"Na minha praça, pelo menos três colegas meus foram mortos e tiveram as suas motas roubadas", conta à Lusa Isac Basílio, 31 anos, na praça da Bela-Vista, quase no centro da cidade portuária, onde dezenas de jovens motociclistas procuram por clientes na azáfama típica da economia informal que domina os centros urbanos no norte de Moçambique.

Isac Basílio leva passageiros na sua motocicleta entre a poeira das largas ruas de Nacala-Porto há quase cinco anos e, sublinha, foi sempre um "negócio sem muitos problemas", pelo menos até às primeiras notícias sobre assaltos e assassínios de motociclistas no centro e norte de Moçambique.

"Estamos a perder muitos colegas, mesmo a nível nacional", lamenta o jovem, minutos antes de mais uma viagem pelas poucas estradas asfaltadas da cidade.

O coração de Nacala é a infraestrutura portuária, assumido como o maior porto natural de águas profundas da costa oriental africana e, por isso, quase todos os negócios da cidade concentram-se nos arredores daquela infraestrutura, sobretudo os informais, como o "taxi-mota".   

Para Isac e os milhares de jovens moto-taxista de Nacala-Porto já era um trabalho arriscado, tentando ganhar a vida carregando passageiros, por vezes mais de um, em vias esburacadas e esquivando-se da polícia, tendo em conta que a maioria tem quase sempre um documento em falta, além de deixarem sempre os capacetes em casa.

Agora, a maioria teme pela vida, mas é necessário fazer-se à estrada para garantir a próxima refeição.

"É um risco que acabamos assumindo para sobreviver. Eu tenho mulher e filhos para alimentar", acrescenta Isac Basílio.

O modo de operar dos criminosos é diversificado, mas os ataques aos motociclistas são quase sempre com recurso a faca ou catana.

"Eles fingem que precisam dos nossos serviços, levam-nos para um ponto isolado e atacam-nos na primeira oportunidade", conta à Lusa Yayuba Assane, 37 anos, outro moto-taxista em Nacala-Porto.

É a mesma estratégia usada em outros pontos do país pelos agressores. Em Sofala, província do centro do país, por exemplo, pelo menos quatro pessoas morreram em ataques contra moto-taxistas, segundo dados disponibilizados este mês à Lusa pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal.

Desde o início destes crimes, há mais de um ano, as autoridades moçambicanas anunciaram dezenas de detenções nas províncias de Nampula, Sofala e Manica (centro).

Quase sempre as vítimas que sobrevivem aos ataques são aconselhadas a procurarem as autoridades, mas, na maior parte dos casos, a medida não é eficaz, já que algumas destas motorizadas estão registadas em nome de terceiros e também porque são vendidas em mercados informais.

"A maior parte de nós aqui tem `boss´. Não são as nossas motos e as receitas normalmente são para eles. Quando a moto desaparece é um problema", acrescenta Yayuba Assane.

Os preços de uma viagem nestas moto-táxi começam nos 50 meticais (0,67 euros) e, face às limitações nos transportes públicos típicas dos centros urbanos moçambicanos, são uma alternativa para a população.

"Nós gostamos deles porque conseguem ser a nossa alternativa de baixo custo", diz Assane Hussene, um vendedor informal que recorre quase sempre às moto-taxi, defendendo o reforço do patrulhamento noturno.

Embora se multipliquem os apelos às autoridades para o reforço da fiscalização, para quem, como Isac Basílio, cruza, noite e dia, as avenidas e ruelas dos centros urbanos destas províncias numa motocicleta para ganhar a vida, o risco é iminente.

"Não temos alternativa, estaremos na rua rezando para não levar com uma catana na cabeça", conclui Isac Basílio.

*** Estêvão Chavisso (texto, vídeo e fotos), da agência Lusa ***

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