
As modas e tendências influenciam seguramente as pessoas em relação a modificações corporais. Pena, é que não o façam de uma forma correta e saudável. A maneira como se preconiza o corpo ideal, “corpo perfeito” ou padrões de beleza ao longo da vida tem mudado e seguramente mudará ao longo da história. A mudança do corpo na infância, na adolescência, na vida adulta e durante o envelhecimento são uma realidade. Estes aspetos cronológicos estão intimamente associados a fenómenos biológicos e a sua perceção ou “vivência” a aspetos psicológicos e sociais.
De uma forma científica e biológica, conhecemos a composição corporal saudável (massa magra, massa gorda, massa óssea) ao longo da vida e os desvios – abaixo ou acima dos limites da normalidade. A localização da gordura também se altera ao longo da vida. Por exemplo, as mulheres jovens têm uma maior deposição da gordura a nível das coxas e da região glútea (ginóide, tipo “pera”) e após a menopausa a gordura deposita-se mais a nível abdominal (androide, tipo “maçã”), o que está relaciona com a diminuição dos estrogénios, e este último tipo de distribuição de gordura está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares.
Os homens acumulam mais a gordura a nível abdominal, o que está relacionado com os androgénios. As modas seriam muito importantes e úteis se orientassem as pessoas para irem ao encontro de uma composição corporal saudável, de acordo com os conhecimentos científicos desse tempo e no momento da vida em que a pessoa se encontra. Infelizmente, sabemos que essa não é a realidade, já que as modas têm muito de “folclore” e pouco de evidência científica.
O passado é importante para não se repetirem alguns erros, mas na atualidade existem alguns temas que é moral e eticamente mandatário abordar. A minha escolha recai sobre a toma de esteroides androgénicos anabólicos, comumente conhecidos como esteroides anabólicos, que são um grupo grande de moléculas que inclui androgénios, com a testosterona, assim como os seus derivados sintéticos (decanoato de nandrolona, metandienona e metenolol). O seu uso está associado à sua capacidade de aumentar a massa muscular e são usados quer por atletas para aumentar a sua performance quer para propósitos estéticos, para atingir uma determinada composição corporal, com aumento da massa muscular – “bodybuilders”. Obviamente são proibidos pela Agência mundial anti-doping. As pessoas que os usam, a fim de obter uma determinada composição corporal, devem estar informadas sobre os seus perigos.
Os esteroides androgénicos anabolizantes podem originar vários efeitos adversos:
1) A nível cerebral e do comportamento: adição, agressividade, depressão e até psicose;
2) consequências cardiovasculares (hipertensão, hipertrofia ventricular esquerda, efeitos pró-aterogénicos, trombose;
3) hematológicos (aumento do colesterol);
4) no fígado (hepatite colestase e cancro do fígado);
5) musculoesqueléticos (roturas musculares, musculotendinoses);
6) sistema urinário (insuficiência renal aguda, glomerulonefrite e tumor de Wilms), entre muitos outros. Nos homens pode ocorrer ginecomastia, ou seja, aumento da glândula mamária, impotência, hipertrofia prostática, atrofia testicular, e mesmo cancro da próstata, e nas mulheres, atrofia mamária, aumento do clitóris, irregularidades menstruais e atrofia do útero.
Modificações corporais
Os doentes devem consultar o seu médico para os avaliar, fazer exame objetivo e se essas alterações corporais não forem normais, há necessidade de os referenciar para uma consulta de especialidade, como por exemplo, a de Endocrinologia. Como já referi acima, existem algumas alterações da redistribuição da gordura corporal que levantam a suspeita de certas doenças endócrinas. A falta de gordura nos membros superiores e inferiores e a sua localização a nível abdominal deve fazer suspeitar de uma lipodistrofia ou de uma síndrome de Cushing.
O paciente deve diferenciar entre uma mudança corporal que é segura e uma que pode ser prejudicial. Se as alterações são bruscas ou se são lentas e progressivas. Habitualmente, quer um ganho ponderal quer uma perda de peso intempestivos, podem estar associados a várias patologias.
Outro aspeto é perceber se fez alterações no seu estilo de vida que possam ter contribuído para essas alterações corporais – aumentou ou diminui a atividade física ou a ingestão alimentar? Existem outros sinais ou sintomas associados? Alguns daqueles que escrevemos acima – o local da deposição ou perda da gordura, equimoses, fraqueza muscular, aparecimento de hipertensão, etc. Nestes casos, deve consultar o seu médico que o deverá referenciar para uma consulta de especialidade.
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