“Vinham uns aí que queriam que o partido fosse abaixo para emergir do meio do caos”. Miguel Albuquerque falava já em cima do palco e depois de ter feito a festa entre as barracas de comes e bebes, com banda de música a acompanhar os bailaricos de improviso. E tudo indicava que ia ser um Chão da Lagoa para celebrar as vitórias dos sete meses mais atribulados do PSD-Madeira não fosse o facto de Manuel António Correia, o adversário nas internas de Março, ter aparecido para lembrar que o partido está longe da união. Nem o pacto de não agressão com Lisboa - que se vai traduzir numa cimeira entre os dois governos - foi suficiente para disfarçar o desencontro entre o PSD de Miguel Albuquerque e o PSD de Manuel António Correia.

“As criaturas que estavam todas satisfeitas que o PSD ia perder”. O líder dos sociais-democratas madeirenses não nomeou as criaturas, mas fez questão de lembrar que, na Madeira, o partido é popular, é dos que não querem tachos ou cargos. “Esses que querem os tachos e lugares nunca os vi numa campanha e quando é para dar o corpo ao manifesto não aparecem”. Manuel António Correia, que apareceu no Chão da Lagoa pouco antes dos discursos, ouviu, pois estava também ele a fazer a sua ronda pelas barracas de comes e bebes, acompanhado por alguns dos que o apoiaram em Março, para participar naquilo que considerou “uma festa de família”.

Uma família que, nos últimos tempos, anda desencontrada e que precisa de ser unificada. O que, diz o adversário de Albuquerque, não tem acontecido. A nova orgânica do governo regional voltou a afastar pessoas ligadas a Manuel António Correia, a mais recente é a diretora de Cultura. “Tenho de ser sincero que, em termos de unir o partido, de dar os passos necessários após as internas, a direção não fez aquilo que era possível e desejável”. E o novo afastamento? “Acho que isso não ajuda a unir, acho que é incorreto. Isso não é bom para o partido, nem para a região. Quase diria que o CDS tem mais pessoas na governação do que aquela parte do partido, que não é pequena, que nos apoiou. Nunca vou perseguir alguém só porque não tem a mesma opinião do que eu”.

As declarações, proferidas pouco antes dos discursos, tiraram qualquer dúvida quanto ao estado em que se encontram os sociais-democratas madeirenses e, desta vez, Miguel Albuquerque não teve sequer o convidado de Lisboa para desviar as atenções. Luís Montenegro cancelou a visita por motivos de saúde e Hugo Soares, o secretário-geral e líder parlamentar do PSD, não discursou e limitou-se a acompanhar a festa e a ver Albuquerque dançar o bailinho da Madeira. À chegada ainda falou das negociações para o Orçamento de Estado, sobre quem o vai viabilizar se o Chega, se o PS.

Hugo Soares também veio dizer que, tudo o que houve entre Lisboa e o Funchal a propósito do que devia ter feito Miguel Albuquerque assim que foi constituído arguido, está sanado. Os madeirenses foram às urnas a 26 de Maio em eleições regionais antecipadas e o PSD ganhou. Se de Lisboa, o processo é passado, na Madeira não é exactamente assim. Em cima do palco, no discurso para os militantes, o líder regional não esqueceu o nono lugar dado ao candidato indicado pelo sociais-democratas madeirenses na lista para as europeias e falou até de “um lapsus conduta” da direção nacional. Também lembrou que, na região, o interesse que vem primeiro é sempre o da Madeira e esse será o princípio a ser seguido na cimeira entre os dois governos - o da República e o da Madeira -, que deverá ocorrer depois do verão.

“A Madeira não é um terreno mole, mas é sempre justa”, sublinhou Albuquerque, que quer uma nova lei das finanças públicas e mais autonomia, e que se sente de novo em condições de ir ao jogo político, seja com quem for: com a oposição interna e externa e com Lisboa. Luís Montenegro é primeiro-ministro, líder nacional, mas no Chão da Lagoa não lhe pouparam uns assobios, sinal que há um caminho a fazer para voltar a ser recebido como em 2023, altura em que a Madeira era o exemplo.