Este é um número recorde desde que esta organização não governamental (ONG) começou a investigar os desaparecimentos de migrantes no mar a caminho de Espanha.
Segundo a organização, o número reflete um "notável aumento de mortes nos últimos dois anos", já que em 2023 os 6.618 óbitos foram quase o triplo das mortes registadas no ano anterior.
Relativamente a 2024, a Caminando Fronteras destaca que, do total de pessoas que perderam a vida, 421 eram mulheres e 1.538 crianças ou adolescentes. A rota atlântica para as ilhas Canárias "continua a ser a mais letal a nível mundial", com 9.757 vítimas, ou seja, 93% do total.
As restantes mortes ocorreram na rota da Argélia (517), no Estreito (110) e na rota de Alborán (72).
O relatório "Monitorização do Direito à Vida 2024", que recolheu informação até 15 de dezembro e detalhou 293 tragédias ocorridas nas diferentes rotas migratórias, refere ainda que 131 barcos desapareceram sem deixar rasto, com todos os imigrantes que tinham a bordo.
Destaca-se o "aumento assinalável" este ano das saídas da Mauritânia, país que "se consolidou como o principal ponto de passagem migratória" para as Canárias. Nesta rota registaram-se 6.829 mortes.
Além disso, a rota da Argélia para as ilhas Baleares é também considerada uma das "mais perigosas" pela sua extensão e pela dificuldade da viagem, como também é o caso da rota do Atlântico, que termina na ilha canária de El Ferro.
Abril foi o mês que registou mais mortes, com 1.284, seguido dos meses de maio (1.103) e fevereiro (1.093).
As 10.457 mortes contabilizadas pela Caminando Fronteras referem-se a cidadãos de 28 nacionalidades diferentes.
A ONG analisa ainda as causas do aumento dos naufrágios, apontando a omissão do dever de prestar auxílio. Neste sentido, garante que "a falta de ativação atempada dos protocolos de resgate e a escassez de recursos nas operações de resgate têm aumentado as mortes".
O controlo da imigração, sublinha, tem tido prioridade sobre o direito à vida, uma vez que as políticas nesta área se centram em impedir a chegada de migrantes, "mesmo à custa de vidas humanas".
Outra das causas apontadas pela organização é a "externalização das fronteiras": "A responsabilidade pelo resgate é transferida para países com recursos limitados, piorando a capacidade de resposta nestas emergências", indica no relatório.
Muitos resgates, acrescenta, "não foram acionados a tempo", mesmo quando a localização das embarcações em risco era conhecida.
"A falta de coordenação internacional e os atrasos na ajuda foram fatores determinantes para estes números devastadores", sublinha.
A Caminando Fronteras acredita ainda que a "criminalização e estigmatização" das organizações sociais e familiares que alertam para as pessoas em risco afeta a eficácia das operações de resgate.
Perante a situação traçada, Helena Maleno, coordenadora da investigação, alerta para a "profunda falha" dos sistemas de salvamento e proteção e apela a que "se dê prioridade à proteção do direito à vida, que se reforcem as operações de busca e salvamento e que seja garantida justiça às vítimas e às suas famílias".
O relatório destaca a presença de mulheres nas rotas migratórias, com maior percentagem nas travessias do Atlântico, especialmente nas rotas entre Agadir e Dakhla (Marrocos).
Estas mulheres, maioritariamente em trânsito, "enfrentam violência, discriminação, racismo, deportações e violência sexual", refere o documento, que especifica que muitas viajam com crianças nascidas durante a viagem e sobrevivem em condições extremas através da mendicidade, da prostituição e de empregos precários, o que as torna mais vulneráveis ao recrutamento por redes de tráfico.
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Lusa/fim