
O chefe de Estado discursava na sede da Academia Militar, em Lisboa, na sessão de apresentação do livro "Afeganistão: Testemunhos de dezasseis anos de presença de Forças Nacionais Destacadas Lusas (2005-2021)".
"É bom que fique claro o mais rápido possível qual é a missão da NATO. Se quiserem, a missão no sentido mais amplo, corporizada não apenas na estratégia recentemente aprovada, mas na concretização atual dessa estratégia. Saber-se qual é ou quais são os adversários principais é fundamental", declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República argumentou que "ninguém combate sem saber por que é que combate, por que razões combate, com que finalidade combate, não pode combater num clima da dúvida".
"O prolongamento da dúvida é um enfraquecimento objetivo daqueles que são chamados a combater, são chamados a maior recrutamento, são chamados a um reforço de capacidades, mas ao serviço de uma missão. Tem de se saber qual é essa missão", reforçou.
Nesta intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa considerou "um erro histórico enfraquecer a NATO, como aconteceu entre 2016 e 2020", na anterior administração norte-americana de Donald Trump, "desde logo, pela não definição do adversário principal" e "por querelas secundárias".
"E só espero que a tentação que hoje vivemos se não venha a concretizar: o enfraquecimento da NATO pelo papel de um aliado fundamental. Seria um erro duplamente histórico", acrescentou.
Antes, o Presidente da República criticou o modo como os Estados Unidos da América decidiram e procederam à saída do Afeganistão, entre 2020 e 2021, contrapondo que Portugal cumpriu a sua missão militar naquele país.
"No início de 2020, dava-se início ao enfraquecimento de um compromisso de responsabilidade e estabilidade para o equilíbrio da segurança na região", referiu, visando as opções de Donald Trump no seu anterior mandato.
O chefe de Estado manifestou o desejo de que "a experiência do Afeganistão possa servir de ensinamento a quantos têm de atuar no presente e de preparar o futuro" e não se venha a repetir, "em maior, nos tempos em que estamos a viver ou no futuro".
Sobre o atual contexto global, Marcelo Rebelo de Sousa criticou indiretamente o Presidente dos Estados Unidos da América, afirmando que "um fraco chefe faz fraca a forte gente" e que "uma das características da liderança forte é saber para onde vai, saber o que quer e para onde vai".
"Não afirma objetivos que reveja no dia seguinte, e depois volta a rever dias envolvidos, e depois não são exatamente os mesmos. Quer o melhor de dois mundos: quer a certeza da aliança e do compromisso dos aliados e, por outro lado, sentir-se livre para ter o seu próprio caminho geoestratégico. São mundos incompatíveis", completou.
Segundo o Presidente da República, é isso que está a acontecer e este "é um momento que não pode durar demasiado, porque é incompreensível para os povos e porque é incompreensível sobretudo para as Forças Armadas".
IEL // JPS
Lusa/Fim