
José Brandão, um dos mais relevantes designers portugueses, morreu esta quarta-feira, 26 de março, adiantou a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, onde era professor emérito desde 2017.
Nascido em Nova Iorque em 1944, José Brandão iniciou a sua carreira profissional em 1961, tendo mais tarde colaborado no atelier de Daciano da Costa (1964-1966). José Brandão partiu para Paris em 1966, e em 1967 para Londres, ingressando na Ravensbourne University London como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.
Na década de 1970, deu início à sua carreira docente, primeiro em Londres (1970-1971), depois na atual Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (1976-1995), e, mais tarde, na Faculdade de Arquitetura, tendo sido responsável pela criação do Mestrado em Design de Comunicação e membro do Conselho de Doutoramento em Design, contribuindo em larga medida para o desenvolvimento do ensino do design em Portugal.
A partir de 1975, em Portugal, começa a trabalhar como designer independente na realização de trabalhos para capas de discos (José Afonso, Sérgio Godinho, Fausto, Janita Salomé, Carlos Mendes) e de livros ("Os Passos em Volta", de Herberto Helder, e “O Triunfo dos Porcos”, de George Orwell), para cartazes de filmes ("Kilas, o Mau da Fita", “Crónica dos Bons Malandros”, “Deus Pátria Autoridade” e “Sem Sombra de Pecado”) e para o Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz (1974-1980). Em 1976, é um dos fundadores da Associação Portuguesa de Designers, onde exerce cargos na Direção e na Assembleia Geral.
Nas suas redes sociais, Sérgio Godinho assinalou a partida do seu colaborador: “Exímio gráfico e designer, que tinha conhecido ainda numa viagem a Londres, antes do 25 de Abril. Regressou depois da Revolução, e fundou com Cristina Reis um atelier de design chamado, adequadamente, Virver. Viram e frutificaram: a Cristina como grande criadora dos cenários da Cornucópia, e o Zé repercutindo em trabalhos gráficos de grande qualidade, muitas vezes desdobrado em desenhos originais.”
“Quando, depois da pobre capa do meu terceiro álbum, ‘À Queima Roupa’, decidi que teria de intervir ativamente na imagem dos meus álbuns, foi ao Zé Brandão que recorri. E encontrei um interlocutor rigoroso e inventivo (além de dialogante), o que resultou em três álbuns sucessivos de boa música, e bom grafismo a condizer: ‘De Pequenino se Torce o Destino’, ‘Pano Cru’, e ‘Campolide’. Andei depois por outras paragens, e voltei a ele com ‘Domingo no Mundo’.”
“Aqueles pés saltando acima do solo foram bem o símbolo das nossas colaborações: sempre procurando algo mais alto que o próprio chão. Para fim de elogio, devo recordar o extraordinário trabalho que fez para o Fausto (desde logo o desenho de ‘Por Este Rio Acima’) e para o José Afonso (o outra vez notável desenho do ‘Coro dos Tribunais’). O Zé Brandão deixa rasto: e isso vale muito para todos nós.”
Em 1982, com a sua mulher, Salette Brandão, José Brandão funda o B2 Atelier de Design, que desenvolve projetos para muitas instituições, de entre as quais a Presidência da República, os Ministérios da Educação, da Cultura e da Ciência, os Correios de Portugal (CTT), a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, o Banco de Portugal, a EXPO'92 de Sevilha, o São Luiz Teatro Municipal e fundações como a Calouste Gulbenkian, a Oriente, a Luso-Americana e a Espírito Santo, pode ler-se ainda.
"O trabalho de José Brandão é amplamente reconhecido, tendo sido galardoado com vários prémios, nacionais e internacionais, nomeadamente o Prémio Carreira (2001) e os Prémios APOM Melhor Exposição (1995) e Personalidade do Ano (2017). Foi também agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2006", refere ainda o texto da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa.