
Divide-os mais o país do que o mundo. Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, e Rui Tavares, co-porta-voz do Livre, debateram este domingo à noite, na CNN, com diferenças sobre impostos, respostas para os jovens, modelo económico e segurança social. E sobre o atual primeiro-ministro, que ambos criticam, mas com o qual Rocha quer ser solução e Tavares defende substituição.
"A condução do processo que levou a eleições foi uma irresponsabilidade de Luís Montenegro", afirmou o presidente da IL garantindo que não se arrepende de nenhuma decisão que tomou nos últimos tempos, como votar a favor da moção de confiança apresentada pelo Governo ou decidir que os liberais vão sozinhos a votos, mas disponíveis para fazer um acordo com a AD.
"Queremos que fasquia da boa governação seja elevada. Com o Livre um primeiro-ministro que tenha uma empresa como a de Luís Montenegro deve ser entregue a um fundo", defendeu Tavares, assumindo, por seu lado, que pretende ter capacidade para influenciar a governação: "Num governo em que o Livre participe o SNS não será privatizado, nem a RTP, nem a Caixa Geral de Depósitos. Não admitimos diminuição de apoio à Ucrânia e a Palestina será reconhecida."
O debate começou pela situação internacional, com Rui Rocha a considerar que se abre para Portugal "um enorme desafio e uma enorme oportunidade": "Esta questão da defesa, com toda a necessidade de investimento adicional, que é evidente que temos que assegurar nos próximos anos, pode ser também essa oportunidade para a nossa economia ter aqui uma evolução muito determinada." O presidente liberal lembrou que "Portugal tem compromissos multilaterais, nomeadamente no quadro da Nato, a Cimeira em Washington no próximo mês de julho vai fixar novas metas" e "Portugal terá obviamente que assumir as suas responsabilidades no contexto internacional, quer nas instituições onde está, quer também na União Europeia".
Tavares, por seu lado, aproveitou para clarificar a posição do Livre sobre a NATO, que tinha sido posta em causa por Nuno Melo no debate com Isabel Mendes Lopes. "O Livre não defende a saída da Nato. Claro que todos sabemos que num tempo normal a resposta poderia ficar por aqui, mas nós não estamos num tempo normal, o mundo mudou, outra vez, e aquilo que nós no Livre nos recusamos a fazer é dos nossos concidadãos pessoas que estejam pouco informadas. As pessoas sabem o que é que se está a passar, sabem que Donald Trump, ele sim ameaça sair da NATO, sabem que Donald Trump coloca em dúvida garantir, respeitar o artigo 5º e temos que estar preparados para a eventualidade dessa decisão ser tomada ou de haver uma omissão à responsabilidade do artigo 5º, que é a coluna vertebral da NATO, a obrigação de ajuda mútua em caso de um ataque nos Bálticos ou na Polónia, além de que Donald Trump neste momento cobiça território de países da Nato", afirmou o co-porta-voz do Livre, que defende uma comunidade europeia da defesa e lembrou que essa ideia teve o voto favorável da IL no Parlamento.
"É toda uma revisão que, sim, também tem oportunidades de fazer investimentos que nós precisamos", acrescentou, mostrando concordância com Rocha.
Já no campo das tarifas impostas por Trump, Rocha considera-as um erro e que "é preciso dar força ao comércio livre", pelo que "não se deve responder a um erro com outro erro" que será responder com mais tarifas ou pôr o Orçamento do Estado a pagar custos das empresas. Tavares também concorda que não sejam os contribuintes a pagar as tarifas, mas admite alguns apoios às empresas para manter postos de trabalho que possam manter a viabilidade. Já o plano apresentado pelo Governo foi uma "operação de propaganda". "Luís Montenegro tem muito jeito para a propaganda", acusou, acentuando que "o ministro das Finanças já veio dizer que não há dinheiro novo".
Passando, então, para o plano nacional, veio o mundo de diferenças entre os Ruis. Rocha defende uma reforma da segurança social que abra aos contribuintes a possibilidade de usar aplicações de poupança. Mas, reconheceu, "qualquer modelo depende sempre de crescimento económico, com estagnação não há modelo sustentável". Tavares respondeu com o que se está a passar nos EUA, onde os planos pessoais de segurança social "perdem valor cada dia" e passou ao ataque às propostas económicas dos liberais.
"Não podemos assumir que o mundo está a mudar e depois fazer de conta que não muda. Dizemos que podemos estar numa recessão, mas depois todas as propostas da Iniciativa Liberal dependem de haver crescimento económico", afirmou, acusando Rocha de não conseguir explicar como consegue fazer o corte de impostos a que se propõe. "É uma fezada, é um milagre", disse, num momento em que os dois líderes já se estavam a tratar por "tu". "Só as vendes uma vez", atirou Tavares sobre as privatizações que Rocha defende e que incluem a RTP, a TAP e a Caixa Geral de Depósitos.
"Qual é o problema de um português que é resolvido com uma destas cosias. Nem o problema da calvície que era o que me interessava", ironizou o porta-voz do Livre, acrescentando que "o país não está para aventuras".
Rocha respondeu com a falta de clareza do Livre sobre as descidas de IVA e IRS e que Tavares se escusou na incerteza internacional para contabilizar. O liberal também aproveitou para colar o Livre ao PCP e ao Bloco, sobretudo no que diz respeito a medidas para a habitação: "O Livre, embora se apresente como moderado, está algures entre a foice e o martelo." Uma frase que levava preparada para um debate entre partidos que têm muitas diferenças, mas que se tocam em várias áreas e podem disputar eleitorado entre si.