Considerado como um dos homens fortes na organização de massas do partido, o dirigente do MPLA falava em entrevista à agência Lusa, em Luanda, sobre a situação política em Angola, numa altura que Ana Gomes, crítica do atual regime, está no país para aferir do cumprimento dos direitos humanos.
"Ainda tem sítios para ir, lá em Portugal, tinha que ir visitar o engenheiro Sócrates, que são do mesmo partido, que está preso lá dentro e que se calhar precisa de apoio desse tipo de pessoa. Tem que ir lá no Sócrates", afirmou o general angolano.
A eurodeputada socialista está em Luanda a convite da Associação Justiça, Paz e Democracia e agendou para sábado uma conferência de imprensa para abordar as conclusões sobre a visita a Angola, que coincidiu com a realização, na quarta-feira, na capital, de uma manifestação de jovens ativistas que terminou com uma carga policial.
Ana Gomes está em Luanda na qualidade de membro do Parlamento Europeu e da subcomissão de direitos humanos da União Europeia e já admitiu, durante esta visita, ter ouvido "expressões de preocupação" sobre direitos humanos em Angola.
A sua presença em Angola tem sido duramente criticada nos últimos dias por figuras do MPLA, partido que suporta o Governo, e do próprio Executivo, que acusam Ana Gomes de ingerência nos assuntos internos do país.
"Andar de Portugal para Angola é longe, tem sítios na Europa que tem mais problema que Angola. Achamos que essa deputada tem que evitar de criar ?show' com os angolanos. Angola é um país independente há muito tempo, nós com Portugal somos irmãos", enfatizou o general "Kangamba".
Para o também secretário do comité provincial de Luanda do MPLA para a Área Periférica e Rural, "em vez de se preocupar" com Angola, a eurodeputada - que já se reuniu esta semana com vários ministros angolanos de acordo com a comunicação social pública, a Lusa não teve acesso ao programa da visita - "podia ir a países onde existem esses conflitos", apesar da "abertura" para demonstrar a situação do país.
"Portugal e Angola já não podem ter este tipo de situação. Pessoas de Portugal virem aqui agitar em Angola, pessoas de Angola irem agitar em Portugal", disse ainda.
Um grupo de cerca de 40 jovens ativistas manifestou-se na quarta-feira em Luanda para exigir a libertação de 15 outros elementos, detidos desde 20 de junho por alegada tentativa de golpe de Estado.
Têm sido apontados publicamente, em termos nacionais e internacionais, como presos políticos, por alegarem que apenas discutiam política, uma tese que o dirigente do MPLA rejeita.
"Presos políticos não há, nunca existiram. Não vejo a UNITA, a CASA-CE, a FNLA, o PRS, a reclamarem os seus militantes presos. Os que estão presos são jovens que algumas pessoas estão a incentivar para fazerem arruaça que não está prevista na nossa Constituição", afirmou.
Numa altura em que os partidos angolanos dão o tiro de partida para os congressos que ao longo dos próximos doze meses vão preparar as eleições gerais de 2017, o dirigente do MPLA diz que na base da agitação "com cinco ou seis miúdos" estão "outros partidos que querem subir no poder a todo o custo".
"Aqui não é isso. Treze anos de Paz não é nada para anos e anos de guerra em que que se mataram tantos milhares angolanos", apontou, admitindo que o país ainda tem "muitos problemas para resolver".
"Por exemplo é preciso criar condições para os que vieram da mata [militares, com o fim da guerra], para que eles depois possam também criar os seus filhos", rematou o general angolano.
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