"Caso fossem aceites em meados de maio, à semelhança dos restantes [alunos], um período de três meses e meio entre o momento de aceitação e o de chegada permitiria chegarem antes do início das aulas (entre setembro e outubro)" referem, em nota conjunta, Ana Balcão Reis, Cátia Batista, David M. Costa, Gonçalo Lima e Pedro Freitas, investigadores dos Centros de Investigação da Nova School of Business and Economics - Economia da Educação e Novafrica -- que desenvolveram o estudo.
No relatório "A adaptação dos alunos dos PALOP no primeiro ano de estudos do ensino superior em Portugal", financiado pelo FAMI - Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração - do Ministério da Administração Interna, conclui-se que a grande maioria dos alunos (68%) chegam a Portugal com um atraso de pelo menos um mês face ao início do ano letivo, "sendo de destacar que, de entre os alunos que chegam depois das aulas começarem, mais de 11% apenas consegue chegar a Portugal no ano seguinte ao ano em que foram aceites".
No comunicado aponta-se que o atraso, "que constitui um forte entrave ao aproveitamento académico no contexto do ensino superior", é identificado por 93% dos alunos inquiridos como resultante da demora na obtenção de visto, sendo inclusivamente apontado por 76% dos inquiridos como o único motivo da demora.
Porém, salienta-se no estudo, "uma análise mais aprofundada permite aferir que, na grande maioria dos casos, o atraso resulta da conjugação de um anúncio tardio dos resultados de entrada nas Instituições de Ensino Superior em Portugal e a demora na emissão de vistos".
Após a chegada a Portugal, a integração na vida académica é a maior dificuldade apontada, com cerca de 79% dos alunos a mencionar dificuldades nas matérias lecionadas.
O alojamento é a segunda maior barreira à integração, com 60% dos alunos a reportarem dificuldade na procura e 54% a assinalar dificuldades com o custo.
Por outro lado, analisando os estudantes trabalhadores, "verifica-se que, embora 9,6% da amostra sejam bolseiros, apenas uma pequena minoria considera que a bolsa é suficiente para cobrir as suas despesas", conclui-se na investigação, que refere que, ainda assim, "apenas 24% destes estudantes estão a trabalhar".
De entre os estudantes trabalhadores, um em cada quatro exerce uma atividade laboral enquanto estuda, sendo que 40% têm uma carga horária superior a dez horas semanais o que, segundo o estudo, "evidencia a necessidade de melhor identificar os alunos sem acesso a bolsa com vista a promover um alargamento da população abrangida por esses programas".
Por último, no comunicado sugere-se uma proposta de políticas para melhorar o sucesso escolar dos alunos provenientes dos PALOP.
Antecipar a data de anúncio da aceitação dos alunos com especial atenção aos que entram através do Regime Especial para Bolseiros, constitui a primeira medida sugerida, à qual se junta "o aumento da capacidade consular para acelerar o processo de atribuição de vistos, dando especial prioridade à emissão de vistos de estudantes".
Por outro lado será necessário implementar um programa pré-universitário. Para que isso aconteça, sugerem os investigadores que se criem programas de mentoria entre alunos portugueses mais avançados e os recém-chegados. A criação de uma aplicação digital está, também, entre as sugestões.
O relatório foi elaborado com base num inquérito a 135 alunos provenientes dos PALOP, na maioria do sexo masculino (67%) e com uma idade mediana de 20 anos. Da totalidade dos inquiridos, 65% dos alunos estavam inscritos em institutos politécnicos e 35% em universidades. Na amostra considerada, a maioria é proveniente de Cabo Verde (38%), Guiné (29%), Moçambique (16%), Angola (11%) e São Tomé (6%).
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