As autoridades sul-coreanas afirmaram esta terça-feira que a aplicação chinesa de inteligência artificial DeepSeek enviou dados de utilizadores sul-coreanos para a ByteDance, proprietária da popular rede social TikTok, também de origem chinesa.

É a primeira vez que uma entidade reguladora nacional confirma a potencial fuga de dados de utilizadores do DeepSeek para terceiros, de acordo com a imprensa sul-coreana, e acontece depois de a Coreia do Sul se ter juntado a outros países na proibição da utilização da aplicação chinesa de IA, devido aos riscos para a segurança.

A Comissão de Proteção de Informações Pessoais da Coreia do Sul (PIPC) confirmou os avisos de alguns especialistas em cibersegurança de que a DeepSeek poderia transferir dados pessoais para outras entidades sem o consentimento dos utilizadores.

"Confirmámos que a DeepSeek comunicou com a ByteDance", disse um porta-voz da PIPC, citado pela agência de notícias local Yonhap, referindo que o regulador ainda tem de verificar que tipo de dados foi transferido para a proprietária do TikTok e em que escala.

A lei sul-coreana exige que os operadores tenham o consentimento explícito dos utilizadores para transferir os seus dados para terceiros.

Na reação, a China garantiu que atribui grande importância à proteção da privacidade: “O Governo chinês atribui grande importância à privacidade e à segurança dos dados e protege-os de acordo com a lei", afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Guo Jiakoun.

Coreia do Sul retira DeepSeek das lojas de aplicações

Na segunda-feira, a Coreia do Sul anunciou a retirada da DeepSeek das lojas de aplicações locais, numa altura em que está a investigar a forma como a empresa chinesa gere os dados dos utilizadores.

A Coreia do Sul é um dos vários países, incluindo Itália, França e Austrália, que manifestaram preocupações sobre a proteção da privacidade e da segurança nacional da DeepSeek, desde o estrondoso lançamento do seu grande modelo de linguagem no mês passado.

O procedimento em curso visa "examinar em pormenor as práticas de processamento de dados pessoais da DeepSeek, para garantir que cumprem" a lei, disse Choi Jang-hyuk, vice-presidente da comissão sul-coreana responsável pela proteção de dados pessoais, em conferência de imprensa.

No final de janeiro, o regulador sul-coreano já tinha anunciado que pediu explicações à DeepSeek sobre o tratamento das informações fornecidas pelos utilizadores.

Desde então, a empresa chinesa "reconheceu certas deficiências" em matéria de proteção da privacidade, declarou na segunda-feira a comissão.

O organismo sublinhou que "será inevitavelmente necessário algum tempo" para retificar a situação, daí a decisão de retirar a aplicação das lojas de 'apps'.

A plataforma deixou de estar disponível para download no sábado à noite, mas continua a funcionar para os utilizadores que já a possuem.

Transmissão de dados pessoais a terceiros preocupa muitos países

No início de fevereiro, vários ministérios sul-coreanos, incluindo o da Defesa e o do Comércio, bloquearam o acesso ao DeepSeek nos seus computadores.

Os gigantes tecnológicos sul-coreanos, como a Samsung Electronics e a sua rival SK Hynix, são os principais fornecedores dos microprocessadores avançados utilizados nos servidores de IA.

O modelo R1 da DeepSeek surpreendeu pela capacidade de igualar os concorrentes norte-americanos, apesar de ter sido desenvolvido a baixo custo e de funcionar com menos recursos, pondo em causa o modelo de negócio do setor.

Mas é preocupante para muitos países porque os termos e condições do DeepSeek contêm uma secção sobre a transmissão de dados pessoais a terceiros.

Embora esta menção seja muito semelhante à do ChatGPT, da OpenAI, os especialistas mostraram-se preocupados com o risco de estes dados caírem nas mãos das autoridades chinesas.

Pequim, por seu lado, afirmou que o Governo chinês "nunca exigirá que empresas ou indivíduos recolham ou armazenem dados ilegalmente".

Taiwan proibiu as agências governamentais de utilizarem o chatbot, alegando riscos para a "segurança nacional", enquanto a Austrália ordenou a remoção dos programas da empresa chinesa dos dispositivos governamentais.

Na União Europeia, a autoridade italiana para a proteção dos dados pessoais lançou uma investigação sobre a DeepSeek, que foi proibida de processar os dados dos utilizadores italianos.

A CNIL francesa, responsável pela proteção de dados, e a Comissão de Proteção de Dados irlandesa (DPC) - que regula os gigantes da tecnologia em nome da UE - exigiram explicações à DeepSeek sobre o tratamento de dados.

Já o Governo dos Países Baixos decidiu proibir a utilização da aplicação por todos os seus funcionários públicos.

A China denunciou as restrições recentemente impostas por vários países, qualificando-as de "politização de questões económicas, comerciais e tecnológicas".


- Com Lusa