"Notamos que, dia após dia, a quantidade de cavala tem vindo a diminuir, infelizmente", explica Luís Delgado, presidente da Associação dos Pescadores da vila de São Pedro, em declarações à Lusa.
O evento gastronómico que se avizinha "significa muita coisa", entre as quais "refletir" sobre um tempo "em que havia abundância" e até desperdício de cavala, avançando até aos dias de hoje, com a valorização feita pelo Kavala Fresk Feastival.
A XI edição está marcada para sábado e além de mobilizar clientela para os restaurantes que se aglomeram na movimentada Rua de Praia, no centro da cidade do Mindelo, envolve atividades náuticas, culturais, desportivas, rodas de conversa, entre outros eventos ligados ao mar e à gastronomia.
Este tipo pescado trivial ganhou dimensão e fama que "corre o mundo inteiro", destaca Luís Delgado.
Neste contexto, a escassez do pescado levou à sua sobrevalorização: o preço aumentou exponencialmente nos últimos anos, com uma cavala a custar entre 100 a 200 escudos (entre 90 cêntimos e 1,80 euros), o que tem impacto direto nos bolsos dos clientes.
Uma situação que contrasta com a realidade de há alguns anos.
"Neste momento, não é qualquer um que consegue comer uma cavala, porque o preço disparou", ilustra o pescador e dirigente associativo da vila de São Pedro.
Noutros tempos, como nos anos 1980 e 1990, entre abril e julho, "era tempo de abundância de peixe e a cavala era a espécie que mais se conseguia pescar e as pessoas não davam 'cinco tostões' por uma", acrescenta.
No evento gastronómico, para suprir a escassez da cavala, os pescadores tendem a vender aos restaurantes outras espécies de peixe para que os pratos sejam confecionados.
No entanto, com a escassez nos mares, a gestão tem sido feita pelas peixeiras, que com um mês de antecedência começam a preparar o stock para que, em meados de julho, os restaurantes participantes tenham o que apresentar aos visitantes.
Na comunidade de São Pedro, onde a maioria das pessoas vive da faina, nota-se a diferença em relação à abundância de peixe de antigamente, o que constitui uma preocupação.
"Somos mais de 400 pescadores nesta zona", conta Luís Delgado.
Com a escassez, o peixe "passou a ser mais caro" e tudo o que se pesca consegue-se vender, diz. "Por vezes, temos de nos deslocar ao mercado na cidade para comprar, porque as embarcações da região não conseguem pescar o suficiente para cobrir toda a vila", descreve.
O dirigente acredita haver um conjunto de atividades que afetam a pesca artesanal em São Pedro e nos mares de Cabo Verde, destacando a pesca industrial, mas suspeitando também que as alterações climáticas e a poluição estão a afetar os ecossistemas marinhos.
Em junho, o ministro do Mar de Cabo Verde, Abraão Vicente, considerou a aquacultura como o "plano B" e o futuro da segurança alimentar no país e no mundo para dar resposta ao crescimento populacional e turístico.
Os pescadores de São Pedro estão entre os que alertam para a necessidade de reflexão sobre a atividade.
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