"Não é a primeira vez que a Rússia diz que tem a disponibilidade do recurso a forças ou armas nucleares, mas sempre juntando qualquer coisa" no sentido de que o fará "como resposta àquilo que seja considerado significativo e dando a entender sempre" que não ultrapassa a proporcionalidade, disse Marcelo Rebelo de Sousa, no final da entrega do Prémio PME Inovação COTEC-BPI 2024, no Porto.

Da parte de quem apoia a Ucrânia, também "não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez" que se diz que não se pode admitir que a Ucrânia venha a ser tratada de uma forma que seria chocante" do ponto de vista do Direito Internacional e dos princípios da Carta das Nações Unidas.

Da parte da Rússia, acrescentou, há "um cuidado também muito grande na resposta que dá", tendo presente que há patamares que não se podem ultrapassar.

"Portanto, não estou à espera que haja, para além disto (ofensivas militares de parte a parte), a perda de controlo e uma escalada. Trata-se de administrações muito experientes que lidam com isto há muitos anos", declarou.

"Isto neste momento tem sido visível. Eu acho que isso é bom. É bom porquê? Porque os princípios, os valores devem ser defendidos, mas há sempre uma ideia subjacente a tudo que é afirmar esses valores construindo a paz e, portanto, não ultrapassando um patamar de ofensiva de parte a parte que tornasse muito mais difícil o depois conter essa escalada", disse.

O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou hoje o decreto que alarga a possibilidade de utilização de armas nucleares, depois de os Estados Unidos terem autorizado Kiev a atacar solo russo com os mísseis de longo alcance fornecidos por Washington.

No dia em que se assinalam 1.000 dias de guerra, o Presidente da República recordou que esta é, além de um sacrifício dos ucranianos, "um teste à aliança que se fez, norte-americana e europeia, na NATO e na União Europeia em torno da defesa da Ucrânia".

"Foi importante que hoje o Parlamento Europeu ovacionasse e mostrasse, que depois de 1.000 dias, continua firme a essa aliança. Nós sabemos como há várias sensibilidades na Europa, mas a unidade no essencial está preservada e a unidade com os Estados Unidos da América", frisou.

Apesar do reforço do apoio militar dos EUA à Ucrânia em termos de capacidade de contraofensiva, esse é ainda assim limitado, lembrou.

Marcelo Rebelo de Sousa realizou uma visita de dois dias à Ucrânia em agosto do ano passado, a convite do Presidente Volodymyr Zelensky, por ocasião do 32.º aniversário da independência deste país.

Em maio deste ano, Zelensky esteve em Lisboa numa visita de algumas horas, durante a qual se reuniu com o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, e foi assinado um acordo bilateral de cooperação e segurança.

A guerra na Ucrânia começou há mil dias com a invasão russa de 24 de fevereiro de 2022.

O conflito provocou a maior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial.

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