O recém-empossado primeiro-ministro francês, Michel Barnier, admitiu que o país está em “estado de emergência”, mas recusou aumentar a "dívida financeira e ecológica" para as futuras gerações. Numa visita ao Serviço de Assistência Médica de Emergência de Paris, no seu primeiro ato oficial enquanto primeiro-ministro, Barnier prometeu o reforço dos serviços públicos e reconheceu que está sob “vigilância de todos os franceses”.
“A situação no sistema de saúde francês é também grave. Mas sem fazer milagres, podemos progredir”, afirmou Michel Barnier, em declarações aos jornalistas, no final da visita, dois dias após ter tomado posse como chefe do governo gaulês.
Segundo o ex-negociador da União Europeia (UE) para o Brexit, a Saúde será uma das prioridades do seu Executivo, garantindo que as melhorias serão, contudo, graduais. “Se se deparar com um chefe do Governo que diz que vai fazer milagres, tenha cuidado”, atirou, citado pelo jornal “Le Monde”.
Enquanto milhares de franceses protestavam em cidades como Paris, Nice, Marselha, Nantes e Estrasburgo contra a escolha do conservador para primeiro-ministro, Barnier apelou ainda à “calma”, elogiando a serenidade e profissionalismo dos profissionais de Saúde, “qualidades úteis” também a um chefe do Governo, uma vez que o país está também em “estado de emergência”.
“Entendemos melhor ouvindo as pessoas, respeitando-as. Aqui num hospital, há progressos a alcançar e poupanças a fazer se ouvirmos as pessoas”, acrescentou, reiterando que a situação do país é “muito grave”, mas há que resolver sem aumentar a dívida financeira e a dívida ecológica para as novas gerações. “Podem ser feitos progressos na eficácia dos gastos públicos e é isso que procuro para preservar os serviços públicos”, insistiu.
Prioridades do Executivo anunciadas no Parlamento
Para além da Saúde e imigração, Barnier explicou que indicará quais serão as outras prioridades do seu Executivo, no início de outubro, durante o seu primeiro discurso no Parlamento. Assegurou, contudo, que estará aberto ao “diálogo”, deixando recados tanto à extrema-direita como à esquerda. “Estou sob vigilância do povo francês, de todos os franceses. O Governo está sob a supervisão democrática de todo o povo francês e de todos os grupos políticos”, afirmou, em resposta ao líder da extrema-direita, Jordan Bardella.
“Golpe de força é uma ideia errada. A ideia é reunir, em cooperação, grande parte dos deputados”, disse, por sua vez, numa mensagem dirigida aos partidos de esquerda e aos manifestantes nas ruas que falam num “golpe de força” de Emmanuel Macron face à escolha do primeiro-ministro de centro-direita, apesar de a coligação de esquerda ter vencido as eleições legislativas do país. “Falarei com todos os grupos políticos, inclusivé aqueles que fizeram oposição automática, antes mesmo de conhecer o projeto do Governo”, vincou.
Cerca de 110 mil franceses saíram este sábado às ruas em França para protestar contra a escolha do novo primeiro-ministro, segundo os dados do Ministério do Interior. Já os organizadores apontam para 300 mil manifestantes em 130 cidades do país, que contaram com comícios e a presença de figuras como Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, um dos partidos que integram a Frente Popular de Esquerda, que venceu as eleições em julho.