"A Revolução virá [de novo] e acabará com [o poder de] Kais [Saied]" ou "É a tua vez ditador" foram as principais palavras de ordem gritadas por cerca de meia centena de jovens, reunidos durante a tarde em frente ao Teatro Municipal, no centro de Tunes, reportou um jornalista da agência noticiosa France-Presse (AFP).
Alheios à polícia civil que os fotografava, os jovens gritavam as palavras de ordem enquanto seguravam cartazes que proclamavam: "A Revolução é uma ideia e uma ideia nunca morre", "Abaixo Kais Saied" e "Liberdade para os presos políticos".
Durante a manhã, a Frente de Salvação Nacional (FSN), a principal coligação da oposição que inclui o partido islamo-conservador Ennahdha, a "besta negra" de Kais Saied, tinha organizado uma primeira manifestação de algumas dezenas de pessoas contra a "repressão" dos opositores.
Os manifestantes entoaram cânticos como "Liberdade! O poder judicial sob ordens" e "Fiel ao sangue dos mártires" da revolução de 14 de janeiro de 2011.
Muitos empunhavam fotografias de opositores detidos, como o antigo primeiro-ministro Ali Larayadh, líder do Ennahdha, que está a ser julgado num caso ligado ao envio de 'jihadistas' para a Síria, ou o advogado Jawhar Ben Mbarek, cofundador da FSN, acusado de conspiração contra a segurança do Estado.
Ao abrigo de um decreto presidencial, Saied alterou a data oficial do início da Revolução Tunisina e aboliu o feriado de 14 de janeiro, substituindo-o por 17 de dezembro, o dia em que o vendedor ambulante Mohamed Bouazizi se imolou, há pouco mais de 14 anos, em protesto contra a apreensão dos seus bens pela polícia.
"O 14 de janeiro não é uma data fácil de apagar. Esta avenida [Habib Ben Ali Bourguiba, primeiro Presidente da Tunísia, de 1957 a 1987] testemunhou um grande acontecimento histórico", disse à AFP Chaima Issa, um líder da FSN, que também está a ser julgado.
As manifestações incessantes que começaram a 17 de dezembro de 2010 e levaram à destituição do ditador Zine El Abidine Ben Ali, a 14 de janeiro, marcando o início da 'Primavera Árabe', reuniram "jovens e velhos, com diferentes tendências políticas, da capital e de todas as regiões", recordou Chaima Issa.
Desde o golpe de força do verão de 2021, em que o Presidente Saied assumiu o poder em pleno, várias organizações não-governamentais tunisinas e estrangeiras, bem como a oposição, têm denunciado uma "deriva autoritária", com o desmantelamento dos controlos e equilíbrios e a asfixia da sociedade civil, com detenções de opositores, sindicalistas, ativistas, advogados e jornalistas.
Segundo a Human Rights Watch, mais de 170 pessoas estão detidas por razões políticas ou pelo exercício dos seus direitos fundamentais, algumas das quais aguardam julgamento desde 2022.
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