Para Luís Marques Mendes, as declarações do presidente da Câmara de Loures foram “infelizes”, ao defender o despejo de habitações municipais dos participantes em desacatos no concelho, mas admite que a intenção de Ricardo Leão era chamar a atenção para a necessidade de aumentar a segurança nas ruas
“Estas declarações são, de facto, surpreendentes e, em boa verdade, mais próprias de um dirigente de Chega do que de um dirigente e autarca socialista. Eu não subscrevo esta posição do presidente da Câmara do Loures, mas também não o crucifico”, começou por afirmar Luís Marques Mendes, no seu habitual espaço de comentário no Jornal da Noite, na SIC.
Para além das “razões jurídicas”, uma vez que as autarquias não têm esse poder, o comentador considerou que são acima de tudo as razões humanas e sociais que não justificam essa proposta. “Se essa pessoa vivesse com filhos, com crianças ou com adolescentes, também iam ficar sem teto na rua? Eram condenadas também por erros de outra pessoa. E se houvesse idosos, iam para a rua. Humanamente não é aceitável”, acrescentou.
Ainda assim, entende que Ricardo Leão pretendeu defender que é inaceitável o aumento da criminalidade e da insegurança em Loures e que são necessárias medidas. “A forma foi infeliz, não concordo, mas não o crucifixo porque o objetivo foi esse”, insistiu, depois de Alexandra Leitão e as Mulheres Socialistas terem criticado as declarações do autarca do PS.
Na visão de Marques Mendes haverá ainda outro objetivo por trás da afirmação polémica do presidente da câmara, uma vez que terá receio do “efeito-Chega” nas eleições autárquicas e quer ser reeleito.
Com os cidadãos cada vez mais preocupados com o aumento da insegurança e o facto de as autoridades não estarem a fazer o suficiente, os autarcas podem ser as“próximas vítimas políticas” e ser penalizados nas eleições do próximo ano. “Ainda que a mal não abrem mãos do discurso securitário. Não é uma questão de convicção, é uma questão de se protegerem a si próprios. É preciso ir além das declarações e tratar do problema de fundo”, advogou.
Questionado sobre outra polémica que envolveu a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, o social-democrata considerou também que a governante teve uma “infelicidade”, mas fez bem em recuar através de nota divulgada esta tarde, fechando a porta ao diálogo sobre o direto à greve.
Em causa esteve uma declaração da ministra durante o primeiro congresso da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), em Lisboa, que admitiu que o Executivo estaria aberto a debater o direto à greve - algo que o primeiro-minstro fechou sempre a porta.
“Primeiro, o PM foi categórico, nas últimas eleições, num debate com André Ventura, chamou-lhe irrresponsável por defender o direto à greve. Portanto, a ministra não podia vir contrariar a opinião do primeiro-ministro. E segundo, a ministra também não percebeu a questão da oportunidade: então, num momento em que as pessoas querem a segurança, vai-se falar de direito à greve dentro das polícias?”, atirou, recomendando a Margarida Blasco que para a próxima pense bem antes de falar.
O comentador deu, por sua vez, nota positiva à subintendente Aurora Dantier, que sustentou que a PSP deve fazer as “pazes” com os bairros socias e apostar no policiamento de proximidade durante o mesmo congresso: “Acertou na busca de declarações de uma enorme lucidez e sensatez, às vezes mais do que os políticos”, concluiu.