Pela primeira vez desde que fazem parte de candidaturas presidenciais nos Estados Unidos, Donald Trump e Kamala Harris vão estar frente a frente num debate, marcado para esta terça-feira na ABC News.

O encontro será o segundo debate de ideias desta corrida às presidenciais, com uma notável diferença de intervenientes. No primeiro, Joe Biden ainda era o candidato do Partido Democrata, mas uma ‘performance’ questionável, em que demonstrou problemas vocais e dificuldade em completar as suas ideias acabou por ser o catalisador de uma mudança dramática na eleição. O Presidente foi substituído um mês depois pela vice-presidente dos Estados Unidos na candidatura democrata.

O debate do dia 10 de setembro vai realizar-se apesar das muitas dúvidas colocadas pela campanha de Trump. O ex-Presidente e a sua equipa inicialmente sugeriram mais datas e mais debates, mas depois ameaçaram desistir por divergências em relação às regras e à televisão que vai fazer a transmissão. Na quarta-feira passada, ambas as candidaturas acordaram finalmente as regras do debate, que será (para já) a última oportunidade que os candidatos terão para contestar o programa e as ideias do adversário.

A algumas horas do debate entre Harris e Trump, recordamos as regras e os parâmetros de um confronto ideológico que pode ser crucial para convencer os muitos norte-americanos indecisos e, com isso, garantir a vitória nas presidenciais de novembro.

Onde, quando e em que canal é que será o debate?

O frente a frente entre Kamala Harris e Donald Trump será no dia 10 de setembro, às 12h00 na Costa Este dos EUA - 2h00 em Lisboa, na madrugada do dia 11 de setembro - e vai durar 90 minutos.

O palco do debate será o National Constitution Center, em Filadélfia, no estado de Pensilvânia (considerado pelas sondagens como um dos estados mais renhidos e indecisos das presidenciais).

Os dois candidatos serão moderados pela ABC News, um canal detido pela Walt Disney Company. Por isso, será possível ver o debate através da ABC News e das transmissões online da ABC News, assim como nas plataformas de streaming Disney+ e Hulu. Os dois moderadores escolhidos são David Muir e Linsey Davis, dois dos pivôs mais conhecidos do canal. Em Portugal, a SIC Notícias — canal do grupo Impresa, que também detém o Expresso — terá uma emissão especial a partir da 1h da madrugada, e transmitirá o debate em direto em inglês (a partir das 2h).

Na sexta-feira, Trump queixou-se da cadeia televisiva na qual concordou debater, catalogando-a como uma empresa de “notícias falsas”, argumentando que a ABC é “território muito hostil” e atacando o jornalista George Stephanopoulos, uma das figuras do canal, por este ter dito que Trump foi considerado culpado por violação (o que é verdade, conforme foi confirmado pela justiça). O ex-Presidente também aproveitou a relação de amizade entre Harris e Dana Walden, uma gestora da Disney, para reiterar que a ABC é “a pior, é a pior de todas, são os mais nojentos”.

Microfones desligados

Tal como no debate de junho entre Trump e Joe Biden, os microfones voltarão a estar desligados ao longo dos 90 minutos, exceto quando for a vez de os candidatos responderem aos moderadores.

Foi este, aliás, o ponto que gerou mais discórdia entre ambas as candidaturas e que ameaçou deitar por terra todo o debate. A equipa de Harris queria os microfones ligados, acreditando que o ex-Presidente seria incapaz de se manter cordial, respeitoso e não interromper a vice-presidente ao longo do debate. Trump chegou a responder que lhe era “indiferente”, mas a sua campanha exigiu que os microfones continuassem desligados.

Porém, a Associated Press avançou que a comitiva de jornalistas que costuma acompanhar a Casa Branca poderá assistir ao debate no National Constitution Center e, assim, ouvir comentários que serão silenciados para a transmissão televisiva.

Tempos, estrutura e ordem do debate

Segundo as regras elencadas pela ABC, o debate irá durar 90 minutos, com duas interrupções para publicidade comercial. Ao contrário do que é habitual na tradição de debates nos Estados Unidos, não haverá espaço para declarações iniciais por parte dos candidatos - ou seja, o encontro vai abrir diretamente com questões dos moderadores. Os candidatos terão, contudo, dois minutos para uma declaração final aos eleitores - Donald Trump ganhou o direito a escolher a ordem dessas declarações, por via de um sorteio por moeda ao ar - e escolheu ser o último a falar.

Kamala Harris ficou com a escolha do pódio, e a vice-presidente optou por estar à direita dos moderadores. Depois da apresentação dos candidatos, as perguntas vão começar com Harris, por representar o partido que venceu as últimas eleições presidenciais.

Cada candidato terá dois minutos para responder às perguntas, seguindo-se dois minutos para contra-argumentação. O candidato terá um minuto extra para esclarecimentos ou respostas. Harris e Trump não podem dirigir perguntas um ao outro.

Regras visuais

Será disponibilizado nos pódios um bloco de notas, uma caneta e uma garrafa de água. Os candidatos não podem levar notas preparadas ou adereços visuais.

Harris e Trump ficarão de pé durante os 90 minutos, sempre atrás do pódio. Durante as duas pausas, os candidatos não podem falar com as suas equipas, seja para ajustar a estratégia política ou para retocar o visual e a maquilhagem.

Público fica em casa

Outra semelhança em relação ao debate de junho - e outra divergência da tradição retórica presidencial - é a inexistência de público. Normalmente, as candidaturas e as televisões permitem a permanência de público nos auditórios, embora a este seja pedido que permaneça em silêncio e que se abstenha de ovações, apupos ou qualquer tipo de demonstração política.

Biden vs. Trump não teve público, e Harris vs. Trump também não terá. O objetivo é limitar distrações e disrupções que possam prejudicar os candidatos.

Esta opção foi sugerida pela campanha de Joe Biden em maio deste ano. Segundo a revista Time, a equipa do Presidente explicou na altura que “os debates devem ser realizados para benefício dos eleitores, que o vêem na televisão e em casa - não como entretenimento para uma audiência com doadores disruptivos e estridentes, que consomem tempo valioso com espetáculos barulhentos de apoio ou discórdia”.