"Sou muito honesto, também não gostei de ver. No sentido visual, não gostei de ver. É uma situação anómala, que não é o dia a dia", comentou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, em entrevista ao "Diário de Notícias", relativamente ao sucedido na ação policial na Rua do Benformoso, em Lisboa, em que transeuntes, muitos deles imigrantes, foram imobilizados e encostados à parede para serem revistos.

Numa entrevista concedida por ocasião do 160.º aniversário do Diário de Notícias, celebrado este domingo, 29 de dezembro, o chefe de Governo acrescentou, contudo, que não viu "ali nenhum desrespeito pela dignidade das pessoas", justificando o aparato com a necessidade de se procederem a buscas: "é preciso compreender isso à luz deste critério, que presumo ter sido com base em boas práticas policiais", arriscou.

"Mas devo dizer outra coisa, com a mesma honestidade: lembro-me de ter visto muitas mais imagens daquelas. Até noutro tipo de operação policial, de rusgas, nomeadamente, com fenómenos ligados à noite", acrescentou ao jornal.

Montenegro voltou, na mesma entrevista, a rejeitar qualquer interferência política na ação da PSP, acusação várias vezes feita pela oposição nos dias que se seguiram à operação de 19 de dezembro: "não falei com ninguém, rigorosamente ninguém, nem antes, nem durante, nem depois da operação".

Na sexta-feira, o primeiro-ministro, na cerimónia da tomada de posse do Secretário-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) e da Secretária-Geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), disse sentir-se "atónito e muito perplexo" com as críticas ao Executivo, rejeitando como "inusitados e injustificados" os argumentos apresentados, e garantindo que “não há em Portugal nenhuma ação policial dirigida a uma comunidade específica".

Antes do Natal, a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) anunciou a abertura de um inquérito administrativo à operação policial para analisar "o enquadramento e contexto em que a referida operação foi determinada e teve lugar". No mesmo comunicado avançou que não recebera à data "qualquer queixa ou participação relacionada com má prática, conduta desadequada ou desproporcional por parte da PSP no decurso da referida operação".

A operação especial de prevenção criminal na zona estava a ser preparada pela PSP desde setembroe teve luz verde do Ministério Público com base em dados, recolhidos pela polícia, relativos a 52 crimes com armas brancas, ocorridos nos últimos dois anos, no Largo do Martim Moniz, na Rua do Benformoso e no Largo de São Domingos, em Lisboa. As buscas resultaram em apreensões de bens e na detenção de dois cidadãos de nacionalidade portuguesa.