Mas rapidamente percebi que aprende-se fazendo à frente de uma plateia. É preciso dar esse salto de coragem e eu andava a adiar esse confronto. Percebi quando engravidei que não valia a pena estar a esperar. Nunca vai haver um momento ideal, se esperares que os astros se alinhem para procrastinar uma coisa que claramente estás a adiar por medo, mais vale encarares isso. E foi um início de stand-up super simbólico nesse aspeto. Para já porque nunca ia sozinha para palco, sei que parece parvo mas não é bem um solo de stand-up, é com pessoa e meia.
Quando dizes que tinhas medo, era medo exatamente de quê? Tinhas algum trauma com uma atuação?
Sim, como não comecei na comédia por uma vocação divina desde pequena, como foi por acidente e ganhei logo uma audiência porreira nas redes sociais, sentia que no papel tinhas as características...
Irritava-te a pressão para experimentares stand-up?
Não me irritava, mas levava-me demasiado a sério. Agora que tenho alguma distância percebo que pensava que não podia ser uma decisão leviana, e às tantas é preciso ter calma. Isto não é salvar bebés. Agora percebo que se uma pessoa se esforçar e trabalhar num texto com cuidado à partida vai correr bem. É uma coisa muito psicopata subir a palco e tentar fazer as pessoas rir de cinco em cinco segundos. É uma atividade que não recomendo para a sanidade mental, não é saudável. Mas percebi que me estava a pôr num pedestal de exigência, que tinha de fazer e tinha de ser perfeito - e nunca vai ser perfeito e ótimo no stand-up. Nem à primeira, nem à décima, nem à quinquagésima e talvez nunca, porque o stand-up ao ser algo inacabado é meio obsessivo.
Vais atuar no Campo Pequeno, quatro datas que esgotaram muito rapidamente. Fizeste as contas de quantas pessoas são?
Não me ajuda minimamente. Percebo o feito, orgulho-me muito, mas vou orgulhar-me mais no final, deixa-me sobreviver a isto.
Vou só dizer que é mais do que duas Altice Arenas.
Eu nunca irei para a Altice Arena fazer stand-up, não quero. É uma sala que não faz sentido para stand-up, já no Campo Pequeno perde-se a intimidade, não há qualquer intimidade. Eu gosto de distinguir faces, de ver pessoas a rir. Vou fazer uma sala maior desta vez porque estou balofa. Se dividires, preferias fazer umas 28 vezes o Tivoli.
Porque é que não aceitaste o convite para participar no Taskmaster Portugal?
Eu acho que seria uma excelente concorrente. Sem qualquer modéstia. Convidaram-me todas as vezes, são muito queridos e eu digo sempre amavelmente que não. Hei de ir a um programa como convidada. Acho que é um programa mesmo giro e gosto imenso de o ver, mas não tenho a paixão de fazer parte. Prometo que irei como convidada uma vez.
Que áreas é que gostavas de explorar depois de stand-up comedy?
Gostava de escrever argumento, de escrever uma série e participar como atriz. Sendo que não sou atriz e acho que não serei boa. Lá está, teria que aprender.
Mais três meses em Nova Iorque?
Não, eu amadureci na perspetiva de aceitar que não faz mal as pessoas verem-me falhar. Não faz mal, não é assim tão grave, ninguém me vai abandonar, está tudo ok. Posso experimentar coisas novas que, se continuar a trabalhar e entregar coisas boas, o risco é nenhum. Era um bocadinho imatura quanto a isto. É um bocadinho egocêntrico, porque estou a pensar na minha imagem, no que as pessoas acham de mim, mas posso permitir-me falhar um bocado. Antes era muito irredutível, muito perfeccionista, ninguém é bom a fazer coisas novas, é muito raro.
Gustavo Carvalho entrevista pessoas para quem a comédia é paixão e profissão. Por vezes abre a porta a conversas sobre outros temas culturais que o entusiasmam, seja sobre teatro, música, digital, televisão ou cinema. A comédia, a arte e a cultura que estão para acontecer, todas as terças-feiras no Humor À Primeira Vista. Oiça aqui mais episódios: