Um responsável israelita ligado à segurança afirmou ontem que, da perspetiva da cibernética, "todo o mundo e todos estão expostos" ao crime, devendo entender-se qualquer ataque como um "desafio" para aperfeiçoar soluções e alcançar tecnicamente os atuais "hackers".

Em declarações à agência Lusa, em Lisboa, Ron Gerstenfeld, diretor da Divisão dos Assuntos Económicos Europeus do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, realçou como exemplos os casos de ataques à segurança, aos serviços secretos e a alvos civis.

"Da perspetiva da cibernética, todo o mundo e todos estão expostos. Em Israel, por exemplo, uma empresa das mais atacadas, provavelmente das mais atacadas no mundo, é a Israel Electric Corporation. Porque quem ataca, sejam militares, terroristas ou qualquer coisa, tentam ferir, o mais fácil, a infraestrutura crítica que afeta o máximo de população, como eletricidade e água", sublinhou Gerstenfeld.

"Mas Israel é não apenas o mais atacado, mas também o mais protegido. Mas é também muito inovador na procura de soluções e usá-las para proteger a infraestrutura", sustentou, acrescentando que os custos de proteção das empresas de ataques cibernéticos acabam sempre por compensar.

O responsável israelita falava à Lusa à margem da Conferência sobre Cibersegurança, organizada pela embaixada de Israel em Lisboa e em que participaram 12 empresas israelitas ligadas ao setor e mais de duas dezenas de companhias e entidades oficiais de Portugal com o objetivo de aproximar os dois países no combate ao cibercrime e de debater quais as ferramentas à disposição.

Ter ao dispor um CISO (Chief Information Security Officer, um diretor de segurança da informação, que é um executivo sénior que supervisiona a segurança da informação, cibernética e tecnológica de uma organização), é, segundo frisou Gerstenfeld, "essencial" para as grandes empresas, que podem também recorrer ao "outsourcing" para lidar com o risco diário, 24 horas por dia, sete dias por semana.

"Mas, uma pequena empresa recorrerá, provavelmente, a uma terceirização de empresas, ao negócio com as empresas de segurança para encontrar soluções feitas à medida", acrescentou o representante israelita, que disse estar em Lisboa para apresentar às empresas portuguesas 12 soluções para combater o cibercrime em diversas vertentes, nomeadamente prevenção, monitorização, proteção e deteção de riscos.

"Todos, Portugal, Israel ou qualquer outro país, têm muitos 'gaps' por completar, porque os 'hackers', seja uma pessoa privada, uma entidade ou um militar, está sempre um passo à frente do setor privado da empresa. O mais importante que podemos alcançar nesta conferência é poder trabalhar juntos e encontrar soluções feitas à medida", defendeu.

"Para 'fechar' o 'gap', para aprender sobre os desafios que Portugal está a enfrentar, e acho que o coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança [Lino Santos] falou [na abertura da conferência] muito sobre a nova legislação, que não temos conhecimento suficiente, é muito importante aprender sobre novas oportunidades, porque todas elas têm de ser habilitadas de acordo com a Diretiva de Segurança das Redes e da Informação 2 (NIS2)", prosseguiu.

A NIS2 é uma regulamentação europeia que visa reforçar a cibersegurança de infraestruturas críticas e serviços digitais, especialmente para organizações consideradas essenciais e importantes e, paralelamente, estabelece novos padrões e obrigações para a gestão de riscos, tratamento de incidentes, continuidade de atividades e segurança da cadeia de abastecimento.

"Então, há novas medidas de proteção agora, as empresas israelitas poderiam ajustar, e poderiam fazer soluções à medida, e poderiam desenvolver soluções especiais", afirmou.

E, por outro lado, "Portugal pode aprender sobre soluções israelitas que não são usadas aqui", defendeu Gerstenfeld.

A Lusa tentou falar com o responsável do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), mas Lino Santos escusou-se a fazer quaisquer comentários sobre a conferência.

Na lista de empresas e entidades portuguesas presentes na conferência, cujo local de realização só era indicado após a respetiva inscrição para o evento, figuraram, entre outros, nomes como a ANA -- Aeroportos, CTT, REN, EDP, E-Redes, Águas de Portugal (AdP), Galp, Jerónimo Martins, Caixa Geral de Depósitos, Polícia de Segurança Pública (PSP) e Marinha.