"O Governo está a fazer muito bem em abster-se nesta votação, há muitas outras questões que estão por detrás daquilo que levou a este conflito, que não estão sendo postas em cima da mesa", afirmou Machel, em declarações aos jornalistas.

A ativista falava à margem de um evento da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), uma organização não-governamental (ONG) a que preside.

Moçambique, prosseguiu, deve posicionar-se em função dos seus interesses, a cada momento, porque é um país soberano.

"Nós estamos a ser forçados a tomar ou um ou outro lado, o que nós estamos a dizer é que nós não tomamos nem um nem outro [lado], enquanto os interesses que estão por detrás e que levaram a este conflito não forem muito claros", declarou.

Graça Machel frisou que a postura de Moçambique em relação ao conflito Rússia- Ucrânia é coerente com o seu passado de pertença ao defunto movimento dos países não-alinhados, como eram conhecidas as nações que primavam pela neutralidade durante a guerra-fria entre o Ocidente e o extingo bloco comunista.

"Eu aqui tenho saudades daquele tempo em que nós tínhamos o movimento dos não-alinhados, se houvesse liderança pujante era importante reativar aquele movimento dos não-alinhados", enfatizou.

O primeiro marido de Graça Machel, Samora Machel, era um marxista-leninista assumido e foi Presidente de Moçambique, numa altura de cooperação mais estreita entre o país africano e Moscovo, durante os tempos da URSS e do bloco comunista.

Embaixadores de países ocidentes têm manifestado publicamente descontentamento com a abstenção do Governo moçambicano na votação da resolução da Assembleia-Geral que condena a invasão russa da Ucrânia, com diplomatas norte-americanos e europeus a lembrar a Maputo que os seus países canalizam muito apoio à nação africana, no âmbito da cooperação para o desenvolvimento, o que é considerado chantagem pelas autoridades moçambicanas.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.793 civis, incluindo 176 crianças, e feriu 2.439, entre os quais 336 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,5 milhões para os países vizinhos.

Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária. 

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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