Há um mistério no sistema de asteroides Dimorphos – e resolvê-lo poderá ajudar a tornar a Terra mais segura contra ameaças espaciais. Esse é o objetivo da missão Hera da Agência Espacial Europeia (ESA), a primeira missão europeia de defesa planetária.
A sonda Hera foi lançada esta segunda-feira às 15:52 (hora de Lisboa).
A ESA transmitiu o lançamento em direto na ESA WebTV, ESA YouTube e nas contas da ESA no X e LinkedIn.
Missão de defesa planetária Hera
A missão espacial Hera leva uma sonda a viajar até Didymos, um sistema de dois asteroides próximo da Terra, onde deverá chegar no final de 2026.
Esta é a segunda parte de um projeto iniciado pela NASA com a sonda DART que, em setembro de 2022, colidiu com um asteroide para desviá-lo.
Dimorphos, uma lua na órbita de um dos asteroides, tornou-se assim no primeiro objeto no Sistema Solar a ter sua órbita alteradapelo esforço humano de forma mensurável.
"Hera é a primeira missão de defesa planetária da Agência Espacial Europeia. Trata-se de um novo programa que criámos recentemente e cujo objetivo é estudar e promover meios de defesa planetária para podermos defender a Terra de futuras ameaças, incluindo impactos de asteroides", explica I gnacio Tanco, responsável de operações da missão Hera.
Resultados "bastante diferentes do que esperávamos"
Em colaboração com a NASA, Hera vai fazer o estudo detalhado sobre o pós-impacto da sonda norte-americana DART em Dimorphos.
"O importante é que, pela primeira vez, a humanidade foi capaz de alterar a órbita de um corpo celeste. Tínhamos modelos para isso, e o que vimos foi que os resultados do impacto não eram os esperados, de facto, eram bastante diferentes do que esperávamos", confessa I gnacio Tanco .
Os cientistas querem resolver o enigma do Dimorphos, nomeadamente descobrir a sua massa e composição exatas, compreender os efeitos do impacto, incluindo o tamanho da cratera e se o asteroide foi fragmentado ou não.
"A mudança na órbita foi maior do que imaginávamos que deveria ter acontecido. Temos de perceber exatamente porquê para melhorar os nossos modelos. Por isso, temos de lá ir. Hera completará esta tarefa e teremos uma melhor compreensão da dinâmica e da estrutura interna deste asteroide".
A caminho de Dimorphos passando por Marte
Depois de lançada, Hera entrará em velocidade de cruzeiro durante dois anos.
Uma manobra inicial no espaço profundo em novembro de 2024 será seguida por um sobrevoo por Marte que nos vai oferecer uma visão rara da lua de Marte, Deimos, em março de 2025.
"A missão irá primeiro para Marte, porque não temos energia suficiente no foguetão para chegar diretamente ao asteroide. Usaremos Marte para nos acelerar. Assim, chegaremos a Marte no próximo ano e, em 2026, chegaremos finalmente ao asteroide", refere I gnacio Tanco .
Uma segunda manobra no espaço profundo em fevereiro de 2026 alinhará Hera para a chegada ao sistema binário de asteróides Didymos.
Em outubro de 2026, um “encontro impulsivo” levará Hera para as proximidade do sistema de asteroides para a inserção em órbita.
"Isto exigirá uma navegação muito precisa, pelo que a fase de cruzeiro será muito delicada. Quando lá chegarmos, precisaremos do ponto de encontro, por isso vamos fazer uma manobra muito precisa para nos aproximarmos muito do asteroide. Mais uma vez, será um desafio significativo para a missão, mas estamos certos de que conseguiremos atingir os nossos objetivos. Por isso, estamos a receber formação e as equipas estão a preparar-se para isso", garante I gnacio Tanco.
As grandes ameaças vinda do espaço
Nas últimas décadas apercebemo-nos que existem ameaças que podem vir espaço. "Aprendemos que ainda há muito material que teve origem na criação de um sistema forte que ainda está a orbitar em órbitas próximas da Terra. E começámos a descobri-los em grande número", revela Juan Luis Cano, coordenador de defesa planetária da ESA.
" Percebemos que existe uma ameaça real de asteroides colidirem com a Terra , o que poderia causar danos significativos às nossas sociedades. Temos de nos proteger contra isso e é por isso que as agências espaciais e, em particular, a Agência Espacial Europeia, estão a preparar-se para enfrentar essa ameaça".
Participação portuguesa
A missão tem o contributo de empresas portuguesas. Efacec, Tekever, GMV e FHP estiveram envolvidas no desenvolvimento de vários componentes tecnológicos e operacionais, como um instrumento com tecnologia 'laser' capaz de medir distâncias até 20 quilómetros, o isolamento térmico e o sistema de orientação, navegação e controlo da sonda e um sistema inovador de comunicação entre satélites, segundo informação da Agência Espacial Portuguesa.