António Vitorino comentava o barómetro da imigração, um inquérito alargado da Fundação Francisco Manuel dos Santos divulgado por ocasião do Dia Internacional das Migrações, que se celebra hoje, em que 63% dos inquiridos querem uma diminuição dos imigrantes do subcontinente indiano, por oposição a outras origens de imigrações.

O mesmo estudo conclui que 67,4% dos inquiridos dizem que os imigrantes contribuem para mais criminalidade e 68,9% consideram que ajudam a manter salários baixos, ao mesmo tempo, que 68% concordam que "são fundamentais para a economia nacional".

Sobre a reação a quem chega da Índia, Nepal ou Bangladesh, António Vitorino reconheceu que "o facto de 70% dos imigrantes em Portugal falar em português no seu país de origem é um fator de facilitação da integração na sociedade portuguesa", o que não sucede com esses países.

Por isso, neste caso, o Estado tem uma "resposta muito simples: é preciso que aqueles que vêm aprendam a língua porque a língua é o primeiro grande patamar de integração dos imigrantes na sociedade de acolhimento", defendeu o também presidente do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo (CNAIMA), em declarações aos jornalistas no final de uma conferência na Universidade de Lisboa.

Para o dirigente, o inquérito mostra que "há desafios de integração dos imigrantes" e que a "imigração é muito propensa a mitos e a deturpações".

"Esta deturpação de dados tem culpados e, sobretudo, beneficia alguém ou alguma ideologia", porque as "democracias estão hoje cada vez mais vulneráveis à desinformação", com "propósitos populistas", afirmou.

"A integração não é um processo fácil, mas é suscetível de ser bem conseguido", defendeu.

"Conviver com a diferença por vezes é difícil porque nos faz sair da nossa zona de conforto" e a integração "é um processo de dupla via: exige vontade dos imigrantes de integrarem-se na sociedade que os recebe e em respeitarem as regras, os valores, seus costumes, mas também exige o esforço das comunidades de acolhimento, que passam a ter que conviver com diversidade étnica, cultural, religiosa e até gastronómica", acrescentou.

Para António Vitorino, a integração é "um processo que não é linear e que exige muita força, muita vontade e uma liderança esclarecida" por parte do poder político.

Este "ajustamento é um processo que não se faz da noite para o dia, exige capacidade de resposta, acesso aos serviços sociais, acesso ao sistema escolar, mas existe também que os imigrantes compreendam que nós temos uma sociedade coesa e que queremos manter essa coesão", disse ainda.

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